‘As IAs vão acabar com nossos empregos?’; pesquisador discute sobre desafios e futuro do trabalho em evento da UFJF
Especialista aponta a necessidade de sistemas éticos de IA e revela que muitos empregos não serão substituídos, mas transformados
Desde o surgimento das Inteligências Artificiais, as famosas IAs, muito se fala do “desaparecimento” de cargos, devido à mecanização que essa nova ferramenta pode promover. Mas será que as maquinas, de fato, vão substituir o trabalho humano?
Durante o Simpósio Brasileiro de Sistemas Multimídia e Web (WebMedia), o pesquisador Daniele Quercia, do King’s College de Londres, abordou a popular preocupação de que a IA substituirá a maioria dos empregos. Ele argumentou que muitas profissões, especialmente aquelas que exigem interação interpessoal, devem permanecer relevantes. Ocupações como docentes e líderes estão entre as que não serão totalmente substituídas, já que as máquinas não conseguem replicar a complexidade das relações humanas.
Na palestra, o especialista compartilhou resultados de um estudo que analisou 17.829 atividades em 749 profissões, indicando que 252 ocupações devem sofrer baixo impacto da IA, como recepcionistas de hotel e professores de Direito. Por outro lado, 492 profissões podem experimentar um impacto médio a alto, incluindo programadores e ortodontistas, onde a automação pode assumir algumas tarefas.
“Há custos residuais que não ficarão a cargo das máquinas. A maioria das ocupações terá algumas tarefas que serão ainda realizadas por pessoas. Os empregos podem mudar, mas a maioria deles deve permanecer. Eles serão um pouco diferentes do que o de costume”, afirma.
O pesquisador também discutiu a urgência de desenvolver sistemas de IA que sejam éticos e sustentáveis. Quercia enfatizou que a Inteligência Artificial Responsável deve obedecer a normas éticas e legais, garantindo a privacidade e a confiabilidade dos dados. Empresas estão, cada vez mais, investindo em governança digital. No entanto, o Brasil sofre da ausência de uma regulamentação específica sobre IA, como a nova Lei de Inteligência Artificial da União Europeia, aprovada em maio de 2024, adicionando um nível extra de complexidade.
Carlos Pernisa Júnior, pesquisador em comunicação e organizador do evento, concorda com as falas de Quercia, e acrescenta que essas medidas regulatórias precisam ser pensadas junto dos trabalhadores, “o funcionário deve ser reconhecido como o principal articulador nessa nova dinâmica de trabalho. É fundamental que a discussão não se concentre apenas na tecnologia, pois as máquinas não substituirão os humanos, em vez disso, servirão como ferramentas auxiliares no dia a dia”, explica.
Por fim, Carlos destaca que, para estabelecer uma relação mais segura com as IAs, é fundamental a criação de uma legislação ética. Além disso, as pessoas devem compreender a dinâmica da sociedade, evitando a formação de um ambiente de trabalho ainda mais assimétrico e hostil. A educação e a conscientização sobre esses desafios são essenciais para garantir um uso responsável e equitativo da tecnologia.
*estagiária sob supervisão da editora Júlia Pessôa