Paradoxos da modernidade
O avanço da tecnologia continua contrastando com a pobreza que se espalha pelo mundo, impondo um desafio para os governos nacionais e para a sociedade como um todo
Ao mesmo tempo em que o mundo comemora o avanço da tecnologia, principalmente no espectro digital com o incremento da inteligência artificial, há, por outro lado, um paradoxo. Relatório da Organização das Nações Unidades para a Alimentação e Agricultura (FAO) destacado ontem pelo jornal “O Globo” aponta que, a despeito de os dados estarem estagnados entre 2021 e 2022, muitas regiões enfrentam crises alimentares cada vez mais profundas, sobretudo a Ásia Ocidental e todas as sub-regiões da África.
Embora o mesmo documento revele que na América Latina houve redução da fome, os números brasileiros ainda são preocupantes, carecendo de atenção especial dos setores público e privado. De acordo com o matutino fluminense, a insegurança alimentar já afeta 70,3 milhões no Brasil, com base nos dados do período de 2020 a 2022. A pandemia, que teve nesse mesmo período o seu ciclo mais grave, é considerada uma das principais causas dessa tragédia humana. Pelos dados,” 9,9% da população brasileira possui insegurança alimentar severa, isto é, ficam sem comida por um ou mais dias.”
A redução desses números é um desafio e tanto para as estruturas de poder, o que só será conseguido por políticas públicas que passam, necessariamente, pela geração de emprego e renda. Como ficou claro, uma parcela importante foi jogada a essa situação após a pandemia, quando o setor produtivo viveu uma de suas maiores crises com o fechamento de indústrias e outros negócios. Num efeito cascata, o desemprego cresceu trazendo consigo todo o tipo de mazela, entre elas a fome.
Na última terça-feira, a Câmara Municipal de Juiz de Fora foi sede de uma audiência pública para tratar especialmente da população em situação de rua, que tem crescido a olhos vistos nas metrópoles, ampliando ainda mais o passivo social. A implementação de programas – como foi anunciado no evento – é um importante passo não apenas para atender tais personagens, mas, por consequência, também reduzir a sua fome. E não é pouca, bastando acompanhá-los nos sinais de trânsito em busca de algum auxílio.
Todo esse processo implica em investimentos profundos, sobretudo por não haver uma fórmula definitiva para esse enfrentamento, embora a economia seja a etapa mais importante, já que, quando ela é pujante, todos os índices melhoram – até mesmo os da democracia.
Ainda de acordo com o Globo, o secretário-geral da ONU, o português Antônio Guterres, afirmou durante o lançamento do relatório na sede da Organização das Nações Unidades em Nova York, que, “apesar de algumas regiões caminharem para alcançar as metas nutricionais até 2030, ainda é preciso um ‘esforço global intenso e imediato’ para eliminar a fome dentro do prazo estabelecido”. Ademais, a fome não espera.