Área degradada às margens da represa João Penido será recuperada
Projeto está alinhado a demanda do setor de aviação, que busca alternativa para promoção da descarbonização
Por meio do Programa Produtor de Águas (PPA) e da Plataforma de Bioquerosene e Renováveis da Zona da Mata (PbioZM), a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) irá iniciar a recuperação ambiental de 8,6 hectares de área degradada às margens da Represa Dr. João Penido. Além de promover a recuperação do manancial, a iniciativa está alinhada à uma demanda do setor de aviação civil, que busca alternativas para promoção da descarbonização. Integrando a proposta, a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) também irá implantar equipamento para produção de biodiesel no Centro Integrado de Ensino, Pesquisa, Extensão, Tecnologia e Cultura (Cieptec) na Região Norte da cidade, a partir da doação do governo britânico, em parceria com a empresa Green Fuels. Os projetos foram anunciados durante transmissão ao vivo na manhã desta sexta-feira (5), na página do Facebook da PJF, em celebração ao Dia Mundial do Meio Ambiente.
A recuperação ambiental nas margens da Represa João Penido será feita a partir do plantio de 600 mudas de macaúba e 14.300 de outras espécies nativas da Mata Atlântica, representando a primeira ação do Programa Produtor de Águas (PPA) em Juiz de Fora. A iniciativa é resultado da doação de plantas e serviços da empresa Geoflorestas, parceira da Plataforma de Bioquerosene e Renováveis da Zona da Mata (PbioZM). Com isto, Juiz de Fora passa a contar com duas unidades técnicas de demonstração, que é a integração da macaúba com outras espécies nativas e o plantio de agricultura sintrópica (forma de cultivo que conserva a mata natural, associando-a à plantação de culturas alimentares) com consórcio de feijão e milho.
Para a recuperação ambiental e implantação das unidades técnicas, houve a contratação de produtores rurais, a fim de envolvê-los e convertê-los em fiscais da área recuperada. Eles também passarão por treinamento em técnicas de manejo agrícola sustentáveis, a fim de serem multiplicadores do projeto. De acordo com o secretário de Planejamento e Gestão (Seplag) da PJF, Rômulo Veiga, 70% da formação territorial de Juiz de Fora é composta por zoneamentos rurais. Entretanto, ao longo dos anos, a área rural perdeu parte da matriz econômica da cidade, com baixa contribuição para o PIB e pouca capacidade de geração de emprego. Desta forma, foi identificada a necessidade de uma política pública para atender esses fatores.
“Nós temos uma mesma área que compartilha todas essas demandas. Através do consorciamento do plantio de florestas de biomassa com produção de alimentos, conseguimos gerar empregos nesse setor, a partir da colheita manual da macaúba, e também de produções para atender demandas de abastecimento do município, além de, nas áreas necessárias de recuperação, fazer plantio de florestas nativas”, explica Veiga.
Projeto promove recuperação ambiental e recarga hídrica de mananciais
O Projeto Macaúba Zona da Mata, que promove a recuperação ambiental de áreas degradadas, foi criado a partir da Agenda de Desenvolvimento Econômico da Zona da Mata, contando com a participação da PJF desde 2011. Além da plantação da palmeira macaúba e da agricultura sintrópica, a iniciativa prevê a pecuária de leite e corte. De acordo com a Seplag, o projeto se transformou em oportunidade para o desenvolvimento sustentável regional, por conta da elevada produtividade de óleo e proteína da macaúba, associada à sua alta capacidade em fixar água no solo, promovendo a recarga hídrica dos mananciais.
O óleo da planta vinha sendo testado pela Plataforma Brasileira de Bioquerosene, a fim de utilizá-lo para produção de querosene renovável de aviação. O potencial da macaúba já foi observado, inclusive, pela aviação civil internacional, que vem buscando alternativas para descarbonização do setor, imposta pelo “Esquema de Redução de Emissões da Aviação Civil” (Corsia, na sigla em inglês), das Nações Unidas.
Com as maiores florestas de macaúba no país, o Governo de Minas criou, em 2014, a “Plataforma Mineira de Bioquerosene”. Como a Zona da Mata se destacou no projeto, em 2018, foi criada, também, a “Plataforma de Bioquerosene e Renováveis da Zona da Mata”. A iniciativa visa a desenvolver, na região, cadeia produtiva integrada para produzir bioquerosene de aviação e diesel verde (HVO), utilizando a macaúba como principal insumo.
Para o prefeito Antônio Almas (PSDB), o projeto reflete a capacidade do município em associar o poder público ao privado e à academia, visto as diversas parcerias estabelecidas para implantação do mesmo. “O enfrentamento das dificuldades socioeconômicas de décadas na Zona da Mata Mineira só será possível com parcerias como essas que celebramos hoje. Vários setores se reúnem e permitem a todos acreditar que poderemos reconstruir um desenvolvimento que seja sustentável, garantindo melhores condições de vida para toda região.”
Participaram também da transmissão o reitor da UFJF, Marcus David; o CEO da Green Fuels, James Hygate; o CEO da Green Fuels para América Latina, Manuel Thompson; o CEO da empresa Acrotech, Felipe Morbi; o CEO Geoflorestas, Leandro Aranha; o diretor de Combustíveis Renováveis da Gol Linhas Aéreas e da União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene (Ubrabio), Pedro Scorza; e o diretor de Políticas Regulatórias da Secretaria Nacional de Aviação Civil, Ricardo Sampaio da Silva Fonseca.
UFJF deve implantar equipamento para produção de biodiesel
Durante a transmissão, foi anunciada a implantação de equipamento para produção de biodiesel no Cieptec, unidade da UFJF a ser criada na Região Norte de Juiz de Fora. Como destacou o reitor da Universidade, Marcus David, a instituição está em tratativas com a Green Fuels para definir o projeto de pesquisa e implantar o equipamento, cedido pelo governo britânico. “Estamos considerando a possibilidade de, talvez, fazer com que essa seja a primeira ação realizada no nosso Centro Integrado de Tecnologia”, diz.
Ainda segundo o reitor, a UFJF também está dialogando com a Agência Alemã de Cooperação Internacional a respeito da viabilidade de instalação de uma unidade experimental para desenvolvimento de querosene de aviação. A iniciativa se enquadra no projeto de um centro de pesquisas sobre combustíveis alternativos sem impactos climáticos.
De acordo com o CEO da Green Fuels para América Latina, Manuel Thompson-Flôres, a planta GSX3, que irá produzir o biocombustível, tem capacidade para três mil litros. Pesquisadores da empresa atuarão juntamente com os da UFJF para o desenvolvimento das análises em Juiz de Fora. “Isso é importante porque vai certificar não somente a qualidade do produto biodiesel, que vem para descarbonizar a frota da Prefeitura (Cesama, Demlurb, Empav, e da frota da própria Universidade), mas também é um passo inicial importante para o próximo segmento, que seria produção de HVO e de bioquerosene no Centro de Pesquisa.”
Ainda conforme Manuel, a planta está finalizada para embarcar. Além do equipamento, a empresa irá doar mais de 10 mil mudas de macaúbas para serem implantadas nas margens da Represa Dr. João Penido, juntamente com as cedidas pela Geoflorestas.