Após redução da frota, usuários relatam lotação de ônibus em JF
Settra diminuiu em 20% carros e horários das linhas; Executivo admite possibilidade de mudanças
Os usuários do transporte coletivo urbano de Juiz de Fora enfrentaram, nesta quinta-feira (19), maior lotação nos ônibus em relação aos dias anteriores, devido à redução da frota de veículos e seus horários, determinada pela Secretaria de Transporte e Trânsito (Settra). Como os horários das linhas foram limitados, os passageiros registraram, em diversas regiões da cidade, aglomerações tanto em coletivos quanto em pontos. A medida fora implementada pelo Executivo em razão da crescente queda da demanda pelo transporte público, desde o último sábado (14), após a suspeita e a confirmação dos primeiros casos de coronavírus (Covid-19) em Juiz de Fora. Contudo, desde que anunciada, a determinação enfrenta resistência dos usuários por conta do previsível aumento de passageiros por veículo. Em nota à Tribuna, a Settra pondera que está monitorando a situação e admite a possibilidade de novas mudanças conforme o comportamento dos passageiros e do avanço da Covid-19.
Além da higienização pessoal, o distanciamento social é uma das principais medidas de prevenção recomendadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A advogada Marina Brinati esperou por seu coletivo por volta das 11h30, próxima ao Parque Halfeld, “mais tempo do que de costume”.
“Quando o ônibus passou, já estava lotado. Ontem à noite também já reparei a mesma situação. Normalmente, os ônibus estão sempre cheios, mas não tanto quanto nesses dias. E, como sempre há mais horários disponíveis nos dias normais, temos mais possibilidades. Às vezes, passa um ônibus muito cheio, mas temos a possibilidade de pegar outros. Já agora está bem reduzido. Ou pegamos (o ônibus cheio) ou esperamos mais 30, 40 minutos no ponto para pegar outro cheio.”
O analista de infraestrutura Frederico Ferreira Lage endossou a percepção de Marina. Para ele, os ônibus estão levando maior tempo para passar em razão da adoção dos horários de sábado nos dias úteis. “Por volta das 6h40, entrei em um ônibus da linha 135 (Parque Guarani/Sagrado Coração de Jesus) no sentido Centro, que estava cheio, com várias pessoas respirando no mesmo espaço. Quando cheguei ao Centro, embarquei no 524 (São Mateus), que já estava mais vazio. Não vi ninguém com máscaras ou usando álcool em gel no percurso. Percebo que todo mundo está andando sem preocupação.”
O técnico em telecomunicações Leandro Sbano, embora tenha percebido ônibus mais vazios no início da semana, já sentiu a mudança. “Peguei ônibus às 7h20, saindo do Eldorado em direção ao Centro, cerca de quatro quilômetros. (…) Hoje, com o horário de sábado, o ônibus estava mais cheio do que o normal. Ninguém de máscara e luvas, tanto passageiros quanto funcionários. A precaução que eu tomo é usar de apoio no transporte coletivo apenas a minha mão esquerda. Porque se caso eu me distrair e coçar olhos ou nariz, a tendência é ir com a mão direita.”
Uma auxiliar de serviços gerais, que preferiu não se identificar à Tribuna, saiu a trabalho do Bairro Ponte Preta rumo ao Centro, às 6h30, em coletivo lotado. “Peguei ônibus lotado no Santa Cruz, porque tinha menos horários. Normalmente, passaria um ônibus às 6h, 6h10, 6h18 e 6h25. Hoje, só passou o de 6h30 depois do das 6h. Então, o de 6h30 foi para lotação de quatro horários diferentes. Todos os assentos estavam ocupados e tinha muitas pessoas em pé. É pouco ônibus, e a população do bairro é muita. Por enquanto, esta medida não está ajudando em nada.” Ainda de acordo com a auxiliar de serviços gerais, o ponto de ônibus onde esperava a linha 722 (Santa Cruz) estava lotado, pois todos esperavam o mesmo ônibus.
O jornalista Luis Felipe Cardoso, por sua vez, programou-se para tomar o ônibus de 8h30, no Bairro Jardim Esperança, para trabalhar na região central. Entretanto, notou o aumento de passageiros na linha em relação aos dias anteriores. “Nos dias anteriores, não havia ninguém sentado do lado de outro passageiro praticamente. Hoje (quinta), todos os assentos já estavam ocupados e havia pessoas em pé. Não estava lotado, mas sim mais cheio do que nos outros dias. (…) O ônibus não demorou porque acompanhei o horário no aplicativo.”
A exemplo de Luis Felipe, embora não tenha pegado coletivo lotado como em dias normais, a técnica em saúde bucal Simone Ribeiro percebeu maior número de passageiros em relação ao período anterior à medida de redução da frota. “Moro no Bairro Santa Catarina. O meu ônibus veio para o Centro com mais pessoas, mas não estava lotado. Estavam vindo somente duas ou três pessoas, mas, hoje (quinta), já havia dez, 15 pessoas. Eu peguei o ônibus de 6h35. Em dias normais, teria tido outros dois depois das 6h. Acho que não estamos tendo uma medida sanitária, mas, sim, financeira.”
‘Monitorando a situação’
Em nota à Tribuna, apesar não ter descartado novas intervenções na circulação dos coletivos, a Settra reforçou que a medida fora implementada após a realização de estudo técnico a partir dos números de bilhetagem eletrônica. “A Settra informa que a mudança foi realizada após estudo técnico verificar uma redução de 34% no número de passageiros, de acordo com a bilhetagem eletrônica. Esta quinta-feira (19) foi o primeiro dia da mudança, a Settra está monitorando a situação e poderá realizar mudanças dependendo do comportamento dos usuários e da evolução da Covid-19.” Na última segunda (16), o decréscimo de usuários registrado pelas concessionárias Manchester e Via JF foi de 18%. Já nesta terça, o índice subiu para 34%. Conforme a Settra, não há dados referentes à quarta.
Em entrevista ao programa Pequeno Expediente, da Rádio CBN/Juiz de Fora, veiculada nesta quinta-feira, o prefeito Antonio Almas (PSDB) reiterou que serviços essenciais, como o transporte coletivo urbano, precisarão ser mantidos. Questionado sobre as queixas dos usuários a respeito da redução implementada, Almas pontuou que “os ônibus devem ser usados apenas em caso de necessidade. Se as pessoas ficarem em casa, os veículos vão ficar vazios”.
Em ofício encaminhado às concessionárias, a Settra recomendou ainda a adoção de medidas de prevenção específicas à Covid-19 para a higienização dos carros, recomendadas pelo Departamento de Vigilância Epidemiológica e Ambiental da Secretaria de Saúde, conforme o secretário de Transporte e Trânsito, Eduardo Facio. “A higienização dos ônibus é feita diariamente pela empresa, mas nos padrões normais de serviço. Agora, não. Há toda uma orientação diferenciada. A indicação é que façam três vezes ao dia.”
A orientação é intensificar a higienização das superfície de objetos, paredes e lixeiras por meio de pulverização, limpeza ou imersão com desinfetante de cloro ou desinfetante de dióxido de carbono por 30 minutos e, depois, enxágue com água limpa. Nesta quinta, o grupo CSC Transporte e Logística, proprietário da Auto Nossa Senhora Aparecida Ltda. (Ansal), espalhou cartazes informativos sobre a Covid-19 nos pontos de ônibus.
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