Cantora de Barbacena, Clara Castro faz sua estreia com “Caostrofobia”
Disco chega às plataformas digitais nesta sexta (20), mesmo dia em que cantora faz show em JF. Distribuição da gigante Som Livre revela artista sensível e multifacetada
Para alguns é apenas Ana. Para outros, Clara. Na certidão, Ana Clara. Já quis ser administradora, depois artista visual e hoje estuda ciências sociais. Também quis ser astronauta, mas definiu que seria escritora. Fez curso de atuação em cinema para se aperfeiçoar como atriz logo depois de se aprimorar como cantora, na Bituca, quando fazia residência no teatro do Ponto de Partida. Clara Castro é muitas e é apenas uma. É o caos de muitos desejos e a fobia de não poder ser uma coisa só. Aos 23 anos, a artista reúne todas as suas faces em “Caostrofobia”, disco que chega nesta sexta, 20, às plataformas digitais pelo selo Nomad Produções, com distribuição da Som Livre. No mesmo dia, a cantora se apresenta em Juiz de Fora na inauguração da nova sede do espaço cultural Sala de Giz. “Acho muito difícil separar. O teatro é muito importante. Interpretar uma música é ter um texto nas mãos. É poderoso ter esse recurso. E estar no palco fazendo teatro é a melhor coisa do mundo, também. Escrevo as letras, escrevo muito. Carrego um caderno comigo, e estou doida para lançar um livro de poemas. Tudo está misturado em mim”, reforça.
O que aproxima todas as formas de Clara ser e estar é a poesia. “Tenho uma relação muito forte com a palavra. A literatura, a poesia entraram muito cedo na minha vida. Eu quis ser astronauta, mas quando vi que não era possível, decidi ser escritora, aos 10 anos. Sempre gostei de ler, e era muito curiosa”, diz. “Quando nasci, a primeira coisa que minha mãe me deu foi uma poesia”, acrescenta ela, apontando para Glória, autora dos poemas de “Gênesis” e parceira na faixa “Corpo só”, além de inspiração como uma das mais potentes vozes da Barbacena natal. Empresária e produtora, a mulher carinhosamente chamada por Gogóia já ocupou o cargo de presidente da Fundação Municipal de Cultura de Barbacena (Fundac) e administrou, por muitos anos, o Cine-Theatro Apollo de sua família. Na casa de quase 700 lugares, a mãe de Clara conheceu Amaury Linhares, produtor de nomes de peso da música nacional.
Em meados de 2017, Clara mudou-se para Nova York. Na bagagem levava os planos de estar para se tornar atriz de cinema. Um telefonema de Amaury tirou-lhe do percurso. Ele indicava a ela um amigo dono de um estúdio, que prontamente a jovem procurou, se apresentou e acabou gravando a faixa “Sobe o sol”, cujo clipe também tem lançamento nesta sexta. Passado alguns meses, ao regressar da viagem, Clara estreitou ainda mais os laços com o produtor e sua filha, que apresentaram-lhe, então, o arranjador, compositor e guitarrista Rodrigo Campello, que assina a produção musical de “Caostrofobia”. “A gente se deu muito bem. Mandei 25 músicas para ele, minhas e do Nathan (Itaborahy), que gravamos em casa, num esquema bem arcaico”, conta. Em conjunto chegaram a oito canções, fizeram a pré-produção do disco, até que Rodrigo sugeriu que entrassem mais duas faixas, entre elas “Um trem para as estrelas”, de Gilberto Gil e Cazuza, que tem uma leitura genuína e fresca.
“Participamos de todo o processo. O Rodrigo tem uma personalidade muito própria no som que ele faz, e isso incorporou demais no que acreditamos da música, que não deve ser de tudo limpo, mas precisa de uma sujeirinha, de uns barulhinhos”, descreve a cantora, dona de uma voz tão doce quanto expressiva. “O disco foi feito de um jeito muito verdadeiro. Não tínhamos que seguir nenhuma cartilha, então fizemos da forma que quisemos. As músicas dizem tudo de mim. Só dizem. São vários os momentos que estão ali, porque meu processo criativo é muito pessoal. Vivo algo e escrevo. Ou, presencio algo e escrevo. No disco, sou eu escancarada.”
Toda enamorada
A canção-título, “Caostrofobia” é uma das três faixas, das 11 do álbum, que Clara Castro não assina. Os juiz-foranos Nathan Itaborahy, seu namorado, e Renato da Lapa, ambos integrantes da banda Blend 87, são os autores da música que, nas palavras de sua intérprete, representa “o caos da criação num apartamento, daquela claustrofobia de estar num lugar fechado se afetando pelo mundo. Como estar num espaço pequeno que não te cabe”. Imagens que servem também ao todo do disco. “O CD tem música romântica, samba feminista, ao mesmo tempo, tem uma menina derretida e apaixonada, além da dor e do recolhimento. Isso representa o caos que está aqui dentro o tempo inteiro”, diz Clara, apontando para o coração.
Poeta e músico, Nathan Itaborahy participa do trabalho em quatro inspiradas canções e tocando bateria, percussão e violões em algumas faixas. “Ele se envolveu tanto quanto eu. Desde o primeiro dia, ele está por dentro. Então, tem muito a cara dele. Vivemos um momento muito bom da nossa relação profissional e pessoal”, comenta ela, lembrando da despretensão de quando ele mostrou-lhe “Inverno astral” (dele com Douglas Poerner), primeira música de trabalho. “Tem uma conexão artística que está crescendo e se fortalecendo muito entre nós. Estamos encontrando uma linguagem juntos”, afirma, às voltas com a preparação do show “Caostrofobia”, que estreia em setembro, após o lançamento físico do álbum. Entre autorais e releituras, o espetáculo que estreia em Barbacena e depois acontece em Juiz de Fora vai contar com banda formada por baixo, bateria, percussão, violão e guitarra.
“Estamos conseguindo montar uma equipe não só muito profissional como também que acredita no som e vai poder girar com o trabalho. Quero me apresentar em lugares pequenos ou grandes, levando meu som, trabalhando o disco. Acabamos de terminar um CD, mas já estão surgindo muitas outras músicas. Minha expectativa é correr o mundo”, anima-se ela, dono de sorriso fácil, a revelar-lhe toda a humildade e honestidade de uma artista em pleno contato com sua essência. “A gente vai se adaptando às oportunidades que temos, mas a essência precisa ser mantida”, diz ela, que logo no primeiro trabalho recebe o acompanhamento de feras como o baixista Alberto Continentino, que já tocou com Milton Nascimento e integra a banda de Caetano Veloso, além de ser aposta de uma das maiores gravadoras do país, a Som Livre, responsável pela distribuição do álbum.
“Tudo o que estou vivendo é maravilhoso, mas ao mesmo tempo me forço muito a voltar ao pensamento de que a música que faço é algo maior que eu. Espero que muita gente conheça meu trabalho. E ao mesmo tempo em que sinto que isso pode mexer comigo, sinto mais vontade de ser eu mesma, representando tudo o que acredito, a sensibilidade. É muito difícil quando a música se transforma num negócio, mas existe um mercado, e isso é legítimo, porque o artista come e paga contas. Quero, então, permanecer inquieta. Vejo os grandes artistas que são minhas referências – Gil, Caetano, Lenine e muitos outros: eles são inquietos, nunca estão plenamente satisfeitos e querem fazer mais”, exemplifica, sorrindo, a jovem, para em seguida concluir: “Independentemente de falar para o mundo inteiro ou só para uma pessoa, quero sempre estar me buscando.”
CAOSTROFOBIA
Lançamento de Clara Castro, nesta sexta, 20, nas plataformas digitais. Show na inauguração da nova sede da Sala de Giz, neste sábado, 21, das 17h às 23h (Rua Mariano Procópio 65, Centro)