Quem quer ser mecenas do rock independente de JF?
Projeto Rock Pé no Chão quer trazer bandas da cena nacional para a cidade por meio de crowdfunding
O Rock Pé no Chão é um trato de bandas do underground juiz-forano que querem driblar todas as frustrações (de desculpas que todos já sabem), sobre falta de espaço para bandas autorais, cachê zero, falta de infraestrutura e apoio, e botar para fazer. É a desglamourização dos eventos de rock, reunindo bandas locais e regionais, mas sempre buscando trazer algum nome de fora para essa infiltração sonora em casas alternativas ou espaço público. “Hoje em dia isso está fraco. Em Juiz de Fora, já houve um circuito muito mais rico, e a gente está tentando fortalecer o intercâmbio de bandas. Aqui tem muito projeto que geralmente não roda em outras cidades, quanto mais banda de fora a gente trouxer, mais as locais vão se sentir estimuladas em sair”, comenta Guilherme Guina, músico e organizador do Rock Pé no Chão.
A banda Surra (SP) traz em seus principais lançamentos nomes como “Tamo na merda” (2016) e “Somos todos culpados” (2015), sentimento reincidente em “Ainda somos culpados”(2018). Com letras que não deixam o medo desdizer, são questionadores crus, cruéis e isentos de dissimulação. O trio formado em Santos pelo vocalista e guitarrista Leeo Mesquita, o baixista e vocalista Guilherme Elias e o baterista Victor Miranda se apresentam como thrash punk antifascista. Um gênero hardcore mesclado a uma ideologia encravada nas letras cantadas acima da velocidade. Sem censura em expor nomes de políticos já tão sujos quanto os próprios xingamentos empregados pelos vocais de Leeo e Guilherme.
Na próxima edição do Rock Pé no Chão, prevista para acontecer no sábado, 11 de agosto, no Necessaire, sobrado na Rua Halfeld parte baixa, os produtores culturais do evento e integrantes das bandas estão buscando viabilizar a vinda da Surra por meio de um financiamento coletivo na plataforma Catarse. As doações, com recompensas como sorteio de kit de cerveja e tatuagem, estão sendo feitas pelo site catarse.me/surraemjf. Na descrição da campanha, quem doa R$ 120 torna-se o mecenas do rock independente de Juiz de Fora e ganha uma balada com os organizadores do Rock Pé no Chão no Bar e Lanches Krismara. Audaciosos, não?
Line up
A abertura conta com a estreia da banda Descaminho, formada por Jorge (vocal), Catatau (guitarra), Luis Alberto (baixo) e Donald (bateria), todos de Juiz de Fora. Um hardcore para quem gosta de Ratos de Porão, Solstício e tem saudade de ver um legítimo show incandescente. O trio Caiau, de Xurume (bateria), Thiago (vocal/guitarra) e Guilherme “Guina” (baixo), tem seu som descrito em release como aquele que “vai do hardcore melódico aos breakdowns guturais, sem perder a leveza do mantra e os vocais que se alternam na dinâmica sonora dos neandertais”. Além de músicos, são artistas rupestres.
A banda Traste, que comemora cinco anos em 2018, entra na sequência com som pesado, calcado no punk e hardore, passando pelo stoner rock, com roupagem grunge e atitude do movimento faça-você-mesmo. Ri da cara do Facebook no espaço dedicado a ser preenchido com o nome de uma gravadora, porque na Traste tudo é criado artesanalmente pelas mãos de quem compõe, grava e faz show. Seus membros são Guilherme “Guina” (vocal/guitarra), Felipe Spinelli (bateria) e Alex Badaró (baixo), e possuem três EPs lançados em seu canal do Youtube.
Ruptura de um hiato
Há três anos, a banda goiânia Hellbenders lotou a Praça São Mateus para um show realizado com arrecadação prévia de quem estava lá para assisti-los. Foi em um espaço público, então com perfil diferente do que está sendo feito agora. “Está difícil, hoje em dia, de se fazer evento em praça. O Necessaire é um espaço novo, e quem participar do crowdfunding já tem ingresso garantido para entrar”, explica Guina. A ideia dos realizadores é fazer o público encarar os shows como participantes, apoiadores da organização, e não somente passivos. O show só acontece se o público comprar a ideia de antemão.
“A gente quer tornar uma constante de novo, como foi anos atrás. Para que aconteça, também, uma formação de público. Ainda que não exista uma galera sedenta, trazendo bandas direto, espero que role uma movimentação maior”, afirma Guina, destacando que a aposta do projeto é sempre viabilizar a vinda de bandas de pequeno e médio porte, que rodam em um circuito underground no Brasil.