Redação do Enem deve abranger temas sociais e políticos
Orientação de professores é para que candidatos falem sobre o problema exposto pela prova e argumentem sobre possíveis soluções. Prova acontece neste domingo
A redação é uma das principais preocupações dos candidatos ao Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). A prova pode eliminar o concorrente caso haja fuga ao tema proposto ou outras infrações às regras estabelecidas pelo Ministério da Educação (MEC), e é considerada um fator importante para quem deseja ingressar no ensino superior. Isso porque a redação vale mil pontos, fator decisivo, principalmente, para o ingresso pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu), no qual poucos pontos podem fazer diferença.
Além da importância para o exame, a redação abrange temas sociais, políticos, culturais em voga no Brasil ou no mundo, o que pode causar insegurança nos candidatos. No entanto, o tema pode não ser um “bicho de sete cabeças”, e alguns passos simples podem ajudar. Convidados pela Tribuna, dois professores de Língua Portuguesa dão dicas para o alcance de uma boa pontuação na prova, que acontece neste domingo (5), em todo o país.
Por abranger questões polêmicas, o tema, revelado apenas na hora da prova, causa ansiedade. Mas, segundo o professor de Língua Portuguesa do Colégio Equipe, Wuilton Paiva, apesar da tensão, o aluno deve deixar essa preocupação de lado. “Sempre trabalho com meus alunos a ideia de que adivinhar o tema é o menos importante. É um leque muito amplo de opções. Não tem como adivinhar qual tema será, mas o candidato tem que pensar que qualquer um dos assuntos que possa cair será sobre algo que tem condições de escrever, pois se preparou durante o ano todo.”
No entanto, de acordo com ele, alguns se sentem mais seguros realizando uma última revisão dos conteúdos possíveis um dia antes da prova. Por isso, ele orienta os inscritos a buscarem informações acerca de temas que eles acreditam não ter domínio algum. “Não sei se buscar temas possíveis e fazer uma leitura de todos eles de última hora é benéfico, se deixa o aluno mais tenso ou se ajuda na prova do dia seguinte. Mas se há algum tema possível de cair na prova e ele não tem domínio sobre o assunto, é importante que, mesmo sendo véspera, ele faça uma leitura de última hora, pois não saber nada sobre algum assunto é muito arriscado. Porém, acho que não é preciso ter esse tipo de ansiedade, pois um aluno do terceiro ano do ensino médio tem conhecimento. Se o candidato se sentir assim com relação a todos os temas, deve relaxar, pois é uma insegurança infundada.”
Possíveis temas
Questionado sobre as apostas de temas possíveis para a redação deste domingo, o professor acredita não haver mudanças muito significativas com relação a temas de edições anteriores. “A redação do Enem sempre teve temas sociais, políticos ou culturais e não fica restrita à prova: o assunto é analisado nas mídias e debatido por pessoas que nem se candidataram ao exame, sendo abordada na sociedade de forma geral. Por isso, tenho apostado em questões relativas à educação, por conta das reformas que o Governo tem tentado fazer e que encontram resistência em alguns momentos”, explica.
Segundo o professor, as possibilidades são variadas. “Na área de saúde, acredito que a obesidade e o aumento das doenças sexualmente transmissíveis entre os jovens sejam temas possíveis. Já alguns sites especializados têm apostado na homofobia, visto que, nas últimas três redações, os temas foram relativos ao combate a algum tipo de violência, como racismo, intolerância religiosa e violência contra mulher. Meio ambiente, mobilidade urbana e recursos hídricos também são assuntos prováveis.”
A professora de Português do 3º ano do Ensino Médio do Colégio Granbery, Ana Gabriela da Costa Lara Medeiros, também acredita que o tema possa estar relacionado ao meio ambiente ou a questões relativas às minorias no contexto social. “Os temas do Enem estão sempre relacionados a algum problema social ou sócio-ambiental. Nessa perspectiva, podemos pensar em temas que vão trabalhar a questão das minorias, como idosos, homossexuais, transexuais, índios e presos, como a reforma do sistema prisional, a questão da inclusão e da acessibilidade para pessoas com deficiência. Além disso, pode ser um tema sobre o meio ambiente, como o problema do lixo no Brasil e no mundo.”
Conforme a professora, independentemente do tema, a dica é analisar um problema e propor soluções. “É interessante fazer uma análise das últimas provas. Podemos perceber que todos os temas vão estar voltados para a discussão de um problema no Brasil. Então o aluno precisa analisar essa questão e pensar em propostas de solução para ela.”
Professores dão dicas para uma boa redação
Fazer uma redação nota mil no Enem é o objetivo de milhões de candidatos. Porém, alguns fatores devem ser observados para que a redação de 30 linhas seja considerada um bom texto pela banca que vai corrigir a prova. Segundo o professor de Língua Portuguesa Wuilton Paiva, o texto deve ser escrito no formato dissertativo-argumentativo. Além disso, é preciso atender as cinco competências exigidas pelo Enem: demonstrar domínio da norma culta; relacionar o tema com outras áreas do conhecimento; organizar os argumentos em defesa de um ponto de vista; aplicar mecanismos que conferem coesão ao texto; e elaborar uma proposta de intervenção para o problema retratado, respeitando os direitos humanos.
A questão referente à última competência causou polêmica nesta semana. Uma das regras do edital do Enem era a necessidade de respeitar os direitos humanos, eliminando automaticamente o aluno que não cumprisse a norma. No entanto, uma decisão judicial do Tribunal Regional Federal da 1ª Região anulou esta parte do edital. O impasse causou dúvidas em candidatos de todo o país, mas, segundo o professor, a orientação é não fugir à regra anteriormente definida. “Sendo professor e cidadão, sempre aconselho os alunos a não ferirem nenhum direito humano, porque independentemente de estar liberado ou não, o Enem mantém uma linha de abordar temas que são polêmicos, mas que direcionam o caminho que o texto tem que seguir. Se os temas são relacionados ao combate à violência, por exemplo, não tem como o aluno ter uma boa nota se não fizer uma defesa dessa questão”, pontua.
Outra dica do professor é deixar a tese bem clara já na introdução do texto e fazer a redação antes das outras provas. “O candidato pode começar optando por fazer uma abordagem do tema e apresentar a tese. Outra orientação é se utilizar da possibilidade de fazer um esboço do texto antes da redação final. Muitos candidatos já começam escrevendo a redação toda e não usam o espaço da folha de rascunho para fazer um mapa mental. Junto com o tema vem um brainstorming, e, se o concorrente colocar tudo no papel sem fazer uma organização mental, o texto pode ficar desconexo. Além disso, ele corre o risco de lançar várias questões sem fechá-las. Por isso, é preciso enumerar bem as causas do problema e os argumentos. Só então o aluno deve começar a escrever.”