‘Preacher’, a série abençoada de boa

Por JÚLIO BLACK

Oi, gente.

Adaptar histórias em quadrinhos para o cinema ou televisão pode ser o Cão da Depressão para quem se mete nessa empreitada. Imagine, então, quando alguém decide fazer a versão televisiva de “Preacher” – uma das HQs que redefiniu o conceito de quadrinhos adultos nos anos 90 -, lançada pela rede americana AMC no meio do ano e ainda sem previsão de chegada ao Brasil. Para nosso alívio, o resultado foi bom, muito bom, definitivamente excepcional.

Para quem não conhece, senta que lá vem história. “Preacher” é obra de Garth Ennis (roteiro) e Steve Dillon (arte) e foi publicada pela Vertigo entre 1995 e 2000. Ela conta a história do pastor Jesse Custer, marcado por uma série de tragédias e com todas as dúvidas do mundo a respeito de sua fé. Ele é possuído durante um culto por um ente sobrenatural, o Gênesis, que resulta na morte de todos os fiéis presentes. Custer descobre, então, que a criatura lhe deu o poder da Palavra, fazendo com que as pessoas obedeçam todas as suas ordens.

Depois, Custer arrancou de um anjo a informação de que o Gênesis fugiu do Paraíso e é o resultado da união entre uma criatura do Céu e outra do Inferno, tão poderosa que fez Deus desistir da humanidade e abandonar o Paraíso. O agora ex-pastor decide sair pelo mundo à procura do Criador para cobrar sua responsabilidade com a humanidade, tendo como companhia a namorada Tulipa O’Hare e o vampiro irlandês Cassidy, bom de briga, bebida e uso de drogas de todo tipo. Ao mesmo tempo, o Céu envia um matador sobrenatural, o Santo dos Assassinos, para dar cabo de sua vida, e Custer terá que lidar com a polícia e uma organização secreta, o Graal, que perpetua de forma secreta a descendência de Jesus Cristo, mesmo que isso resulte em um Messias deficiente mental.

Um dos motivos para “Preacher” ter demorado tanto para chegar ao audiovisual é simples: a quantidade industrial de humor negro, pirações, perversões e outras coisas doentias saídas da mente de Garth Ennis. A lista não é pequena: ela inclui canibalismo, heresia, pedofilia, violência, zoofilia, bulimia, endogamia (acasalamento entre pessoas com ligações de parentesco, o que gerou o descendente de Jesus com problemas mentais), mutilações, escatologia, racismo, “carnefilia”, psicopatia… E a lista não termina, tanto que é difícil acreditar que tudo que foi visto nos quadrinhos apareça na TV – afinal, “Preacher” sempre andou no limite do que é irreverência e o que é bizarro, chegando aos limites do mau gosto.

Mas o trio Seth Rogen, Sam Catlin e Evan Goldberg resolveu arriscar e conseguiu convencer tanto a DC (editora da linha Vertigo) quanto Dillon, Ennis e a AMC, que bancou a produção da primeira temporada, com dez episódios. Ainda que os fãs hardcore (chatos) tenham reclamado das diferenças entre o original e a adaptação, a primeira temporada de “Preacher” foi excepcional, com bom público nos Estados Unidos (média de 3,3 milhões de telespectadores por episódio) e uma segunda temporada já garantida.

Se o primeiro episódio foi morno, os ponteiros foram se ajustando à medida em que a história era desenvolvida e entendemos aonde os produtores queriam chegar. Ao contrário dos quadrinhos, que logo de cara colocavam Jesse Custer (Dominic Cooper) à procura de Deus, Rogen, Catlin e Goldberg entregaram o MacGuffin da série aos poucos, adiantando o aparecimento de alguns personagens, inserindo outros que não existiam nas HQs, juntando a ação inicial em apenas uma cidadezinha caipira do Texas e mantendo o espírito da série, mas num formato um pouco mais comportado. O que não impediu, por exemplo, que personagens como o Santo dos Assassinos (Graham McTavish), Cassidy (Joseph Gilgun), Odin Quincannon (Jackie Earle Haley) e o intraduzível Arseface (Ian Colletti) parecessem ter saído do papel diretamente para a TV. Mesmo quando alguns personagens tiveram parte de suas origens modificadas, casos do protagonista e de Tulipa (Ruth Negga), isso não foi o incômodo que parecia no início.

Com um final de temporada arrebatador, é hora de esperar pelo segundo ano e acompanhar a procura do trio de protagonistas por Deus, a caçada do Santo dos Assassinos e a torcida para que personagens como Herr Starr, Jesus DeSade, Grande Pai d’Aronique, o Retalhador Picador e os maluquetes do Les Enfants du Sang também apareçam em algum momento.

Vida longa e próspera. E obrigado pelo peixes.

Júlio Black

Júlio Black

A Tribuna de Minas não se responsabiliza por este conteúdo e pelas informações sobre os produtos/serviços promovidos nesta publicação.

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade pelo seu conteúdo é exclusiva dos autores das mensagens. A Tribuna reserva-se o direito de excluir postagens que contenham insultos e ameaças a seus jornalistas, bem como xingamentos, injúrias e agressões a terceiros. Mensagens de conteúdo homofóbico, racista, xenofóbico e que propaguem discursos de ódio e/ou informações falsas também não serão toleradas. A infração reiterada da política de comunicação da Tribuna levará à exclusão permanente do responsável pelos comentários.



Leia também