Audiência pública debate acessibilidade para PcDs em Juiz de Fora
Debate acontece quatro dias após o Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência, quando parlamentares desceram a Rua Halfeld vendados, com guias e em cadeiras de rodas, para se aproximarem da realidade enfrentada por estas pessoas
Quatro dias após os vereadores da Comissão de Defesa da Pessoa com Deficiência, da Câmara Municipal de Juiz de Fora, descerem a Rua Halfeld de olhos vendados e cadeiras de rodas, na tentativa de se aproximarem da realidade vivida diariamente pelas pessoas com deficiência na cidade, os parlamentares ouviram as demandas deste grupo em audiência pública realizada na tarde desta segunda-feira (25). No dia 21 de setembro, foi lembrado o Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência.
A audiência foi requerida pelos vereadores Maurício Delgado (União), Bejani Júnior (Pode), Juraci Scheffer (PT), Laiz Perrut (PT), Nilton Militão (PSD), Tallia Sobral (Psol) e Tiago Bonecão (Cidadania). Os parlamentares integram a Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência. Durante a abertura, Maurício Delgado, presidente da comissão, cobrou do Executivo o avanço de políticas públicas para pessoas com deficiência e ressaltou a importância de ouvir quem sofre com os problemas de acessibilidade no dia a dia.
Militante há quase 30 anos da causa, Maria Valéria de Andrade, vice-presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência, ressaltou que os direitos dessas pessoas “estão sendo violados cotidianamente”. “O meu impedimento pode ser maior ou menor de acordo com as barreiras de atitude comunicacional e física. A dificuldade hoje não é só minha, é também da sociedade. A principal barreira que interfere nas políticas públicas é o olhar não inclusivo, mas um olhar ainda da assistência, da ajuda. Nós não queremos ajuda! Nós queremos equiparação de oportunidades.”
Para o paratleta Alexandre Ank, “não se deve inventar nada sobre acessibilidade, mas analisar e adequar”. Como membro do conselho municipal, ele comenta que trabalha em um projeto para que a Câmara disponibilize um setor de atendimento para todos, em especial, pessoas com deficiência, a fim de informar sobre seus direitos e como exercê-los.
Dificuldades em vários níveis
A dificuldade de transitar nas ruas e de utilizar o transporte público foi uma queixa recorrente. Morador da Zona Norte, Jean Rocha, que é usuário de cadeira de rodas, reclama das condições dos passeios. Ele citou, também, quedas sofridas no elevador do ônibus, segundo ele, por falta de manutenção. “Além disso, motoristas têm deixado pessoas com deficiência para trás constantemente.”
Problemas no atendimento oferecido pela saúde pública municipal também foram citados. Luciene Martins, assistente social do Instituto de Mediação Psicologia e Pesquisa (Imepp), relatou a dificuldade de agendamento para as pessoas atendidas pelo instituto. “Pessoas com deficiências visuais que moram no São Pedro e no Caiçaras, por exemplo, precisam levantar de madrugada para ir ao posto e tentar marcar uma consulta. Isso não tem lógica, olha o perigo que um cego corre.”
Presente na audiência, o secretário de Saúde Ivan Chebli respondeu as demandas apresentadas, destacando, entre outras iniciativas, projetos de ampliação de Unidades Básicas de Saúde, cadastramento de pessoas que atendem aos requisitos da lei para o cordão de girassol e a descentralização dos serviços de distribuição de fraldas e suplementos alimentares.
Já em relação aos problemas citados no transporte coletivo, Rute Ferreira, gerente do Departamento de Serviços do Sistema de Mobilidade Urbana (SMU), disse que encaminhará as demandas às gerências responsáveis. Ela também orientou que reclamações, especialmente em relação à conduta de funcionários para com as pessoas com deficiência, devem ser formalizadas pelo sistema Prefeitura Ágil. Desta forma, segundo ela, é possível “facilitar a possibilidade de acompanhamento”.
Jhonny Roque disse à nossa reportagem que anda muito por Juiz de Fora e que conhece diversos problemas de acessibilidade no município. Em 2010, ele teve perda de visão adquirida, mas, como já rodava pela cidade antes disso, ele conta que “tem um mapa mental de onde vai”. Os passeios, mesmo os com piso podotátil, são problemas freqüentes enfrentados por Jhonny e outros colegas cegos, segundo ele. “Investimentos em melhorias nos passeios e vielas, principalmente em lugares de muita movimentação, como próximo da própria Associação dos Cegos seria muito importante”, conclui, com alternativas de mudanças positivas no quesito acessibilidade.