Equipe em Santa Luzia afasta jovens da criminalidade e revela talentos
Projeto Esportivo Iran Felipe venceu duas competições no sub-17 e mira fortalecimento de outras categorias
O motoboy e motorista de aplicativo Yhugo Santiago, de 30 anos, decidiu transformar uma tragédia pessoal em ação social. Em abril deste ano, ele perdeu o irmão Iran Fellipe, de 20 anos, vítima da violência ligada ao tráfico de drogas no Espírito Santo (ES). Abalado, mas determinado a fazer a diferença, Yhugo fundou o Projeto Esportivo Iran Fellipe, em homenagem ao irmão, com o objetivo de ocupar o tempo e a mente de adolescentes do Bairro Santa Luzia, na Zona Sul de Juiz de Fora.
“Infelizmente a criminalidade cresce muito nas comunidades, e muitos adolescentes estão inseridos em uma realidade que só quem vive nela entende. A ideia do projeto é oferecer outras oportunidades, como o esporte, oficinas de emprego e cursos profissionalizante. Mas o primeiro passo foi colocar um uniforme nesses meninos e levá-los a campeonatos, onde podem viver experiências físicas e psicológicas saudáveis”, explica o idealizador.
O projeto começou com o futsal e já participou de torneios como o Gresup Sub-17 e a Copa União Sub-17, nos quais foram campeões. A equipe agora se prepara para formar turmas nas categorias Sub-15 e Sub-18, além de planejar ações para o Sub-11 e Sub-13. Yhugo também sonha com a inclusão de outras modalidades, como o jiu-jítsu, e busca parcerias para aquisição de chuteiras e materiais esportivos.
As atividades começaram de forma simples: “Fui à praça do bairro, conversei com os meninos, montei o time. Hoje eles têm treino, disciplina, compromisso. Chega sábado à noite, eles sabem que no domingo de manhã tem jogo”, conta Yhugo. “Deus tem me dado uma missão: incentivar a juventude e os adolescentes a correrem pelo certo e salvar suas vidas. Nosso projeto não é político, mas estamos abertos para apoio do governo, da sociedade, de empresários”.
Goleiro é destaque do projeto de Santa Luzia
Entre os atletas que se destacam no projeto está Guilherme Fernandes Cruz, de 17 anos, morador do próprio bairro. “Conheci o projeto pelo China, que jogou comigo antes. Em dois meses, a gente já participou de três campeonatos, venceu dois e foi vice em outro. Aqui, a gente sente que é abraçado. O Yhugo dá carona, leva lanche, tira a gente da rua. Isso faz toda a diferença”, destaca.
Guilherme começou no futebol aos 10 anos e rapidamente chamou atenção pelo talento no gol. Fez parte da escolinha do Athletico Paranaense, foi destaque em peneiras e passou por clubes como Vila Real, Bonsucesso e Guaporé. Também defendeu equipes em torneios como a Copa Orbit, a Copa Camisa 12 e a Bahamas Sub-15 de futsal. Em várias competições, se destacou por defesas decisivas em pênaltis — inclusive na semifinal da Copa União, na qual foi premiado como melhor goleiro.
Com passagens pela Next Academy, inclusive atuando no Sub-20, Guilherme chegou a ser improvisado na linha por sua habilidade com os pés. Entre jogos de pelada, convites como ‘goleiro de aluguel’ e treinos em diferentes projetos, o jovem construiu um currículo robusto e segue determinado: “Meu sonho sempre foi jogar profissionalmente, entrar para a base de um clube, dar uma condição melhor para minha família fazendo o que eu mais gosto. E também ajudar outras pessoas, que acho essencial”, conta.
Após um período parado por problemas de saúde, ele voltou com tudo: defendeu pênaltis e recebeu o troféu de melhor goleiro no Torneio Gresup, realizado na última semana. “É difícil seguir no futebol, tem muita gente puxando mais pra criminalidade do que pro esporte. Tem que ter cabeça boa. Esse projeto mudou muita coisa na minha vida, e eu quero levar ele o mais longe possível”, conclui o atleta, que já teve convite para atuar no Darmstad, da Alemanha.
