Ministério Público alerta pais e escolas para desafio perigoso entre jovens
Desafio causa desmaio e pode levar a danos cerebrais ou morte
O Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) emitiu um alerta direcionado a pais, responsáveis e instituições de ensino sobre o ressurgimento de um desafio perigoso entre crianças e adolescentes, divulgado nas redes sociais. A prática envolve a indução ao desmaio por meio de compressão no pescoço ou no tórax, e tem provocado preocupação entre autoridades de saúde e educação.
A promotora de Justiça Graciele Almeida, coordenadora do Centro de Apoio Operacional às Promotorias de Justiça de Defesa dos Direitos de Crianças e Adolescentes (CAO-DCA), destacou que a participação no desafio pode gerar responsabilização legal, tanto para os adolescentes quanto para seus responsáveis, a depender das consequências.
O médico Clorivaldo Rocha Corrêa, especialista em Saúde Coletiva e professor nas áreas de Urgência e Medicina Legal, explica que a prática é arriscada. “O desafio restringe a circulação de sangue para o cérebro, geralmente por pressão no pescoço ou no tórax, com o objetivo de provocar desmaio e sensação de euforia”, afirma.
Segundo ele, os efeitos imediatos incluem hipóxia cerebral (falta de oxigênio no cérebro), arritmias cardíacas, parada cardiorrespiratória, traumatismos causados por quedas e até morte súbita. Mesmo em casos sem sintomas aparentes, o risco permanece. “As sequelas podem ser silenciosas: microlesões cerebrais, alterações cognitivas, risco de epilepsia, distúrbios do sono e arritmias”, alerta.
Caso a prática ocorra, o médico orienta buscar atendimento emergencial imediato. “É necessária avaliação neurológica, exames cardíacos, verificação da oxigenação e observação por pelo menos seis horas, mesmo que o adolescente pareça bem. Também deve haver encaminhamento para avaliação psicológica.”
Impulsividade e busca por aceitação
Para a psicóloga Adriana Woichinevski Viscardi, doutora em Psicologia Social, a adesão a esse tipo de desafio está relacionada ao desenvolvimento cerebral dos adolescentes e à busca por aceitação social.
“O sistema límbico, responsável por emoções e recompensas, amadurece antes do córtex pré-frontal, que regula o julgamento e o controle dos impulsos. Isso cria um desequilíbrio que favorece comportamentos arriscados”, explica.
Segundo ela, o envolvimento em desafios está diretamente ligado à necessidade de pertencimento. “Desafios funcionam como uma forma de reconhecimento entre os pares, o que é altamente valorizado nessa fase da vida. A recompensa social nas redes pode parecer mais importante do que os riscos envolvidos.”
Além disso, Viscardi aponta que as redes sociais ampliam a visibilidade e a adesão a esses comportamentos. “Os algoritmos favorecem conteúdos de alto engajamento. O ‘contágio digital’ acontece rapidamente e, com ele, a pressão para repetir comportamentos. A sensação de anonimato e a ausência de supervisão online também contribuem para isso.”
Ela destaca que cerca de 93% das crianças e adolescentes entre 9 e 17 anos usam a internet, o que amplia a exposição a esse tipo de conteúdo.
Prevenção exige diálogo e presença ativa
O MPMG recomenda ações integradas entre escola, família e sociedade. Para o médico Clorivaldo Corrêa, a educação em saúde é essencial. “As escolas devem oferecer informação direta aos alunos. As famílias precisam manter diálogo e vigilância. E campanhas públicas ajudam a ampliar a conscientização.”
A psicóloga reforça que proibir, isoladamente, não resolve. “É importante estabelecer uma presença ativa e dialogar com respeito. Limites devem ser combinados, com explicações. A prevenção passa pela educação para o uso consciente da internet e pela construção de vínculos que permitam ao adolescente compartilhar dúvidas.”
Ela também defende o papel das escolas na criação de espaços seguros. “Programas de educação digital, rodas de conversa sobre saúde mental e oficinas de habilidades socioemocionais contribuem para o fortalecimento da autoestima e do pensamento crítico. O foco deve ser a escuta e o acolhimento, não o julgamento.”
Por fim, Viscardi destaca a necessidade de políticas públicas voltadas à juventude. “É fundamental regulamentar o funcionamento das plataformas, investir em saúde mental e criar ambientes digitais mais seguros.”