Nova tarifa dos EUA ameaça exportações mineiras
Exportações da Zona da Mata superam US$ 190 milhões e podem sofrer com nova taxação

A nova tarifa de 50% imposta pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre os produtos brasileiros, anunciada em 9 de julho, deve provocar impactos significativos na economia nacional. Minas Gerais, terceiro estado que mais exporta para os EUA, pode ser especialmente afetado, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).
A nova alíquota passa a valer a partir de 1º de agosto e atingirá todas as exportações brasileiras para o país, independentemente do setor, de forma separada das tarifas já existentes. A justificativa apresentada por Trump tem caráter político, segundo analistas, e envolve críticas ao tratamento dado pelo governo brasileiro ao ex-presidente Jair Bolsonaro e à atuação do Judiciário em temas relacionados à liberdade de expressão.
Segundo dados do MDIC, o Brasil exportou cerca de US$ 40,3 bilhões para o hemisfério norte no último ano. Apesar de representar apenas 1,3% das importações totais dos EUA, o país é um dos principais parceiros comerciais do Brasil, especialmente em setores de maior valor agregado.
Minas Gerais, terceiro estado brasileiro que mais exporta para os EUA, teve desempenho expressivo. Em 2024, o estado registrou US$ 4,62 bilhões em exportações no valor FOB – que representa o preço da mercadoria pronta para embarque no navio, ainda no Brasil. Somente neste ano, o estado já exportou US$ FOB 2.458.256.168. Os principais produtos mineiros enviados aos EUA foram café e derivados, ferro fundido, ferro-ligas, transformadores elétricos, além de carnes bovinas congeladas e tubos de aço sem costura.
Impactos nos setores exportadores
Para o diretor da Faculdade de Economia da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Cláudio Vasconcelos, todos os setores serão afetados, visto que o novo embargo, na prática, consiste em uma pressão para que as empresas mantenham ou aumentem seus valores. “Dificilmente, algum setor teria capacidade de reduzir o seu preço de exportação para compensar um aumento de 50% nas tarifas de importação.”
Entretanto, ele explica que o setor cafeeiro por ser uma commoditie – produtos básicos de origem primária que possuem pouca diferenciação entre produtores e são negociados em mercados internacionais com preços definidos pela oferta e demanda globais – tende a possuir maior facilidade para redirecionar sua produção a curto prazo. Algo que, segundo Vasconcelos, produções específicas como resíduos de metais preciosos e instrumentos médicos não conseguem.
Na Zona da Mata, Manhumirim é a cidade que mais possui relações com os norte-americanos e exportou cerca de US$ FOB 59.424.953, tendo como maior fonte de exportação resíduos de metais preciosos.
Ao todo, a região exportou até o momento aproximadamente US$ 189 milhões, com exportações nos setores de resíduos de metais preciosos, café e derivados, carvão vegetal e outros.
Vasconcelos explica que os impactos na receita dos municípios serão uma frustração, consequentemente causando uma queda nas rendas. “Caso não consigam direcionar sua produção rapidamente para outros locais, o produto permanecerá nos estoques fazendo com que os custos de estocagem e demais custos de produção sejam majorados dado que precisarão tomar crédito para financiar os compromissos assumidos na produção.”
Ele também acredita que, em termos práticos, o número de empregos tende a cair, caso as empresas não consigam administrar esta nova regra. “Quanto ao emprego vai ocorrer um ajuste no mercado de trabalho, com aumento do desemprego nos setores afetados.”
E ainda destaca o impacto aos produtores: “o embargo às exportações brasileiras no curto prazo tem um potencial grande de gerar prejuízo aos setores produtores.”
Juiz de Fora é a sexta cidade da região que mais exporta
Sexta colocada entre as cidades da Zona da Mata que mais exportam para os EUA, Juiz de Fora registrou em 2025 um total de US$ 5.099.982 em exportações, segundo dados do MDIC.
Os principais produtos enviados ao mercado norte-americano incluem instrumentos e aparelhos para medicina, cirurgia, odontologia e veterinária, com destaque para equipamentos de alta tecnologia utilizados em diagnósticos e procedimentos clínicos. Além disso, o município também exporta móveis, assentos e peças industriais, como partes de impressoras e máquinas.
A diversidade da pauta exportadora no município evidencia um perfil industrial voltado a produtos de maior valor agregado e complexidade tecnológica. No entanto, essa característica também pode representar maior vulnerabilidade diante de tarifas elevadas, já que muitos desses produtos dependem de certificações, nichos específicos de mercado e logística internacional mais rígida.
Perspectivas e reação do Brasil
Vasconcelos acredita que é muito cedo para sentir os impactos na região, mas explica ser necessário inicialmente fazer um estudo do impacto para depois se formatar alguma ação de minoração de impactos.
Ele explica que, diante da magnitude da tarifa imposta, praticamente nenhum setor exportador brasileiro tem capacidade de absorver esse aumento reduzindo os preços de seus produtos para manter os níveis atuais de exportação. Além disso, segundo ele, também não há espaço para uma desvalorização cambial suficientemente significativa que compense esse impacto.
“No curto prazo, o Brasil e Minas Gerais irão sentir a redução das exportações para os EUA. No longo prazo, permanecendo tal cenário de imposição de tarifas tão altas, o caminho para os setores exportadores é conquistar novos mercados no resto do mundo.”
Ele também defende que o país deve se posicionar e procurar auxílio de instâncias superiores. “O Brasil tem que usar todas as frentes de ação possível, começando pela negociação direta e, caso não tenha sucesso, ir à Organização Mundial do Comércio (OMC).”
Ele também faz um alerta em relação ao uso da Lei da Reciprocidade Econômica, aprovada este ano pelo Congresso Nacional. A norma permite que o Brasil adote medidas de retaliação comercial, como suspensão de concessões e aplicação de tarifas adicionais, contra países que imponham barreiras às exportações brasileiras.
Na avaliação do economista, embora a aplicação da lei possa agravar a tensão comercial, ela também pode gerar efeitos colaterais que levem os Estados Unidos a reconsiderarem a postura adotada. Isso ocorreria, segundo ele, caso as empresas e consumidores americanos passem a sentir impactos econômicos diretos. No entanto, pondera que o peso das exportações brasileiras ainda é relativamente pequeno no conjunto das importações norte-americanas, o que limita a efetividade da medida. Por isso, enxerga a Lei da Reciprocidade mais como um instrumento de pressão diplomática do que como uma solução prática para reverter a imposição tarifária.
“Vivemos em um mundo onde o investimento direto estrangeiro é feito com objetivos muito específicos, como terceirização da produção para aproveitar oportunidades de reduzir custos, o investimento estrangeiro direto vertical dentro de uma lógica de cadeia global de valor e o investimento estrangeiro direto horizontal onde se replica a unidade produtiva da matriz em outro país. Portanto, quando os EUA aplicam um embargo com tarifa de 50%, provoca no médio e longo prazo uma arrefecimento do interesse do capital produtivo dos EUA em aportar em terras brasileiras e consequentemente Minas Gerais visto que a produção local com a tarifa de 50% fica 50% mais cara,” analisa.
*Estagiária sob a supervisão do editor Paulo Cesar Magella