Espetáculo do Ponto de Partida sobre Fernando Brant e dilemas do poeta chega a JF

‘Fernando Brant e tudo que a gente sonhou’ é musical construído a partir de letras do poeta e com arranjo inédito


Por Elisabetta Mazocoli

08/08/2025 às 07h00

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Espetáculo investiga processos de criação de Fernando Brant (Foto: Vinicius Terror)

O espetáculo “Fernando Brant e tudo que a gente sonhou” chega a Juiz de Fora para duas apresentações, nesta sexta-feira (8) e no sábado (9), às 20h, no Teatro Paschoal Carlos Magno. A produção começou a ser elaborada quando, a partir de um convite, a companhia Ponto de Partida, que há anos desenvolve uma linguagem brasileira para musicais, buscou uma forma de homenagear esse grande poeta e letrista brasileiro, que já colaborou com nomes como Milton Nascimento, Tavinho Moura e Toninho Horta.

O compositor também já era um parceiro de trabalho do grupo de Barbacena e amante desse gênero teatral, e tinha conversado várias vezes ao longo dos anos sobre fazerem um musical juntos sobre sua obra, um projeto que foi ficando para depois. Em 2022, a companhia trabalhou com o vasto acervo do poeta, contando com suas letras e crônicas, para criar uma apresentação inteiramente feita com suas palavras e com um arranjo inédito. As apresentações fazem parte da Campanha de Popularização do Teatro e Dança de Juiz de Fora, com ingressos a R$15, sendo vendidos no trailer da Apac, no Parque Halfeld. O espetáculo recebeu apoio da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig).

A ideia do grupo, a partir da provocação de Jair Raso, do belorizontino Feluma, foi de “fazer uma brincadeira, à sério, sobre o que se passa na cabeça do poeta”. A definição da produtora Fátima Jorge surgiu a partir das próprias experimentações do grupo que, a partir do mote de homenagear Brant, passou também por um extenso processo de pesquisa e incorporação da obra, contando com a ajuda dos atores que participam do projeto, comandados pela diretora Regina Bertola. Contaram também com o acesso ao acervo da filha do poeta, Bel Brant, que disponibilizou trabalhos inéditos do pai. “É uma investigação dos processos de criação. Estamos usando a palavra do poeta, mas a história que o público vai escutar é uma coisa nova”, explica Fátima. Nesse processo, ela entende que cada personagem funciona como os neurônios do poeta, sempre em busca da palavra.

Portanto, não se trata de uma biografia de Fernando Brant ou mesmo de um mergulho em determinado período de sua vida — mas um convite a adentrar as questões que podem ter perpassado o processo de criação de clássicos da música mineira, como “Travessia”, “Vendedor de sonhos”, “O que foi feito devera” e “Maria, Maria”. Nesse sentido, foi especialmente importante a parceria que o grupo desenvolve com a universidade de música Bituca, da qual foram criadores. O espetáculo conta, ainda, com os arranjos de Ciro Bellucci, Gilvan de Oliveira, Marcos Leite, Pablo Bertola e Pitágoras Silveira, e ainda uma banda ao vivo composta por piano, sax, clarineta, flauta, violão, bateria e voz.

 

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Apresentações acontecem durante Campanha de Popularização do Teatro e Dança em JF (Foto: Vinicius Terror)

Para os que nunca envelhecem

Construir um espetáculo sobre Fernando Brant, que faleceu há dez anos, também tinha duas missões diferentes: trazer o poeta para a memória de quem o acompanhou em vida e o apresentá-lo para quem ainda não conhecia. Esse também é um aspecto que Fátima entende que funciona como guia do Ponto de Partida, no sentido de se propor a formar o público.” A preocupação e a busca do Ponto de Partida em trazer o que há de melhor para os jovens brasileiros. Ele é imortal, é de maior emoção podermos apresentá-lo”, conta ela. 

Ao mesmo tempo, o que espera é poder fazer isso de uma forma através da qual aqueles que já têm familiaridade com a obra de Brant não se sintam sendo apresentados apenas a informações iniciais sobre a carreira dele. Isso porque ela também entende que, para muitos, as músicas dele são até mais do que está sendo cantado. “Se a gente faz um pequeno esforço de memória, vamos lembrar que as letras do Brant, embaladas pelos seus grandes parceiros, como Milton Nascimento e Tavinho Moura, foram e são a trilha sonora de vários momentos da nossa vida. Então são músicas que fazem parte da memória coletiva das pessoas”, diz. 

Os sonhos em comum

O nome do espetáculo foi escolhido pensando que, já que o poeta não seria nem mesmo um personagem na obra, era preciso trazer a essência do que a história queria contar a partir dele. Aproveitando o nome do espetáculo, os sonhos em comum que Fernando Brant e o Ponto de Partida têm são, justamente, aqueles que parecem mais difíceis —  e também mais importantes de se realizar. “Pensamos sobre a nossa busca por uma vida mais digna. Ele canta a esperança e conseguia usar as palavras exatas para nomear os nossos sentimentos. São os sonhos de felicidade e alegria, de criação, da vida sendo inundada por poesia e amizade”, define Fátima.

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