Defesa Civil detalha medidas de prevenção para o período chuvoso
Primeiros meses de 2020 foram marcados por desastres após temporais, inspirado preocupação com a volta das chuvas
A tarde da última quarta-feira (14) fez com que alguns moradores de bairros da Zona Sul recordassem de tragédias ocorridas recentemente no município: uma forte chuva atingiu a região, inclusive com a ocorrência de granizo. O temporal restaurou a preocupação da população com a aproximação do período de tempestades, sobretudo após um ano com ocorrências graves, incluindo óbito, em virtude de desastres provocados pelas chuvas. Já em contagem regressiva para o final de 2020, a Defesa Civil de Juiz de Fora, em entrevista à Tribuna, detalha as medidas preventivas trabalhadas pelo órgão para diminuir os riscos de novas fatalidades.
Um forte aliado da Defesa Civil na prevenção a desastres é o mapeamento de áreas de risco do município. O trabalho, que é atualizado constantemente pelo órgão, reúne pontos mais críticos que exigem atenção contínua. “Nós temos que mostrar os locais onde tivemos problemas, para que a gente fique mais atento a esses locais e, quando precisar, acionar os representantes para atender às ocorrências”, explica o coordenador da Defesa Civil de Juiz de Fora, Jefferson Rodrigues.

Zona Leste preocupa Defesa Civil
A Zona Leste do município é considerada região com muitos pontos de risco, segundo o coordenador, agregando locais que registraram desastres no início do ano, como os bairros Santa Cândida e São Benedito. “Muitas obras de contenção foram feitas, e isso nos ajudou bastante. Essas obras diminuíram bastante o número de ocorrências graves”, afirma Rodrigues.
A atuação da Prefeitura com intervenções definitivas em áreas de risco é limitada, de acordo com o coordenador, pela indisponibilidade de recursos públicos. Dessa forma, as obras ficam em situação de espera até a entrada de verbas da União. Ao longo do ano, foram 21 obras realizadas. Conforme o coordenador da Defesa Civil, foram atendidos os bairros Santa Tereza, JK, Três Moinhos, Linhares, Lourdes, Jardim da Lua, Granjas Betânia, Jardim Natal, Ladeira e Vila Fortaleza.
Ainda há projetos sendo executados nos bairros Linhares, Grajaú e Jardim Alta, enquanto os bairros Santa Cândida, São Benedito, Santa Luzia, Guaruá e Santa Cecília ainda aguardam resolução de pendências para terem iniciadas obras de contenção. “Espero que, quando terminar (as obras), a gente tenha muito mais segurança”, projeta o coordenador da Defesa Civil.
Programa da ONU é esperança
A campanha mundial da Organização das Nações Unidas (ONU) “Cidades resilientes” é uma alternativa encontrada pela PJF para conseguir verbas para projetos que reduzam os riscos de desastres. O programa estabelece determinados critérios para que municípios consigam o título de “cidade resiliente” e, através dele, tenham facilidade para obter recursos para desenvolver processos de urbanização sustentável.
Juiz de Fora já aderiu ao programa, mas, para obter o título junto à ONU, o município precisa responder a um extenso questionário sobre o planejamento da cidade nas mais diversas áreas de atuação, como saúde e educação. O trabalho, então, abrange boa parte das secretarias municipais. “A gente sabe que cidades que têm esse título tiveram facilidade para obter recursos vultosos, e essa é a nossa intenção. Mas o município precisa estar bem preparado para a obtenção dos recursos e dar uma resposta positiva”, afirma Rodrigues.
Construção informal é desafio
A construção de moradias informais é um dos principais fatores de receio da Defesa Civil. O coordenador Jefferson Rodrigues estima que 70% das obras realizadas no município ocorrem sem o acompanhamento de um responsável técnico e, como muitas delas ocorrem em área de risco, têm a chance aumentada de desastres. “Esse é o grande problema. Não só nosso, mas de todas as cidades. Os maiores desastres ocorrem nessas áreas, que são assentamentos precários e sem estrutura mínima”, alerta.
Segundo o coordenador, a entidade promove monitoramento na tentativa de minimizar o problema. Entretanto ainda há deficiências na fiscalização dos projetos que representam risco para a população. “As pessoas podem construir em área de risco, desde que criem as estruturas (de proteção) necessárias. Mas não é isso que ocorre. Se passar pela fiscalização, já é um grande negócio, mas os problemas são os informais”, lamenta.

Defesa Civil amplia contato com a população
O diálogo direto com os moradores de áreas de risco é um fator tido como crucial pela Defesa Civil para conseguir acompanhar as situações de perigo. Na esteira das brutais chuvas do primeiro trimestre de 2020, a unidade juiz-forana lançou uma rede de alerta que estabelece comunicação direta entre a Prefeitura e representantes comunitários para a emissão de avisos e para agilizar o atendimento às ocorrências, em situações de emergência. O programa segue funcionando, de acordo com o Jefferson, e é um dos aliados para o período chuvoso que se aproxima.
Outra iniciativa ressaltada pelo coordenador é o treinamento de voluntários em todas as regiões, principalmente na Zona Leste, região de maior preocupação. O trabalho é considerado importante para expandir a área de atuação e monitoramento da Defesa Civil. “É uma descentralização da Defesa Civil, que atende diretamente no bairro às necessidades presentes. Tentamos implantar em mais duas regiões neste ano, mas a pandemia impediu”, explica.
Resquícios de chuvas passadas
Jefferson Rodrigues lembra das tempestades do início de 2020 como “chuvas (em intensidade) que não via há dez anos”. E a agressividade dos temporais refletiu em recorde de ocorrências registradas pela Defesa Civil. Foram mais de 400 chamadas m cerca de dez dias de março, conforme o coordenador. Isso corresponde a 25% da média de ocorrências costumeiramente registradas ao longo de todo o ano. Para se ter ideia, na primeira semana daquele mês choveu 120 milímetros. Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), o volume corresponde à metade das precipitações esperadas em março.
Meses depois, ainda há moradores sofrendo as consequências. Ainda há famílias desalojadas na Rua José Orozimbo de Oliveira, no Bairro Santa Luzia, na Zona Sul, onde uma encosta cedeu e resultou na queda de muro e na interdição preventiva de três casas, fato ocorrido ainda em janeiro. Pessoas também tiveram de sair das suas casas no Bairro Santa Cecília, também na Zona Sul, e permanecem com os imóveis interditados até hoje. Em março, deslizamento na Rua João Francisco Monteiro causou alerta na população e gerou a intervenção da Defesa Civil no local.
Vinte e seis moradias ainda interditadas
O caso mais grave ocorreu em fevereiro entre os bairros São Benedito e Santa Cândida, na Zona Leste, onde um homem de 53 anos foi soterrado após um deslizamento. Na ocasião, engenheiros da Defesa Civil estavam em uma residência de dois andares, na Rua Artur Machado Filho, após solicitação de vistoria. Durante o atendimento, parte do imóvel começou a ruir, e os moradores retirados às pressas. No entanto, o escorregamento do barranco de 30 metros de altura atingiu duas casas na Rua São José, que fica logo abaixo.
Até o momento, segundo a Defesa Civil, 26 moradias permanecem interditadas. “Ali, depende diretamente dos moradores porque as residências estão abaixo do nível da rua”, explica Jefferson Rodrigues. Segundo o coordenador, para solucionar o problema os proprietários precisam refazer a rede pluvial e a rede de esgoto da vizinhança. “Nós preferimos esperar passar esse período chuvoso, ver se a gente consegue passar de uma forma mais tranquila. Mas tem pendências, tem muita gente utilizando o auxílio moradia”, afirma.