Megaoperação contra facção realiza prisões e desarticula tribunal do crime na cidade

Polícia Civil cumpre 30 mandados e reage à expansão do Comando Vermelho em Juiz de Fora


Por Pedro Moysés

10/12/2025 às 18h01

Uma megaoperação contra integrantes do Comando Vermelho foi deflagrada em Juiz de Fora, nesta quarta-feira (10), cumprindo 15 mandados de prisão e 15 mandados de busca e apreensão relacionados a dois homicídios e duas tentativas de homicídio ocorridos em janeiro e julho deste ano.

Mobilizando cerca de 80 policiais com apoio de regionais de Juiz de Fora, Viçosa, Ubá, Leopoldina e Muriaé, a ação da Polícia Civil me integra um conjunto de operações para conter a expansão territorial da facção na cidade, conforme a corporação.

O anúncio da operação foi feito em coletiva de imprensa realizada na tarde de quarta e contou com a presença do chefe do 4º Departamento, delegado Eurico da Cunha Neto, do delegado regional Bruno Wink e da delegada Camila Muller. Até às 15h, 11 suspeitos haviam sido presos na operação, incluindo integrantes da cúpula local do Comando Vermelho. Outros quatro alvos permanecem sendo procurados.

Megaoperação contra facção realiza prisões e desarticula tribunal do crime na cidade
(Foto: Pedro Moysés)

Emboscada no Salvaterra

A primeira parte da operação conclui a investigação de um ataque ocorrido no dia 11 de janeiro, na estrada Domingos Húngaro, no Bairro Salvaterra, Zona Sul de Juiz de Fora. Na ocasião, dois irmãos foram emboscados dentro de um carro. Segundo a Polícia Civil, o crime foi motivado pela rivalidade entre o Comando Vermelho e o Primeiro Comando da Capital (PCC), à qual uma das vítimas era ligada.

De acordo com as investigações, os irmãos foram atraídos por uma ligação telefônica na tentativa de fugirem da cidade. Ao chegarem no endereço, foram surpreendidos por homens armados. Um deles morreu no local, alvejado por disparos de arma de fogo. O outro conseguiu fugir e deixou Juiz de Fora em direção ao Triângulo Mineiro.

A Justiça expediu oito mandados relacionados ao caso, sendo quatro de prisão e quatro de busca e apreensão. Todos os investigados foram localizados e presos na operação desta quarta.

Espancamento em 20 de julho

A segunda investigação diz respeito à morte de Gabriel, em 20 de julho, após uma sessão de espancamento determinada pelo chamado tribunal do crime do Comando Vermelho. Horas antes, o jovem teria se envolvido em uma confusão em um bar na Avenida Brasil. Após a confusão, integrantes de alto escalão da facção foram acionados e se reuniram por videochamada para definir a punição.

De acordo com a Polícia Civil, a prática segue o “regulamento interno” da facção, que estabelece penalidades para comportamentos considerados inadequados pelos criminosos. Dessa forma, Gabriel e um amigo foram sentenciados ao espancamento.

As duas vítimas foram agredidas por vários minutos. Gabriel foi deixado desacordado na porta de casa, sob o pretexto de ter sofrido um “acidente de moto”. Ele chegou a ser levado ao Hospital de Pronto Socorro, mas morreu em decorrência das lesões. A outra vítima sobreviveu.

Para esse caso, foram expedidos 11 mandados de prisão e 11 mandados de busca e apreensão. 

Tribunal do crime

Megaoperação contra facção realiza prisões e desarticula tribunal do crime na cidade
(Foto: Divulgação/PCMG)

De acordo com a Polícia Civil, o chamado “tribunal do crime” é uma instância informal do Comando Vermelho, criada para impor regras nos territórios onde a facção atua. O grupo mantém um “regulamento interno” que define condutas proibidas e determina punições que vão desde espancamentos até execução.

As decisões, segundo a delegada da Delegacia Especializada em Homicídios de Juiz de Fora, Camila Muller, são tomadas por integrantes de maior hierarquia por meio de videochamadas em grupo, nas quais se discute o caso a fim de se decretar a pena aos envolvidos. Para a Polícia Civil, a prática representa uma tentativa de substituir o poder do Estado por normas paralelas, ampliando o controle territorial da facção.

A delegada explica que essa dinâmica é extremamente perigosa, pois cria uma espécie de sistema judicial clandestino, sem qualquer tipo de mediação institucional. “O ‘tribunal do crime’ funciona assim: a pessoa comete uma infração que não pode ser cometida pelo Comando Vermelho. Eles já têm o regulamento. E aí, essas pessoas da região, do território – chamado de conselho do Comando Vermelho – são acionadas, discutem e decretam uma pena, um castigo. Eles fazem uma videochamada em grupo e decretam uma pena. Um castigo, por exemplo: três minutos de pancada, cinco minutos, a morte.”

Alvos e apreensões

Megaoperação contra facção realiza prisões e desarticula tribunal do crime na cidade
(Foto: Divulgação/PCMG)

Segundo a Polícia Civil, os alvos estão ligados à cúpula local do Comando Vermelho, incluindo integrantes com papel de comando na região. Um dos envolvidos já está preso em Bangu, no Rio de Janeiro, e uma das envolvidas já cumpria pena em Juiz de Fora.

Durante os mandados, as equipes encontraram cocaína, crack, haxixe, maconha e barras de maconha prensada, além de balanças de precisão, câmeras e celulares usados pela organização criminosa. “Isso reforça o que a investigação já tinha concluído, que todos são envolvidos com o Comando Vermelho e com o tráfico de drogas”, afirmou a delegada.

Para ela, a operação reduz a capacidade de atuação do Comando Vermelho nas regiões onde o grupo tentava consolidar domínio territorial. A Polícia Civil também afirma que a ação enfraquece o “tribunal do crime” e reafirma a presença do Estado em áreas ameaçadas pelo avanço da facção.

Retrospecto 2025

Durante o ano de 2025, a Delegacia Regional de Juiz de Fora realizou 115 operações, que resultaram em 287 presos, 21 armas e 171 mandatos expedidos. Os números surpreendem quando comparados com os do 4º Departamento, que coordena cinco Delegacias Regionais (DRPC) em Juiz de Foster, Ubá, Leopoldina, Muriaé e Viçosa, atuando em uma área com cerca de 86 municípios. Segundo os dados apresentados na tarde desta quarta-feira pelo delegado responsável, Eurico da Cunha Neto, durante 2025 foram 1019 presos, 567 mandados expedidos, 83 armas apreendidas e 304 operações.

 

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