Comerciantes questionam a implementação do lockdown

A classe critica medida de Margarida Salomão considerada ‘política’, além de questionar saída do Minas Consciente


Por Gabriel Ferreira Borges

08/03/2021 às 15h22- Atualizada 08/03/2021 às 19h25

manifestação aglomeração fernando priamo
Protesto reúne dezenas de pessoas, com maioria de comerciantes do município (Foto: Fernando Priamo)

Dezenas de comerciantes foram às ruas de Juiz de Fora nesta segunda-feira (8) para protestar contra o decreto de lockdown anunciado no último domingo pela prefeita Margarida Salomão (PT) – Decreto 14.380. Os organizadores ouvidos pela Tribuna apontaram que a regressão do Município para a faixa roxa do Juiz de Fora pela Vida seria uma decisão meramente “política”. Além disso, os líderes questionam a saída de Juiz de Fora do Programa Minas Consciente, encabeçado pelo governador Romeu Zema (Novo), uma vez que a medida fora anunciada pela Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) dois dias antes da reestruturação promovida pelo Governo estadual.

A mobilização reuniu dezenas de pessoas em frente às escadarias da Câmara Municipal de Juiz de Fora, no Parque Halfeld, por pouco mais de uma hora. O comerciante Flávio Souza de Mattos, proprietário de uma loja do segmento de tecnologia da informação, aponta que o setor seguia os protocolos até então exigidos pelo próprio Município. “Há setores que já não aguentam mais, ainda que tenhamos utilizado a Medida Provisória (MP) 936 para complementar o pagamento dos funcionários. Agora, mesmo diante do lockdown, não pode nem demitir (empregados) mais.” A MP 936 garante provisoriamente o emprego aos trabalhadores enquadrados no dispositivo por “período equivalente ao acordado para a redução ou suspensão (dos contratos de trabalho)”.

 

manifestação destacada fernando priamo
(Foto: Fernando Priamo)

Conforme Flávio, não há “movimento técnico ou científico da PJF” para embasar o decreto de lockdown, o que é endossado por Yashio Shubo, proprietário de um bar. “Não estou aqui como empresário, mas como cidadão, porque entendo que este lockdown não tem embasamento científico. Foram feitos vários protocolos setorizados no início do ano. Como estes protocolos não servem mais? Todo mundo sabe que foram as datas festivas que agravaram o quadro, não o funcionamento do comércio. As próprias amostragens estatísticas mostram isso. Ninguém da minha equipe pegou Covid-19.” Yashio defende que a prefeita não pode lhe cercear o direito de ir e vir. “Ela não pode decidir para todo mundo quais são as atividades essenciais.”

Camilo Machado, proprietário de uma distribuidora de materiais de construção, reforça que o decreto “tira direito das pessoas”, além de taxá-lo como arbitrário. “As atividades econômicas paralisam, mas não há contrapartida alguma ao comércio. A Prefeitura não tem capacidade de fomentar algo, não oferece contrapartida alguma.”

Saída do Minas Consciente

Além de questionar o lockdown, os organizadores criticam a decisão de Margarida Salomão em desvincular o Município do Minas Consciente. Os comerciantes apontam, por exemplo, que a saída de Juiz de Fora do programa estadual em janeiro se deu apenas dois dias antes da segunda reestruturação promovida pelo Governo Zema na setorização das atividades econômicas. A classe defende a permanência porque a Macrorregião Sudeste, onde o município está localizado, está na onda amarela, o que permitiria o funcionamento de serviços não essenciais, lembram.

Para Flávio, mesmo que o quadro epidemiológico apresente altos índices de ocupação de leitos de terapia intensiva, a classificação de Juiz de Fora na faixa amarela do Minas Consciente mostraria que não havia necessidade de lockdown. Camilo também diz não entender a necessidade de saída. “O Governo estadual tem mais ferramentas de provimento de saúde já que está há dois anos lá. A prefeita entrou há 60 dias. Qual o plano de contingenciamento que ela tem?”

Ao fim desta segunda, ao passo que a taxa de ocupação geral dos leitos de terapia intensiva do município era de 81,08%, as unidades do SUS apresentavam índice de 87,44%. Entretanto, o índice de ocupação de leitos de terapia intensiva restritos apenas aos casos de Covid-19 era de 89,66%. Contactada pela Tribuna, o Executivo informou que o posicionamento é o que foi dito por Margarida na coletiva do último domingo. Na ocasião, a prefeita disse “a situação se agravou tanto nas últimas horas que estou sendo obrigada a tomar medidas extremas. Nesse momento, em Juiz de Fora, 100% dos leitos de UTI estão ocupados e estão exaustos também os recursos de saúde da região.”

 

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