Dois em cada 5 mortos em acidentes não usavam cinto de segurança
PRF registra aumento de infrações por não utilização do equipamento de proteção

A ausência do uso do cinto de segurança continua sendo um dos principais fatores associados a mortes em rodovias brasileiras. De acordo com levantamento da Arteris, concessionária que administra 3,2 mil quilômetros de rodovias nas regiões Sul e Sudeste, 90 pessoas morreram apenas nos primeiros semestres de 2024 e 2025 em acidentes nos quais ficou constatado que não utilizavam o equipamento.
Esses casos representam 43,7% do total de mortes em acidentes envolvendo veículos de passeio, comerciais leves, caminhões e ônibus — o equivalente a duas em cada cinco fatalidades registradas. A maioria das vítimas era de motoristas (61), sendo 76,6% homens (69 dos 90 casos analisados).
Os dados foram divulgados pela concessionária a partir de levantamentos próprios. “Investigamos ao máximo a causa dos acidentes e das fatalidades”, afirma Eduardo Loewen, gerente de gestão operacional da Arteris. “Notamos um volume elevado de vítimas que não estavam usando o cinto de segurança.”
Redução geral de mortes não se reflete no uso do cinto
As estatísticas chamaram a atenção porque, no mesmo período, houve queda de 10,4% no número total de mortes nas rodovias administradas pela Arteris: de 279 nos seis primeiros meses de 2024 para 250 no mesmo intervalo de 2025. No entanto, a redução não se refletiu proporcionalmente nos casos associados ao não uso do cinto.
Segundo a concessionária, o equipamento é essencial para evitar mortes e reduzir a gravidade de lesões. “Creio que alguns condutores não têm a percepção do risco que não usar o cinto representa”, observa Loewen.
Estudos confirmam eficácia
Pesquisa da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet) reforça a importância do uso do cinto. O dispositivo reduz em pelo menos 60% o risco de morte para ocupantes do banco dianteiro e em 44% para quem está no banco traseiro.
Cerca de metade da eficácia está relacionada à prevenção da ejeção de ocupantes em colisões. O estudo destaca ainda que não utilizar o cinto no banco traseiro aumenta em até cinco vezes o risco de morte de quem está no banco da frente.
Infrações crescentes
Apesar da obrigatoriedade do cinto em rodovias desde 1989, muitos condutores seguem descumprindo a norma. Dados da Polícia Rodoviária Federal (PRF) mostram que as infrações mais que dobraram: de 90.067 registros em 2007 para 216.267 em 2024.
Conforme o Código de Trânsito Brasileiro, o não uso do cinto é infração grave, com multa de R\$ 195,23, cinco pontos na CNH e possibilidade de retenção do veículo até que todos os ocupantes estejam devidamente afivelados. “Até mesmo em ônibus, todos os passageiros devem viajar afivelados”, ressalta Loewen.
Fiscalização e campanhas
A Arteris desenvolve campanhas de conscientização, como o programa “Tô de Cinto, Tô Seguro”, e atua em parceria com as polícias rodoviárias para intensificar a fiscalização. A concessionária também opera com 1.500 câmeras de monitoramento em suas rodovias, algumas com inteligência artificial capaz de identificar automaticamente infrações, como a ausência do cinto e o uso de celular, compartilhando as imagens com as autoridades competentes.