Projeto na Serra do Brigadeiro abriga mais de 300 muriquis-do-norte, maior primata das Américas

Iniciativa atua no Parque Estadual da Serra do Brigadeiro, na Zona da Mata mineira, que concentra uma das maiores populações da espécie ameaçada de extinção 


Por Nayara Zanetti

23/08/2025 às 07h00

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(Foto: Leandro Santana Moreira / Muriqui Instituto de Biodiversidade)

O projeto Montanhas dos Muriquis ajuda a preservar uma das maiores populações de muriquis-do-norte (Brachyteles hypoxanthus), o maior primata das Américas e também um dos mais ameaçados do mundo. A iniciativa ocorre no Parque Estadual da Serra do Brigadeiro, localizado entre os municípios de Araponga e Fervedouro, na Zona da Mata mineira. Cerca de 327 muriquis-do-norte distribuídos em pelo menos 12 grupos sociais vivem no parque e isso só é possível com a preservação dos fragmentos florestais da região. 

O número é muito significativo levando em consideração que existem pouco mais de mil indivíduos dessa espécie na natureza. O muriqui-do-norte faz parte da lista das espécies classificadas como criticamente ameaçadas de extinção. O projeto na Zona da Mata desenvolve ações de pesquisa, monitoramento e educação ambiental, buscando integrar as comunidades do entorno da unidade de conservação nas atividades e promover maior conscientização. 

De acordo com o coordenador do Montanhas dos Muriquis, o biólogo Leandro Santana Moreira, do Muriqui Instituto de Biodiversidade (MIB), o projeto realiza expedições mensais ao interior e entorno do parque, utilizando drones, armadilhas fotográficas em dossel e sistemas de geoprocessamento para mapear os grupos de muriquis, estimar populações e identificar ameaças. 

O monitoramento não se limita à área do parque. Indivíduos isolados que vivem em áreas de mata no entorno da unidade de conservação também são acompanhados. O objetivo é propor estratégias de manejo que permitam a recuperação de outras populações. A equipe também adota métodos não invasivos, como a coleta de fezes para análises genéticas, que ajudam a entender a diversidade e a saúde da população, orientando ações de conservação mais eficazes. 

Conexão com a comunidade: a chave para a conservação 

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(Foto: Leandro Santana Moreira / Muriqui Instituto de Biodiversidade)

Um dos diferenciais do Montanhas dos Muriquis é o trabalho de engajamento com os moradores da região. Por meio de caravanas educativas, visitas a escolas e reuniões com lideranças comunitárias, o projeto dissemina informações sobre os muriquis, a importância das unidades de conservação e alternativas sustentáveis para o uso dos recursos naturais. Dessa maneira, materiais didáticos, como livros e vídeos, são usados para ampliar o alcance das mensagens.

“Mais do que proteger uma espécie, o projeto busca fortalecer o vínculo entre natureza e sociedade. Os muriquis, que simbolizam equilíbrio e cooperação, nos mostram que conservar é também cuidar das conexões”, diz o biólogo Leandro Santana Moreira.

O papel das unidades de conservação

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(Foto: Leandro Santana Moreira / Muriqui Instituto de Biodiversidade)

O titular da Gerência de Criação e Manejo de Unidades de Conservação do IEF, o biólogo Edmar Monteiro, enxerga a iniciativa como um reforço  do papel estratégico das áreas protegidas. “As unidades de conservação não são apenas refúgios de biodiversidade, mas verdadeiros laboratórios a céu aberto, onde ciência e gestão ambiental caminham juntas. Cada pesquisa realizada nessas áreas contribui para aprimorar o manejo, embasar políticas públicas e garantir que a riqueza natural de Minas Gerais seja preservada para as futuras gerações”, afirma.

Ao aliar ciência, tecnologia e participação social, o Montanhas dos Muriquis se torna um exemplo na conservação da biodiversidade da Mata Atlântica mineira e no fortalecimento das unidades de conservação como espaços de pesquisa, educação e preservação. 

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