Delegado Rafael Gomes é condenado a 50 anos de prisão por organização criminosa e tráfico de drogas
Agentes blindavam as investigações, auxiliavam a distribuição das drogas e recebiam propinas pelas atuações
O delegado da Polícia Civil Rafael Gomes de Oliveira foi condenado a cumprir 50 anos, seis meses e oito dias de prisão e a pagar multa de mais de R$300 mil reais pelos crimes de corrupção passiva, organização criminosa e tráfico de drogas, conforme a sentença proferida pelo juiz Daniel Réche da Motta, da 1ª Vara Criminal da Comarca de Juiz de Fora, na última sexta-feira (22). O agente atuava na Delegacia Especializada de Combate ao Narcotráfico em Juiz de Fora, intermediando ações entre policiais e traficantes.
De acordo com a sentença, durante as investigações da Operação Transformers, ficou comprovado que a organização criminosa, formada pelo delegado, policiais civis e advogados e liderada por um narcotraficante, atuava para auxiliar e blindar a distribuição de drogas na cidade e na região. De dentro da delegacia, os agentes usavam o aparato estatal e recebiam propinas para que os crimes fossem executados, sem quaisquer investigações que pudessem obstruir as atividades e assegurando a impunidade do esquema que abastecia o mercado de entorpecentes ilícitos. Também foi constatado que os acusados realizavam trocas de drogas apreendidas com os traficantes.
Os réus, que responderam ao processo em liberdade, foram condenados a regimes fechados e semiabertos, mas receberam o direito de apelar da decisão em liberdade. A sentença também determinou a confiscação dos bens dos condenados por constituírem produtos das infrações penais imputadas e por serem incompatíveis com seus rendimentos.
Em nota encaminhada à reportagem, a defesa do delegado Rafael disse ter recebido com “surpresa e inconformismo” a sentença e reafirmou a inocência do acusado, além de confirmar que “irá recorrer para o Tribunal de Justiça de Minas Gerais, em quem confia para que sejam reconhecidas as nulidades do processo e reformada a sentença, com sua absolvição de todos os crimes”. A Tribuna segue aberta para posicionamento das defesas dos demais acusados.
Além do delegado, foram condenados também os demais integrantes da organização:
- Rogério Marinho Júnior era inspetor da Polícia Civil e atuava controlando as investigações e o pagamento de propinas. O ex-agente foi condenado a cumprir 37 anos e sete meses de prisão e ao pagamento de multa no valor de R$455,40.
- Leonardo Gomes Leal, um dos investigados da Polícia Civil, também atuava no controle das investigações e no pagamento de propinas. Foi condenado a cumprir prisão por 13 anos, um mês e três dias e a pagar multa de R$49.790,40.
- Wilber Montezano de Mendonça, advogado que intermediava a comunicação entre policiais e traficantes e coordenava o pagamento de propinas, foi condenado a 29 anos e nove meses de prisão e ao pagamento de multa no valor de R$148.508,60.
- Wellington de Oliveira Lima, advogado que auxiliava no pagamento de propinas, foi condenado a cumprir 12 anos, três meses e 22 dias de prisão e a pagar multa de R$41.745.
- Gustavo de Souza Soares, investigador da Polícia Civil que atuava trocando os entorpecentes apreendidos com a organização criminosa. Foi condenado a cumprir 16 anos, quatro meses e 15 dias de prisão, além de pagar multa de R$170.775.
- Thiago Nazário Machado, investigador da Polícia Civil, também atuava na troca de entorpecentes apreendidos. Foi condenado a cumprir prisão por 16 anos, quatro meses e 15 dias e a pagar multa de R$170.775.
- Raphael Pereira Neto Luz, investigador da Polícia Civil, também atuava na troca de entorpecentes apreendidos. Foi condenado a cumprir prisão por 16 anos, quatro meses e 15 dias e a pagar multa de R$170.775.
- Alexandre Soares, investigador aposentado que solicitou propina à organização, foi condenado a cumprir quatro anos e seis meses de reclusão e a pagar multa de R$14.876,40.
- Telcio da Silva Clemente, narcotraficante e líder da organização, foi condenado a 21 anos e oito meses de prisão, além de pagamento de multa de R$170.775.