Plantas medicinais: saiba o que são, em que caso podem ser utilizadas e o cultivo correto
Professora do projeto de extensão sobre plantas medicinais da UFJF esclarece sobre o uso e conta sobre ação em parceria com Unidades Básicas de Saúde da cidade
As plantas medicinais são um recurso curativo milenar e muito utilizado por comunidades tradicionais. Seja para uma dor de cabeça, um problema nos rins, ou mesmo para afastar a ansiedade, essas plantas vêm diretamente da natureza e podem ser utilizadas de diferentes maneiras. Atualmente, elas têm sido utilizadas como tratamento complementar ou mesmo como principal, para diferentes doenças, e com apoio da ciência.
A professora da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Fabíola Rocha, que também coordena um projeto de extensão sobre o assunto, explica mais sobre o que essas plantas são, em que casos podem ser usadas, e a importância de um cultivo correto para que o tratamento ocorra como desejado.
O uso delas ocorre em função das substâncias químicas que elas produzem, e a importância fica evidente pela permanência desse recurso na sociedade, como explica Fabíola. O uso da camomila, erva-doce, capim-cidreira e espinheira-santa, por exemplo, já é bastante conhecido pela população, mas há casos em que, como a especialista destaca, as pessoas usam o potencial da planta sem mesmo saber que aquilo vem dela. “Como, por exemplo, a morfina, que é um dos principais hipnoanalgésicos empregados na medicina, e é obtido a partir do ópio, um produto da Papaver somniferum“, explica.
Muitas dessas substâncias, que são atualmente empregadas como medicamento tradicional e industrializado, são oriundas diretamente de plantas ou então de laboratórios que sintetizam substâncias semelhantes a essas naturais, para que elas tenham uma melhor atividade farmacológica ou sejam menos tóxicas. Além disso, o canabidiol também é citado como uma espécie de planta medicinal que passou a ter seu consumo associado a alguns tratamentos.
As substâncias ativas que as plantas medicinais possuem para o uso humano são produzidas por elas para a sua sobrevivência e relação com o ambiente, mas acabam criando outros resultados positivos. “Nós temos diferentes possibilidades de atividades farmacológicas e medicinais para diferentes plantas. (…) Assim como os medicamentos sintéticos são usados, muitas vezes, combinados para o tratamento de algumas doenças, a vantagem é que nas plantas já tem várias substâncias que podem atuar de diferentes maneiras, em diversas patologias”, explica a professora. Sendo assim, esses efeitos podem ser associativos, permitindo, portanto, uma atuação em diferentes disfunções e doenças. Um caso típico é o que acontece com a diabetes, que, conforme ela destaca, precisa ter um tratamento para além do controle da insulina e açúcar no sangue, sendo necessário tratar os sintomas desencadeados pela doença – algo em que as plantas medicinais seriam capazes de ajudar.
Para que esse tratamento ocorra corretamente, no entanto, é preciso que o uso de plantas medicinais seja feito com orientação sobre a utilização. “Como qualquer outro medicamento, não é toda planta que pode ser utilizada por toda e qualquer pessoa. Temos as indicações, as contraindicações, os efeitos adversos e até mesmo a possibilidade de toxicidade, então é fundamental uma orientação adequada para o uso”, destaca. No entanto, mesmo que existam reações adversas ao uso dessas plantas, como acontece com muitos medicamentos sintéticos, a especialista afirma que essas reações tendem a ser menos severas, em geral, do que quando ocorrem com os fármacos.
Indicações e contraindicações de plantas medicinais
A indicação para uso e até as contraindicações de cada caso, em relação às plantas medicinais, devem ser feitas por especialistas. Esse controle, como explica Fabíola Rocha, deve ocorrer desde o cultivo: “A gente precisa ter um controle da concentração dessas substâncias que são ativas presentes na planta”, diz. Conforme a especialista explica, apesar de as substâncias serem necessárias, elas devem estar em uma concentração que faça o efeito desejado. “Como qualquer outro medicamento, as plantas medicinais devem ser usadas com uma orientação profissional, já que também podem causar reações adversas ou serem tóxicas. Podem, ainda, reagir com outros medicamentos e até alimentos”, explica.
Importância do cultivo adequado
O cultivo adequado é apontado pela especialista como ponto chave para que o uso da planta medicinal seja seguro. “Essas plantas, como estão no ambiente, podem se contaminar com algo que esteja no solo, como algum metal ou microrganismos tóxicos. O cultivo correto, a coleta na época correta e a manipulação correta e higiênica dessa planta vão influenciar muito na sua atividade farmacológica”, afirma. Para ela, divulgar esse conhecimento é muito importante para conseguir colocar o uso dessas plantas no dia a dia, inclusive para que a população tenha direito a escolher a forma que mais se adequa aos tratamentos.
Projeto de extensão busca diálogo com UBSs da cidade
O projeto “Fortalecimento das ações do Horto da Faculdade de Farmácia da UFJF como fonte de plantas qualificadas para a comunidade circunvizinha”, em que Fabíola trabalha, é uma das vertentes que pesquisam esse tema dentro da universidade. Ela também destaca que, ao longo da formação em Farmácia, há disciplinas que tratam do tema, e ainda há o desenvolvimento de diversas pesquisas no assunto. A iniciativa de extensão, no momento, está dando os primeiros passos para formar uma relação com as Unidades Básicas de Saúde (UBSs) de Juiz de Fora.
“O nosso objetivo é fazer uma troca de saberes, para nós da academia entendermos as necessidades da população em relação ao uso de plantas com função medicinal e como alimento funcional também”, explica a professora. Além disso, destaca que os acadêmicos têm levado para a população os conhecimentos que estão sendo obtidos ao longo dos estudos realizados sobre a forma correta de se cultivar, coletar e manipular as plantas medicinais de forma higiênica para o uso. O projeto funciona com diversos profissionais, como as professoras Luciana Moreira Chedier e Nádia Sílvia Somavilla, da área de Botânica; e o professor Márcio Alves, da Medicina, além de alunos de graduação.” A ideia com essa ação é também propiciar aos graduandos em Farmácia a chance de estarem junto com a população, desenvolvendo a orientação farmacêutica dentro do uso de plantas medicinais”, diz.