Se der certo, todos serão idosos
A necessidade de programas para a terceira idade é um desafio a ser enfrentado por todos, do público ao privado, ante o fato de ser o destino comum da população
Houve um tempo em que era comum ouvir: “Meu pai envelheceu, fez 50 anos”. Os tempos são outros, a medicina avançou e, com ela, a longevidade de homens e mulheres. O que não muda são os desafios; os idosos têm, hoje, um papel assertivo em todos os setores. Ministros do STF se aposentam compulsoriamente aos 75 anos, embora em alguns setores a carreira termine com 30 anos de trabalho, contando – no caso das polícias – o tempo de academia. Com isso, profissionais no auge da carreira são compulsoriamente retirados dos quadros antes mesmo dos 50 anos de idade, a mesma que, em outros tempos, era o início da velhice.
Na edição de sexta-feira, a Tribuna publicou matéria de viés preocupante: “Em média, dez pessoas idosas são abandonadas por mês em Juiz de Fora”. A repórter Pâmela Costa foi às ruas, ouviu pessoas, especialistas e instituições e revelou um quadro que chama a atenção a despeito de todos os esforços públicos e privados na busca de uma terceira idade com dignidade.
Ouviu boas histórias de casais que se mantêm unidos até hoje, mesmo estando fora do convívio com familiares, e sim abrigados em casas de acolhimento, assim como observações do que ainda é preciso ser feito. O Brasil tem um expressivo contingente de idosos que cresce exponencialmente, contando a partir dos 60 anos. Há, pois, muito a ser realizado.
Juiz de Fora é uma das cidades referência quando se trata da terceira idade, por abrigar um expressivo contingente de pessoas que, ao se aposentarem, fazem do município o seu lar. As entidades de abrigo carecem, no entanto, de apoio privado, mesmo com direito a repasses públicos ante a crescente demanda.
Em termos nacionais, a situação é mais crítica, já que nem todos os municípios têm meios de acolher os idosos abandonados por seus próprios familiares. Se em Juiz de Fora há uma assustadora média de dez pessoas por mês, nas metrópoles de maior porte esses números são bem mais expressivos. Trata-se de uma questão de política pública.
Nos países mais abastados, há políticas sólidas para proteção dos idosos, que passam, especialmente, pelo acesso universal à saúde, cuidado de longo prazo e inovações tecnológicas. Somam-se pessoas públicas robustas e apoio para baixo rendimento. Além disso, comunidades de convivência assistidas têm cuidadores dignamente remunerados – o que não ocorre no Brasil, onde falta até mesmo a regulamentação do cargo – e habitações adaptadas.
O idoso, no entanto, não vive apenas o drama do abandono. As cidades precisam estar aptas a acolhê-lo com transporte, mobilidade segura e programas de engajamento comunitário.
O abandono também é um abuso, mas há casos de violência física que se consuma dentro do próprio seio familiar, sobretudo quando o idoso já não dá respostas financeiras ou quando exerce o livre direito de protestar.
A Organização Mundial de Saúde incentiva os países a adotarem planos nacionais que passam, inclusive, por programas de convivência entre jovens e idosos. Se os primeiros, hoje, estão no auge, serão eles, em algum tempo, os idosos de amanhã.