Reinar é servir
“A Igreja celebra, no próximo domingo, neste último dia do ano litúrgico, a solenidade de Cristo Rei”
A Igreja celebra, no próximo domingo, neste último dia do ano litúrgico, a solenidade de Cristo Rei. Falar de Cristo como Rei merece uma atenção pois as monarquias deixaram marcas reais e simbólicas em nós. Conhecemos a realeza como lugar do poder, do luxo, dos privilégios e das regalias, na maioria das vezes sendo opressora dos mais pobres.
Talvez seja por isso que os evangelhos, ao narrarem a história da vida de Jesus, nos mostram que Ele nunca quis ser rei como eles assim o compreendiam e todas as vezes que tentaram lhe dar esse atributo ele recusou e até fugiu. (Jo 6, 15). No momento de sua paixão, Jesus foi ironicamente nomeado por Pilatos rei dos judeus e puseram sobre ele um manto e uma coroa de espinhos, embora ele tenha dito inúmeras vezes que seu Reino não era desse mundo. Isso deveria nos alertar para que a celebração de Cristo Rei não repita tais gestos. Jesus é o Rei de um Reino onde o poder, as coroas e os mantos majestosos não têm lugar; Reino onde impera apenas o serviço amoroso aos outros, um cuidado especial para com os mais necessitados, um amor misericordioso, um perdão sem limites. Para Ele, reinar é servir.
O Papa Francisco, atendendo a uma sábia inspiração, em 2017 transforma o domingo anterior a essa comemoração de Cristo Rei, no Dia Mundial dos Pobres. O que isso significa? Quem tem ouvidos, ouça! Isso pode sinalizar que só é possível falar do reinado de Cristo quando entendermos que sua realeza aponta para um Reino que se realiza agora, mas ainda não plenamente, e que sinaliza para uma real opção pelos pobres, pelos pequenos, pelos vulneráveis, pelos que sofrem. Opção de vida que se concretiza no próprio modo de viver de Jesus, peregrino do amor e da esperança que andou na contra mão das realezas existentes a ponto de dizer: “As raposas têm tocas e os pássaros do céu têm ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde repousar a cabeça” (Mt 8, 20). Temos então, em Jesus, um rei diferente, que traz uma novidade capaz de nos salvar de nós mesmos, de nosso egoísmo e de nossa indiferença diante das dores e dificuldades de nossos irmãos.
Lembramos que, nesse domingo, a Igreja celebra também o dia dos Cristãos Leigos e Leigas, isto é, de todas as pessoas que, pelo batismo, deveriam assumir a missão de anunciar a realidade do Reino de Deus, já presente entre nós. O Conselho Nacional do Laicato no Brasil nos convoca, nesse ano, a assumirmos esse anúncio, mas também a denúncia de tudo o que ameaça e fere a vida. Somos chamados ainda a esperançar. Em um mundo marcado pela fragmentação, pela indiferença e pela normalização do absurdo, é preciso que nos tornemos peregrinos da esperança. Isso também porque o dia dos leigos e leigas nos coloca, neste ano, no caminho do Jubileu da Esperança, proclamado pelo Papa Francisco para 2025. Por termos a esperança como horizonte, teremos nossas forças renovadas para enfrentar os desafios pessoais, sociais, políticos e eclesiais que encontramos pelo caminho e que, muitas vezes, nos desmotivam e desanimam.
Com nossas forças renovadas pela presença de Jesus, um Rei pobre entre os pobres, pelo esperançar que possibilita um mundo mais justo e fraterno, sejamos, como leigos e leigas, sinais dessa realeza que humaniza e cura nosso mundo tão marcado por inúmeras feridas.
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