ProteĆna: 7 perguntas e respostas para garantir um consumo adequado
Diante da maior oferta de produtos enriquecidos com o nutriente, veja quais sĆ£o os riscos de exceder na quantidade ingerida diariamente
Passeie pelos corredores de um supermercado e certamente verĆ” uma grande variedade de alimentos com alto teor de proteĆna. Do iogurte ao suco, passando por biscoitos, pĆ£es, salgadinhos de ervilhas e afins, hĆ” diversas opƧƵes disponĆveis para aqueles que buscam praticidade aliada Ć promessa de um bom aporte proteico.
Na Ćŗltima dĆ©cada, o mercado brasileiro vem observando uma oferta cada vez maior de produtos enriquecidos com esse nutriente. Em 2019, alimentos com āalto teor de proteĆnasā representaram quase 5% de todos os lanƧamentos de bebidas e alimentos no paĆs, segundo a ferramenta GNPD da Mintel, agĆŖncia global de inteligĆŖncia de mercado. A tendĆŖncia segue em alta: somente neste ano, ainda de acordo com a Mintel, dentre os lanƧamentos “proteicosā, 35% foram na categoria de bebidas nutricionais, 26% de snacks/aperitivos e 8% de laticĆnios.
AlĆ©m dos frequentadores de academia, hĆ” tambĆ©m opƧƵes que podem servir como alternativas para quem enfrenta dificuldade no consumo das fontes convencionais de proteĆna: carnes, ovos, laticĆnios e leguminosas. Mas Ć© preciso um olhar minucioso ao rĆ³tulo, jĆ” que a maioria dos produtos Ć© classificada como ultraprocessados. Prefira aqueles com lista de ingredientes enxuta e preste atenĆ§Ć£o Ć s quantidades de aƧĆŗcar, gordura, sĆ³dio e aditivos.
Outra recomendaĆ§Ć£o Ć© tomar cuidado com o tamanho das porƧƵes. Embora a proteĆna seja essencial para nosso organismo, exageros estĆ£o por trĆ”s de malefĆcios. Inclusive, um estudo publicado em fevereiro na revista Nature Metabolism desvendou um dos mecanismos envolvidos no risco cardiovascular.
ApĆ³s pesquisas com humanos, estudiosos da Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos, fizeram experimentos com animais de laboratĆ³rio. āO excesso [de proteĆna] leva ao aumento de aminoĆ”cidos na corrente sanguĆnea e pode interferir com a atividade dos macrĆ³fagosā, explica o cardiologista BabakRazani, professor na Universidade de Pittsburgh e lĆder da investigaĆ§Ć£o.
No cenĆ”rio identificado na pesquisa, essas cĆ©lulas do sistema imunolĆ³gico passam a atuar de maneira diferenciada, favorecendo inflamaƧƵes nos vasos e contribuindo para a formaĆ§Ć£o da placa de aterosclerose. Segundo Razani, a leucina, uma partĆcula proteica presente em carnes, castanhas e soja, por exemplo, parece ser a principal envolvida no processo.
Para o pesquisador dos EUA, embora sejam necessĆ”rias mais pesquisas, o trabalho chama a atenĆ§Ć£o para os riscos atrelados ao exagero. āComo cardiologista, sugiro que as pessoas adotem cardĆ”pios equilibrados, baseados na Dieta MediterrĆ¢neaā, indica Babak Razani.
A seguir, especialistas respondem a algumas das principais dĆŗvidas sobre o consumo de proteĆna:
1. Qual a funĆ§Ć£o da proteĆna?
Do grupo dos macronutrientes (composto tambĆ©m por gorduras e carboidratos), a proteĆna tem papel fundamental na constituiĆ§Ć£o dos Ć³rgĆ£os e de todos os tecidos do corpo humano. Ela tambĆ©m age na produĆ§Ć£o de anticorpos e hormĆ“nios, alĆ©m de contribuir para a integridade de unhas, cabelo e pele.
Esse nutriente participa ainda da construĆ§Ć£o e reparaĆ§Ć£o muscular; e atua como fonte de energia e na manutenĆ§Ć£o e regulaĆ§Ć£o do metabolismo. Sem contar que prolonga a sensaĆ§Ć£o de saciedade, ajudandoa controlar o apetite.
2. Como saber a quantidade de proteĆna necessĆ”ria por dia?
A sugestĆ£o de consumo muda conforme sua idade, perfil e atividades cotidianas. āUm adulto saudĆ”vel deve consumir 0,8 grama de proteĆna por quilograma de peso corporalā, orienta nutricionista Giuliana Modenezi, do EspaƧo Einstein Esporte e ReabilitaĆ§Ć£o, do Hospital Israelita Albert Einstein. Assim, uma pessoa de 80 quilos, por exemplo, precisa de 64 g do nutriente por dia.
āA Sociedade Internacional de NutriĆ§Ć£o Esportiva (ISSN) recomenda de 1,4 a 2g de proteĆna/kg/dia aos indivĆduos que se exercitam diariamente, com variaƧƵes a depender da modalidade e da intensidade do exercĆcioā, comenta Modenezi.
As indicaƧƵes para gestantes, bebĆŖs, crianƧas e adolescentes tambĆ©m sĆ£o distintas e seguem diretrizes especĆficas. No caso de idosos, preconiza-se entre 1 e 1,5 g de proteĆna/kg/dia, quantidade que deve ser ajustada individualmente. āA proteĆna Ć© essencial para prevenir ou tratar a sarcopenia, que Ć© a perda de massa e da funĆ§Ć£o musculoesquelĆ©ticaā, comenta a nutricionista.
3. Quando Ć© preciso suplementar?
āEm situaƧƵes em que a ingestĆ£o proteica, por meio da alimentaĆ§Ć£o, nĆ£o atende Ć s necessidadesā, responde Modenezi. Atletas e praticantes de atividades fĆsicas intensas costumam precisar de suplementaĆ§Ć£o por conta da alta demanda na recuperaĆ§Ć£o muscular.
Segundo a especialista, indivĆduos com dietas restritivas, caso de veganos, intolerantes e alĆ©rgicos, assim como os idosos,tambĆ©m podem precisar suplementar. āA eficiĆŖncia da sĆntese proteica diminui com a idadeā, explica a nutricionista.
Outros grupos que podem demandar doses extras de proteĆna sĆ£o gestantes, lactantes e pacientes em recuperaĆ§Ć£o cirĆŗrgica. Mas vale ressaltar que a determinaĆ§Ć£o do tipo e a dosagem devem ser feitas junto a um nutricionista especializado.
Entre os suplementos proteicos mais populares estĆ£o a albumina, extraĆda da clara de ovo, a caseĆna e o whey protein, dupla oriunda do leite. āO whey protein Ć© conhecido por sua rĆ”pida digestĆ£o e alta qualidadeā, destaca Modenezi, que ressalta que hĆ” ainda opƧƵes de origem vegetal.
4. Quais os riscos de consumir muita proteĆna?
AlĆ©m do jĆ” mencionado risco cardiovascular ā que tambĆ©m estĆ” relacionado Ć presenƧa de gordura saturada nas fontes de proteĆna animal ā, o exagero estĆ” por trĆ”s de males renais.āO excesso pode sobrecarregar os rins, jĆ” que eles sĆ£o responsĆ”veis por filtrar e excretar os resĆduos metabĆ³licos do organismoā, explica Modenezi.
Abusos no consumo de carnes tambĆ©m podem aumentar a excreĆ§Ć£o de cĆ”lcio na urina. āEsse mecanismo colabora para a formaĆ§Ć£o de pedras nos rins, sobretudo em pessoas com predisposiĆ§Ć£oā, avisa a nutricionista do Einstein.
5. Quais sĆ£o as principais fontes de proteĆna?
O destaque vai para carnes, aves, pescados, ovos e laticĆnios. āHĆ” grandes fontes de origem vegetal tambĆ©m, especialmente as leguminosasā, observa a nutricionista DĆ©bora Donio, da Unidade de Check-Up do Hospital Israelita Albert Einstein. Ela se refere ao grupo que engloba feijƵes, ervilhas, lentilhas, grĆ£o-de-bico, soja e tremoƧo. Derivados como tofu e homus, por exemplo, tambĆ©m tendem a concentrar boas quantidades.
Outra turma que oferece o nutriente Ć© a das oleaginosas, ou seja, castanhas, nozes, amĆŖndoas, pistache e amendoim.āJĆ” os cogumelos nĆ£o oferecem quantidades interessantes, trata-se de um mito muito difundido por aĆā, pontua Donio.
6. Preciso comer carne para ter o aporte necessƔrio?
āĆ possĆvel adquirir proteĆna de alto valor biolĆ³gico oriunda de vegetaisā, garante DĆ©bora Donio. Para tanto, as leguminosas nĆ£o podem ficar de fora do cardĆ”pio. Inclusive, rechear a dieta com esses grĆ£os favorece a microbiota intestinal, num mecanismo que colabora para a absorĆ§Ć£o de diversos nutrientes.
Uma dica para aproveitar ao mĆ”ximo Ć© deixar o feijĆ£o de molho por cerca de 12 horas. āMas Ć© importante trocar a Ć”gua antes de mandar para a panelaā, avisa a nutricionista. A estratĆ©gia ajuda a diminuir o tempo de cozimento e reduz a quantidade dos chamados compostos antinutricionais, caso dos taninos.
7. Existem combinaƧƵes que melhoram a qualidade da proteĆna?
Sim, e um bom exemplo Ć© a brasileirĆssima mistura do arroz com feijĆ£o. āNessa combinaĆ§Ć£o, os aminoĆ”cidos que faltam em um aparecem no outroā, explica Donio. AminoĆ”cidos sĆ£o os pedacinhos de proteĆna que, juntos, se completam, desempenhando atividades de forma mais eficiente dentro do nosso organismo.
Embora a preferĆŖncia nacional seja a do arroz branquinho com feijĆ£o-carioca, dĆ” para variar os preparos. Que tal arroz 7 grĆ£os com grĆ£o-de-bico? Ou arroz integral com salada de lentilha? Ou mesmo alternar entre os feijƵes preto, vermelho, fradinho… āPara garantir o aporte, a sugestĆ£o Ć© optar por fontes variadasā, frisa DĆ©bora.
Outra recomendaĆ§Ć£o Ć© distribuir a ingestĆ£o proteicaao longo do dia. āO ideal Ć© fracionar o consumo a fim de garantir seu melhor aproveitamentoā, indica a nutricionista.