Os muitos interesses da política

A disputa de 2024 não será exclusivamente focada nas demandas das cidades; o eleitor será chamado a avaliar também o cenário nacional cuja polarização continua em curva ascendente


Por Tribuna

19/11/2023 às 07h00

As eleições municipais de 2024, além de sua importância para a gestão das cidades, serão também um teste de estratégia para o pleito geral de 2026. Pelo menos é o que se vê – a despeito da antecedência – nas articulações que já estão em curso, sobretudo nas metrópoles de grande porte e nas cidades de viés regional, como é o caso de Juiz de Fora. Os políticos discutem nomes, mas remetem as informações para os comandos estadual e nacional já cientes de que o jogo das cúpulas é diferente sob vários aspectos.

Na cotação dos nomes há subidas e descidas como é possível ver nas conversas de Brasília, sobretudo por conta da polarização instalada em 2018, reforçada em 2022 e que vai ficar mais clara ainda nas disputas municipais, já que os players nacionais consideram a eleição para as prefeituras e câmaras municipais um termômetro para o embate nacional. E mais, os eleitos para prefeituras e câmaras municipais são importantes cabos eleitorais na disputa para governos federal e estaduais, assembleias e Congresso Nacional. Boa parte já nas trincheiras do lulismo ou bolsonarismo.

Já está na fase de pré-venda o livro “Biografia do Abismo” no qual o diretor do instituto de pesquisa Quaest, Felipe Nunes, em parceria com o jornalista Thomas Traumann, analisa os efeitos da polarização. Além da política, ela também divide famílias, desafia empresas e compromete o futuro do Brasil, destacam.

Sem entrar no mérito das demais questões, o embate político por si só já é revelador. Os dois principais atores desse embate, o atual presidente da República, Luiz Inácio Lula, e seu antecessor, Jair Bolsonaro – reforçados pelo fracasso do caminho do meio na eleição passada – continuam como referência para todas as articulações já em curso. Embora os municípios tenham seus problemas próprios, não haverá surpresa na nacionalização das campanhas.

A forma como ela vai acontecer é outro desafio, pois os políticos terão que convencer o eleitor ser esta a melhor forma de chamar a sua atenção. Os primeiros ensaios apontam para críticas e defesas sem muito critério, ficando no ser contra ou a favor por mera estratégia sem profundidade na crítica ou na adesão.

Cria-se, num cenário deste, o ambiente propício para as fake news, por serem instrumento eficaz, sobretudo na desconstrução de biografias. A legislação sobre o tema ainda é rasa, sem produzir efeitos importantes. O ambiente digital, de novo, será a rota desse volume de demandas, muitas delas apartadas do viés republicano.

Além de a legislação ainda não produzir os efeitos necessários, outros fatores entram no debate, como é o caso da Inteligência Artificial. Ela tem sido usada para causas distintas e seus efeitos, sobretudo num ciclo em que não há qualquer regulamentação, podem ser críticos.

Exceção feita à Europa, os demais países não avançam na discussão sobre a regulamentação, considerando primeiro ser necessário experimentar para só depois avaliar o que deve ser feito. Pode ser um equívoco irreversível, pois nem todos a consideram um elemento de progressão social. Ao contrário, fazem dela um instrumento para interesses pessoais ou de grupos, que podem até colocar a democracia em risco.

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