Motoristas de aplicativo sabem quanto “ganham”?

“Um dos principais erros cometidos pelos motoristas de aplicativos é não calcular adequadamente a depreciação do veículo.”


Por Hugo Eduardo Meza Pinto, Economista, professor da Estácio e diretor da empresa de Economia Criativa Amauta; e Giancarlo Mina, Empreendedor, consultor e gestor financeiro

05/07/2023 às 07h00

Nos últimos anos, o setor de transporte por aplicativo tem crescido exponencialmente, atraindo milhões de motoristas em busca de flexibilidade e ganhos financeiros. Fizemos uma análise mais aprofundada em relação aos motoristas de aplicativo e nos deparamos com um fator fundamental. A grande maioria desses motoristas não faz cálculos de custos, depreciação, impostos, manutenção, entre outros. E, se eventualmente o fazem, eles não descontam de suas receitas. Um dos principais erros cometidos pelos motoristas por aplicativo é não calcular adequadamente a depreciação do veículo.

A utilização intensiva do automóvel resulta em um desgaste acelerado, o que reduz consideravelmente o seu valor ao longo do tempo. Em teoria, o motorista deveria ter dinheiro suficiente para comprar um veículo novo após cinco anos de uso. Como a maioria não reserva esse montante, praticamente o motorista “doa” seu automóvel que financia as tarifas baixas praticadas para esse transporte (mais baixas em relação ao sistema de táxi convencional). Essa omissão do cálculo distorce a percepção dos lucros reais. Além disso, os custos de manutenção dos veículos também são frequentemente negligenciados.

A alta demanda de viagens implica um desgaste maior de pneus, óleo, filtros e outros componentes do veículo, o que exige manutenção regular e reparos mais frequentes. Tais custos podem impactar significativamente os ganhos líquidos dos motoristas, reduzindo sua lucratividade geral.

Outro aspecto frequentemente esquecido é o pagamento de impostos. Como trabalhadores autônomos, os motoristas de aplicativo são responsáveis por pagar seus próprios impostos, incluindo o imposto de renda e as contribuições previdenciárias. Muitos motoristas não consideram adequadamente esses encargos ao estimar seus lucros, o que pode levar a surpresas desagradáveis quando a temporada de impostos chega.

O seguro também é outro custo não calculado. Devido ao alto risco do serviço, o custo do seguro de carros usados para realizar transporte via aplicativo é exorbitante. Para proteger de alguma forma seu negócio, esse motorista acaba contribuindo para cooperativas de proteção veicular. Este serviço é oferecido por associações de classe e cooperativas para seus associados. Nesse sistema, predomina o rateio, ou seja, os associados dividem diretamente os custos relativos a algum sinistro ocorrido com o veículo. Além dos custos diretos, os motoristas de aplicativo também precisam levar em conta as horas trabalhadas.

Embora a flexibilidade seja um atrativo, é essencial considerar o tempo gasto na atividade como um custo real. Muitos motoristas subestimam a quantidade de horas dedicadas ao trabalho, comprometendo assim sua relação entre ganhos, esforço e saúde.

Se todos os motoristas fizessem os cálculos corretamente, pensariam duas vezes antes de prestar esse serviço, que, muitas vezes, é realizado pela falta de oportunidades em outras áreas mais remunerativas. Longe de demonizar essa área de trabalho, levantamos aqui algumas questões que devem ser discutidas e analisadas por todos os envolvidos nesse mercado, incluindo as grandes empresas desses aplicativos de transporte e nós mesmos, usuários desses serviços que nos beneficiamos, indiretamente dessa precarização. Em resumo, se as contas não fecham, alguém está pagando o prejuízo, neste caso, é o motorista de aplicativo.

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