Números estratégicos
Pesquisa do IBGE é fundamental para a elaboração de políticas públicas e para avaliação do real retrato do país
Somos 203 milhões, número abaixo das projeções que indicavam que, em 2023, o país teria aproximadamente 208 milhões de habitantes, de acordo com os números do censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. O crescimento da população foi de 6,45% replicando cenário semelhante pelo país afora. De acordo com os dados, mais de três mil cidades diminuíram de tamanho em 2022, no comparativo com o Censo de 2010.
Em quarto lugar entre as cidades mineiras – atrás apenas de Belo Horizonte, Uberlândia e Contagem -, Juiz de Fora, de acordo com o IBGE, tem 540.756 habitantes. Os números contrariam projeções do próprio Instituto, que, em 2021, estimou que a cidade teria 577.532 habitantes.
É fato que a pesquisa divulgada nesta quarta-feira teve uma série de percalços, a começar pela fata de recursos, responsável pelo atraso na realização, e pelos dois anos de Covid que tiveram direta influência em todos os setores do país. Entretanto, há espaço para uma série de considerações, algumas surpreendentes e outras nem tanto, mas que constatam a desidratação de diversos municípios ante o êxodo de jovens, especialmente, em busca de oportunidades de trabalho.
O entorno de Juiz de Fora é a prova material desse novo perfil. A maioria dos municípios perdeu população, já que, diante da falta de oportunidade de trabalho, a migração torna-se natural. Santos Dumont, hoje com 42.406 habitantes, já teve 48 mil nos censos anteriores. Da mesma forma, outras cidades da Zona da Mata.
O Censo é estratégico para a elaboração de políticas públicas e uma delas passa, necessariamente, pela implementação de projetos que garantam a permanência de jovens, especialmente, em seus municípios. Para tanto, porém, é necessário que haja garantias econômicas para formação desse dique.
Não é de hoje que a periferia das metrópoles cresceu – e desordenadamente – em consequência da desidratação dos pequenos municípios, formando-se bolsões de pobreza por conta dos muitos que não conseguem o emprego desejado, mas sem meios, ou vontade, para retornar às suas origens.
Os questionários que virão da pesquisa serão importantes, ainda, para formatação de projetos e definição do volume de investimentos, já que o Fundo de Participação dos Municípios, uma das principais fontes de receita das prefeituras, é definido com base no número de habitantes.
Esses mesmos números também serão emblemáticos ao apontar a desigualdade entre as regiões, que é um dado concreto e preocupante. O país concentra a sua economia basicamente nas regiões Sul e Sudeste, o que justifica as disparidades que se mostram no dia a dia do país.
O atraso nas pesquisas gerou consequências na tomada de decisões. Trabalhar com dados é uma necessidade dos governos, sobretudo para conhecer um país desconhecido e distante das instâncias de poder, e carente de projetos que garantam o seu desenvolvimento.