Barganhas pelo poder
Ceder espaço no Governo para garantir maioria no Congresso faz parte do jogo. O ponto a discutir envolve a forma como as trocas são feitas
Em nova rodada de pesquisa para avaliar o Governo Lula, o Datafolha constatou que a maioria do eleitorado condena o toma lá dá cá instituído pelo presidente para obter apoio congressual a seu governo. Acham que ele age mal 61% dos ouvidos na mais recente pesquisa nacional do Instituto. Ainda de acordo com a pesquisa “já 34% aprovam a prática, que consiste em ofertar ministérios, cargos de escalões inferiores e verbas para tentar montar uma base de deputados e senadores para a aprovação de projetos do interesse do Executivo. Outros 5% dos entrevistados dizem não saber avaliar.
Os números são emblemáticos soando com uma reprovação ao modelo adotado pelo Governo, que, pelos mesmos objetivos, foi adotado também pelos mandatários anteriores, como o próprio Lula, nas gestões um e dois, de 2002 a 2010. Sem apoio parlamentar as demandas não andam no Congresso Nacional, obrigando o Governo a aceitar condições dos partidos, algumas nem sempre marcadas pelo viés republicano.
Os escândalos da história recente da política brasileiro tiveram esse jogo de poder como matriz e, a despeito de todas as consequências, como mensalão, petrolão e outos “ãos”, ele segue intacto.
Para esvaziar parte do poder do Centrão, que se espelha na figura do presidente da Câmara, Arthur Lira, está surgindo um novo bloco na Câmara Federal, formado por dissidentes inconformados com a divisão de poder, ora concentrada em mãos de poucos, como o próprio Lira e de presidente dos partidos como Valdemar da Costa Neto, do PL.
Esses personagens, com assento em partidos como PSD e MDB, estão abrigados nos ministérios do atual mandato, mas já sinalizam que querem mais espaço, replicando a fome por espaço do Centrão tradicional. Na campanha de 2022, Lula fez duras críticas à base de seu antecessor, mas sabe, por já teve vivido experiências pretéritas, que não dá para governar sem uma base sólida. O argumento é que agora não há barganhas e que a cessão de cargos faz parte da democracia.
Ao fim e ao cabo, não há meios para evitar tais associações, já que nenhum partido tem votos suficiente para garantir a agenda do Planalto. O PT, mesmo sendo uma das maiores forças do Parlamento, não tem votos necessários para uma gestão exclusiva, sendo obrigado a negociar.
Os eleitores se mostram críticos não pelo fato em si, por não haver novidades. O que a pesquisa mostra é o sentimento de frustração que sempre ocorre na fase inaugural do mandato e que contrasta com o que foi dito nos palanques. Em 2018, o então candidato Jair Bolsonaro também fazia duras críticas ao Centrão, mas acabou caindo em seus braços para garantir o mandato.
O jogo continua sendo jogado sob o mesmo formato desde o início da Nova República e não há sinais de mudança. Formar maiorias leva a trocas. O que os gestores podem e devem definir é a forma como elas são feitas. E é aí que reside a diferença.