O admirável Papa Bento XVI
“Ao longo de sua vida, (…) Ratzinger sempre quis lembrar que a fé da Igreja precede, gera, sustenta e alimenta a fé dos católicos”
“Eu creio para compreender e compreendo para melhor crer.” Essa máxima de Santo Agostinho revela com exatidão a trajetória de vida do manso e inteligente Joseph Aloisius Ratzinger. Na minha juventude, eu amei o Papa São João Paulo II e observava o quanto ele admirava e defendia o então cardeal Ratzinger. Esse testemunho do Papa polonês a favor de Ratzinger não era irrelevante. São João Paulo II conhecia a inabalável fé e as qualidades intelectuais daquele que mais tarde seria seu sucessor na Cátedra de Pedro.
Ao longo de sua vida, e sobretudo ao exercer o cargo de prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, Ratzinger sempre quis lembrar que a fé da Igreja precede, gera, sustenta e alimenta a fé dos católicos, e, consequentemente, o que deve crer o fiel é aquilo que a Igreja crê. As intervenções do Magistério da Igreja servem para garantir a unidade da Igreja na verdade de Cristo. Ajudam a “permanecer na verdade”, frente ao caráter arbitrário das opiniões mutáveis, e são a expressão da obediência à Palavra de Deus. Assim, Ratzinger considerava que, mesmo quando pode parecer que limitem a liberdade dos teólogos, as intervenções do Magistério da Igreja “instauram, por meio da fidelidade à fé que foi transmitida, uma liberdade mais profunda, que não pode provir senão da unidade na verdade” (Instrução Donum veritatis nº 35).
As posteriores posições heterodoxas de certos teólogos da libertação, inclusive no campo moral, mostraram claramente o quanto o cardeal Ratzinger foi sábio ao disciplinar esses teólogos, mostrando que a teologia não pode ser manipulada para fins ideológicos, políticos ou pessoais. Ratzinger ensinou que os enunciados da fé não resultam de uma investigação puramente individual e de um livre exame da Palavra de Deus, mas constituem uma herança eclesial. Se alguém se separa dos Pastores que velam por manter viva a tradição apostólica, é a ligação com Cristo que se encontra irreparavelmente comprometida.
Um dos maiores e notáveis trabalhos do cardeal Ratzinger foi a sua decisiva contribuição na elaboração do Catecismo da Igreja Católica, iniciado em 1986 e definitivamente promulgado por São João Paulo II em 1997. Com mais de 2.800 parágrafos, esse Catecismo é uma exposição dos conteúdos essenciais e fundamentais da doutrina católica tanto sobre a fé como sobre a moral, à luz do conjunto da tradição da Igreja. Ao combater o relativismo moral e religioso, Ratzinger explicou ao mundo sobre a unicidade e a universalidade salvífica de Jesus Cristo e da Igreja. Esse foi o tema da admirável “Declaração Dominus Iesus”, publicada no ano 2000.
Sabemos que a providência divina, e não os conchavos políticos, levou Ratzinger ao papado, e ele exerceu seu ministério petrino de maneira serena e corajosa num período marcado por problemas morais dentro e fora da Igreja. Entre os principais documentos que publicou no exercício das funções de Sumo Pontífice, estão as encíclicas “Deus Caritas Est”, “Spe salvi” e “Caritas in Veritate”. Consciente de suas fragilidades físicas, o Papa Bento XVI renunciou em conformidade com a lei canônica (cânon 332 § 2), e não movido por supostas pressões internas ou externas.
“Senhor, eu te amo!” Essas foram as últimas palavras pronunciadas pelo admirável Papa Bento XVI, algumas horas antes de morrer. De Joseph Aloisius Ratzinger fica um exemplo de perfeita ortodoxia, de retidão, de fé, de desprendimento e de caridade. Em uma palavra podemos, todos, dizer que ele foi um grande homem!