A mobilidade e o futuro
A modernização do sistema é apenas uma das muitas faces da sociedade moderna, que passa por transformações frequentes e, em boa parte, imprevisíveis
O transporte coletivo sempre foi uma demanda prioritária na agenda dos governos, mas sempre com o viés desafiador ante as mudanças permanentes dos municípios e sua mobilidade. Nos últimos anos esse desafio se acentuou com o sistema sendo um dos mais afetados pela pandemia do coronavírus. Juiz de Fora já teve uma ocupação de 10 milhões de usuários ano que na fase mais aguda da doença despencou para 2 milhões. E não foi só isso. A qualidade do sistema também tirou uma parcela importante dos usuários, que migrou para outros modais ou até mesmo adotou formas mais conservadores de transporte. O resultado foi caótico, com a falência de empresas pelo país afora, e em Juiz de Fora não foi diferente.
Tendo a tarifa como única fonte de financiamento, a conta passou a não fechar, com prejuízos frequentes para as empresas e queda da qualidade para os usuários. Por isso, era preciso fazer algo antes que o caos se instalasse. Em Juiz de Fora, a gestão inaugurada pela prefeita Margarida Salomão passou a subsidiar o sistema, a fim de garantir o congelamento das tarifas sem comprometer as empresas. Trata-se de uma prática comum no chamado primeiro mundo, pois há dados reais de não haver outra saída para manter o preço das passagens do tamanho do bolso dos passageiros.
Mas isso só não basta. O sistema de transporte coletivo carece de atualização, a fim de se adequar aos novos tempos. A digitalização, que mudou os parâmetros das empresas chegou também aos ônibus, e nem todos fizeram o dever de casa. Na semana que terminou, empresas e colabores tiveram que sentar à mesma mesa para negociar a situação dos trocadores, cujo futuro é incerto ante as novas ferramentas digitais. Prevaleceu o bom senso, pelo qual ninguém perde: as empresas terão que, necessariamente, se atualizar e os trabalhadores, com a garantia de empregos, terão que se encaixar no novo modelo. A qualificação para novos postos tornou-se a saída ideal.
O que ora ocorre no transporte já envolveu diversos outros segmentos. O sistema bancário foi o que passou por uma das mais drásticas mudanças. As filas no caixa, nas quais o olhar era para ver qual delas era a mais adequada – sem a presença de “mirins” com pacotes de cheques para descontar – são coisa do passado. Hoje, a maioria das ações ocorre longe dos bancos, graças aos caixas eletrônicos e, sobretudo, aos aplicativos. Houve um preço, com milhares de bancários perdendo os seus postos.
Muitas mudanças são inexoráveis, o que implica na obrigação das diversas instâncias de qualificar seus profissionais, a fim de garantir a eficiência do serviço e afastar o risco do desemprego. Quem ingressa no mercado de trabalho também deve estar atento. A Modernidade Líquida, retratada especialmente pelo sociólogo polonês, Zygmunt Bauman, é a face mais exposta destes novos tempos nos quais “o momento histórico que vivemos atualmente, em que as instituições, as ideias e as relações estabelecidas entre as pessoas se transformam de maneira muito rápida e imprevisível”.