Recados não ouvidos
As urnas de 2 de outubro confirmaram sinalizações aos partidos que têm sido dadas no decorrer dos pleitos. A conta chegou com um gosto amargo para alguns
As urnas de 2 de outubro deram uma série de recados para a instância política, como tem sido comum em todos os pleitos, sem que, necessariamente, estes sejam avaliados. Mas o eleitor insiste. No último, e talvez antes dele, a situação de diversos partidos já era crítica não só pela performance que seria definida pelos eleitores, mas por processos que culminaram nas eleições.
O caso mais emblemático foi do PSDB. O partido, que já governou o país em dois mandatos consecutivos de Fernando Henrique Cardoso e esteve por quatro gestões seguidas na liderança mineira com Aécio Neves e Antonio Anastasia, e ainda teve um mandato com Eduardo Azeredo, saiu menor do que entrou, não apenas por conta do pleito, mas também por discussões internas que se refletiram nas pesquisas e foram confirmadas nas urnas.
Depois de Aécio Neves ter perdido a eleição presidencial, a legenda entrou em dura discussão interna – agravada pela Lava Jato, que colocou o então senador em situação crítica. O parlamentar, estrela ascendente na legenda e com chances de voltar a disputar a Presidência, entrou em rota descendente e levou consigo o tucanato mineiro. Aécio nunca deixou de ser “cardeal” no estado, mas seu papel nas articulações recentes foi mais para embaraçar do que para ajudar.
Foi dele o primeiro e principal veto à candidatura do então governador de São Paulo, João Doria, que até ganhou a prévia para ser o nome para presidente, mas ficou sem fôlego para levar o projeto adiante. A consequência foi crítica. O partido se desidratou também em São Paulo, e o governador Rodrigo Garcia, um dia após ser derrotado, pulou para o palanque do presidente Jair Bolsonaro. É fato que sua decisão foi mais para a plateia do que de fato, pois desde o início da semana está na sua residência de veraneio em Miami, em vez de estar – como prometeu – mobilizando prefeitos do interior paulista para o palanque do presidente.
A campanha para o Governo de Minas foi um espelho da crise que afeta a legenda. O candidato Marcus Pestana, a despeito de sua conhecida qualificação, foi vítima desse processo, e sua votação não saiu da casa de um dígito nas pesquisas e nas urnas.
Sem força em Minas e em São Paulo, o PSDB tem como último opção o Rio Grande do Sul, com o candidato Eduardo Leite. Os gaúchos têm a tradição de não reeleger governador, mas podem abrir uma exceção ante o tom da campanha apresentado pelo ex-ministro Onyx Lorenzoni (PL), que criou uma pauta moralista para enfrentar o ex-governador.
O MDB, outro a receber recado das urnas, sinaliza ter se contentado com um papel coadjuvante nas eleições. Mantém forte capilaridade nos rincões, mas abriu mão dos projetos majoritários.
A mensagem mais recente foi encaminhada ao Partido Novo, que estreou nas urnas de 2018 e viu seus números caírem abissalmente no Congresso Nacional. O governador Romeu Zema, reeleito para o Governo de Minas, já sinaliza que haverá mudanças, ao perceber que não dá para fazer política sem parceiros. Com a ambiciosa agenda de ser player em 2026, já reconhece a necessidade de alianças que vão além de meras coligações ou federações. Haverá resistência, mas, se não quiser seguir a rota do PSDB, o Novo terá que repensar suas articulações.