Laboratórios relatam dificuldades para adquirir testes de Covid-19
Demanda por exames segue alta, e já há registro de falta de estoque; ao menos dois estabelecimentos não conseguem atender toda a procura, que disparou desde o início do ano
Com o grande aumento da procura por testes para detecção da Covid-19, laboratórios e drogarias de Juiz de Fora já encontram dificuldades para adquirir os exames. A Tribuna constatou, nesta quinta-feira (20), que pelo menos dois laboratórios não têm testes suficientes para atender a demanda, que disparou nas primeiras semanas deste ano e já chegou a passar de 400 exames por dia em um dos locais. As filas de pessoas que aguardam a testagem do lado de fora dos estabelecimentos continuam, e o impacto também vem sendo sentido nos hospitais, que relatam aumento na busca pela testagem.
A insuficiência no estoque de testes já é realidade no Laboratório Carlos Chagas, segundo o biomédico Elias Bahia, desde o dia 10. “A demanda aumentou, mas nós não estamos conseguindo atender devido à falta de insumos no mercado”, diz. “Até os laboratórios grandes, que fazem o (teste) PCR, ficaram desabastecidos de insumos”, lamenta Bahia, estimando que o fornecimento deve ser retomado de forma suficientemente abrangente até o início de fevereiro.
Os insumos necessários para os testes são importados pelo laboratório a partir de distribuidoras com sede em cidades como Belo Horizonte e Rio de Janeiro, de acordo com o biomédico. Até o momento, o Carlos Chagas possuía estoque de exames e seguia atendendo ao público, mas o contínuo crescimento na demanda fez com que restassem poucos kits de testagem.
“A gente consegue testar, mas pouco, e com o valor um pouco mais alto (…). Aqui, não chegou a faltar nenhum dia, porque estávamos com estoque bom. Mas, se continuar assim, vai começar a faltar”, diz Elias. “A procura não diminuiu desde a primeira semana de janeiro. Na verdade, aumentou”.
No Lawall Laboratório, a escassez de testes também já é realidade. De acordo com Henrique Lawall, administrador do laboratório, o estabelecimento passa por dificuldades para importar os exames. “O laboratório não tem testes (para suprir toda a demanda). Só (temos teste) PCR, e com a cota de dez por dia”, afirma. No local, a realização dos testes é por ordem de chegada. Ou seja, apenas os dez primeiros clientes que chegam ao laboratório conseguem sair de lá testados.
400 exames por dia
No Lemos Laboratório ainda não há problema para a realização da testagem, mas a demanda segue em crescimento, de acordo com Isabella Barreto, que é responsável pelo setor de testagem do laboratório. “A procura realmente aumentou. Durante todo o dia a gente está com fila na porta do laboratório”, conta. Segundo a funcionária, o estabelecimento chega a testar até 400 pessoas em um dia. “Na semana passada, tivemos que contratar mais pessoas por conta da demanda”.
Outro fator destacado por Isabella é o índice de exames positivados. Na primeira semana de janeiro, o percentual de exames que detectaram a presença da Covid-19 em pacientes era de 30%, dado que subiu para 38%, segundo o monitoramento da funcionária. “É a mesma média que a gente tinha em março de 2021”, diz, fazendo referência ao pior momento da pandemia.
Rede de farmácia também tem aumento
Uma das redes de farmácia que fornece testes de Covid-19 em Juiz de Fora, a Drogaria Araujo apontou aumento, em escala nacional, de 600% na demanda por testes de Covid no mês atual em relação a dezembro. “Já no comparativo entre a primeira e a segunda semana de janeiro, cresceu 44%”, constata. A drogaria ainda informou que foram diversificadas as marcas de testes para atender a toda a demanda e que funcionários estão sendo reposicionados para as lojas com maior procura.
Durante a apuração da Tribuna, foi constatada falta de testes em algumas drogarias de Juiz de Fora. Os responsáveis pelos estabelecimentos, entretanto, solicitaram que não fossem identificados.
Impacto nos hospitais
A escassez de testes de Covid-19 tem preocupado o Hospital Unimed. Em nota encaminhada à Tribuna, a unidade informou que há falta de testes na cidade. “Com o aumento das síndromes respiratórias, após as festas de final de ano, a procura por testes rápidos da Covid cresceu ‘absurdamente’, segundo os profissionais da saúde, e o risco é faltar o RT-PCR, outro exame que detecta o coronavírus”, afirma. De acordo com a nota, alguns fabricantes de testes pedem até 30 dias para entrega por conta da falta de insumos.
No Laboratório Unimed, de acordo com a assessoria, 2.091 exames já foram processados neste mês de janeiro, quase o dobro dos 1.300 testes realizados em todo o mês de dezembro. A taxa de positivados também chama a atenção, chegando a 52,13% de exames detectando a Covid-19. “Esta alta impacta no tempo de liberação dos resultados e no risco de desabastecimento”, diz a nota.
No Hospital Albert Sabin, por outro lado, ainda não houve problema com a realização dos testes. Os testes da unidade são realizados no Laboratório Cortes Villela, que segue realizando os procedimentos normalmente. “A testagem dos funcionários do hospital é feita pela Vigilância Sanitária, e também não estamos encontrando dificuldade para realizar”, garante o hospital, por nota.
A reportagem entrou em contato com a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) para questionar se o Município possui testes suficientes nas unidades de saúde. Entretanto, até a edição desta matéria, o Executivo municipal não havia se posicionado.