Presença de venezuelanos nas ruas de Juiz de Fora preocupa autoridades
Grupo da etnia indígena Warao foi visto pedindo dinheiro na região central; Centro de Direitos Humanos e Núcleo de Migrações do Estado realizam reunião para discutir encaminhamentos
A maior presença de grupos de venezuelanos nos semáforos dos cruzamentos da região central de Juiz de Fora pedindo dinheiro, assim como a maior ocupação deles nas esquinas e praças da cidade já é uma preocupação das autoridades locais. De acordo com o Centro de Referência em Direitos Humanos (CRDH), um grupo de venezuelanos, de etnia indígena Warao, chegou a Juiz de Fora em busca de auxílio. O agrupamento seria formado cerca de dez adultos e algumas crianças.
Segundo a coordenadora do CRDH, Fabiana Rabelo, com o intuito de realizar ações que contribuam para efetivação dos direitos destas pessoas, o Centro de Referência, em parceria com o Núcleo de Migrações, Enfrentamento ao Trabalho Escravo e ao Tráfico de Pessoas da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social de Minas Gerais, realiza, nesta quinta-feira (7), uma reunião com objetivo de alinhar possíveis encaminhamentos para os venezuelanos. O encontro será realizado pela plataforma Meet, às 15h, e irá contar com também com representantes do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiado (Acnur) e a Organização Internacional para as Migrações (OIM).
“Começamos uma articulação de rede. Primeiro, buscando a Aban (Associação dos Amigos) e as Aldeias SOS, que têm convênio com a Acnur, que é o organismo que, no Brasil, tem acompanhado a questão dos venezuelanos, a fim de saber mais sobre a situação deles aqui na cidade. Tivemos notícias do setor de abordagem social da Prefeitura de que um grupo desejava ir para São Paulo e pediram auxílio da migração porque estavam enfrentando problemas referentes à documentação”, afirmou Fabiana, acrescentando que seriam 15 pessoas neste grupo.
A Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) informou que esse grupo de venezuelanos refugiados seguiu para São Paulo, nesta quarta-feira (6). Conforme a Administração municipal, durante o período que em permaneceram na cidade, foram atendidos pelas Secretarias de Saúde, através do “Consultório na Rua”, e de Desenvolvimento Social, através do “Serviço de Abordagem Social”.
Ações para reconhecimento do público
Conforme Fabiana Rabelo, a reunião desta quinta também servirá para formação e conhecimento caso surjam outros grupos de venezuelanos em Juiz de Fora. “Também chamamos para participar desse encontro a Defensoria Pública da União, secretarias locais de Assistência Social e de Direitos Humanos, Conselho de Segurança Alimentar, Consultório na Rua e outros atores, para que possamos pensar ações para essas pessoas, saber o que está sendo feito pelos outros municípios, como Montes Claros e Uberlândia, que têm grupos já instalados”, ressaltou a coordenadora do CRDH, acrescentando que a reunião também será importante para que os órgãos tenham mais conhecimento a respeito desse público.
Venezuelano se mobiliza para ajudar compatriotas
Mobilizado por meio de um perfil no Facebook, um grupo de venezuelanos radicado na cidade criou uma página chamada Organização Comunitária Venezuelanos em Juiz de Fora, que tem a finalidade de manter a comunidade unida e informada acerca de oportunidades de emprego, estudos, doações, encontros e confraternizações, a fim de evitar que seus compatriotas precisem parar nas ruas para pedir dinheiro.
Alberto Farias, de 24 anos, que há quatro anos está no Brasil, é um dos responsáveis pela página. Atualmente, é estudante de jornalismo na UFJF e motorista de Uber. Ele mora com a namorada também venezuelana, mas, como ele próprio diz, chegou a Juiz de Fora sozinho “com uma mão na frente e outra atrás”. Hoje já tem outros familiares morando na cidade e usa toda experiência que adquiriu ao longo dos últimos anos para ajudar outros compatriotas.
“Tinha um levantamento que deixamos de fazer em janeiro de 2019. Naquela época, havia 834 venezuelanos em Juiz de Fora, entre adultos e crianças. Eu fui um dos primeiros a chegar à cidade por meio do projeto de interiorização dos venezuelanos, que começou de forma independente e agora está sob responsabilidade da FAB (Força Aérea Brasileira). Por ser um dos primeiros, comecei esse trabalho de mapeamento daqueles que aqui chegavam. Como comecei a estudar jornalismo na UFJF e trabalhar como Uber tive que deixar esse trabalho meio de lado, mas acredito que hoje, em dia Juiz de Fora, tenha entre 1.500 e 1.800 venezuelanos, o que não parece porque estamos espalhados pela cidade”, afirmou Alberto.
Ele contou que tinha o desejo de que criar uma associação, mas ainda não foi possível e, por esta razão, a página no Facebook (Venezolanos em Juiz de Fora) tem sido o meio pelo qual ele e seus compatriotas têm mantido contato e ajuda mútua. “Por meio dessa página nos relacionamos e apoiamos aqueles venezuelanos que precisam de doações de cesta básica, orientação para documentos, oportunidades de trabalho e de moradia. Se alguém precisa de comida, encaminhamos para instituição espírita Casa São Francisco de Assis, que nos presta muito apoio com cesta básica. Sobre documentação, fazemos orientação, agendamento na Polícia Federal. Se a pessoa precisa de móveis, nos mobilizamos, fazemos campanhas com o intuito de ajudá-la”, ressaltou.
O estudante disse que o grupo está sempre unido e apto para tomar providências. “Se alguém tem uma geladeira para doar, a gente faz uma vaquinha e paga o frete para buscar e fazer a entrega para quem precisa”, afirmou. Para os venezuelanos que precisarem de ajuda e para as pessoas que quiseram doar, o telefone de contato é (32) 9834-9008, o que também pode ser realizado por meio de mensagem na pagina do Face. “Não excluímos outras nacionalidades, pois temos no nosso grupo haitianos, sírios, colombianos, gongoleses”, pontuou Alberto, acrescentando que a meta é sempre ajudar o próximo, tornando a estadia dele na cidade a melhor possível.