Antônio Almas: pedimos que cada cidadão que puder fique em casa
Chefe do Executivo fala sobre ações de enfrentamento à Covid-19 no município e afirma que há 4 mortes suspeitas
Em entrevista coletiva concedida na tarde desta sexta-feira (27), o prefeito Antônio Almas (PSDB) foi taxativo ao afirmar que o decreto que determina medidas de enfrentamento ao coronavírus, com restrições ao funcionamento do comércio em Juiz de Fora, será mantido.
“A Prefeitura de Juiz de Fora não abrirá mão de seu decreto. Pedimos, imploramos e solicitamos que cada cidadão que puder fiquem em casa. É uma avaliação que é feita mundo afora e recomendada pela OMS”.
Assim, a despeito de pleitos por abrandamentos das medidas mitigatórias já adotadas, Almas reforçou o entendimento do Município sobre a necessidade de se reforçar o isolamento social. “Temos um grande conflito entre salvar as vidas imediatamente e todos os problemas econômicos do isolamento que poderão vir. Por conta disto, alguns defendem que devemos ser mais brandos na condução deste processo. Com todos os dados que temos hoje é uma questão de opção, e a Prefeitura de Juiz de Fora vai seguir propondo o isolamento para que esta curva tenha o desenho que todos nós esperamos.”
O prefeito avalia ainda que nenhum caminho é sem risco, e a decisão de manter as medidas restritivas é difícil, porém necessária.
“Qualquer decisão tomada terá seus efeitos colaterais. Com todos os riscos, continuamos apostando no isolamento social. Não quero repetir o que fez o prefeito de Milão, que foi a público pedir desculpas e dizer que errou.”
Neste caso, Almas fez referência a Giuseppe Sala, prefeito da cidade italiana, que, recentemente, veio a público reconhecer que errou ao abrir mão de medidas restritivas e pedir à população para sair às ruas em meio à pandemia de coronavírus, o que acabou resultando, um mês após a campanha, em mais de quatro mil mortes.
Subnotificações
Almas disse que o Município trabalha com números e cenários próprio, que são repassados para o Estado, que fica responsável pela divulgação dos dados relacionados à pandemia. “Muitas das vezes, a velocidade com que os dados são transmitidos não é a mesma que a que temos acesso a estas informações. Trabalhamos com cenários que adiantam e nos permitem dar um passo à frente e sermos mais ousados”, ponderou, como forma de justificar a decisão por manter as medidas restritivas para evitar aglomerações de pessoas e fomentar o isolamento social.
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Sobre possíveis subnotificações, o prefeito admitiu que a Prefeitura investiga quatro mortes que poderiam ter sido causadas pelo novo coronavírus na cidade. “O Estado já divulgou 11 casos na cidade. Temos um dado um pouco acima disto. Podemos publicar a qualquer momento. Trabalhamos com a premissa de repassar os dados, e o estado torna estas informações públicas”, considerou, para logo em seguida acrescentar:
“Temos quatro casos de óbitos que estão sendo investigados. O que não quer dizer que serão confirmados”
Segundo o prefeito, a Prefeitura tem seguido os mesmos protocolos adotados para as notificações de casos de dengue ao repassar as informações para o Governo do Estado. “Não estamos sendo levianos com estes dados”, pontuou. O próprio Almas, no entanto, confirmou que os dados usados pelo Município podem ser maiores do que os noticiados pelo Estado, sem, no entanto, detalhar tais informações. O mais importante são os números com os quais nossos técnicos estão trabalhando que podem garantir que este é o momento de ficar e casa, pois enfrentaremos o pior momento da crise que em um pior cenário pode acontecer em 15 dias e em um melhor cenário, em 30 dias.”
Sobre a testagem de casos na cidade, Antônio Almas considera que a Prefeitura trabalha dentro do cenário possível. “O ideal seria que conseguíssemos testar todos.’, admite. Porém, para isto, o prefeito estima que seriam necessários recursos que poderiam variar entre R$ 70 milhões e R$ 150 milhões. “Precisamos fazer com que os testes sejam usados da forma mais racional possível”, neste casos, assim como o protocolo adotado no país, os testes estão sendo destinados aos pacientes em situações mais graves. “Existe um limite entre o ideal e o possível.”
O prefeito garantiu que o Município trabalha para garantir a quantidade necessária de equipamentos de proteção individual (EPI) para todos os profissionais que atua na rede municipal de saúde, afirmado que a Prefeitura recebeu um carregamento de insumos recente e já aguarda a chegada de outro. Porém, Almas fez um apelo para a população que não compre materiais usados pelos profissionais de saúde sem necessidade. “Este uso pode fazer com que falte este material para um profissional de saúde que trabalhar para cuidar de todos nós.
Possíveis cenários
Diante dos números disponíveis, Almas afirma que a Prefeitura tem trabalhado com alternativas e projeções diversas. “Temos cenários mais tranquilos e outros em que o colapso se aproxima do que estamos assistindo na Itália neste momento.” Neste sentido, o prefeito não descarta a opção pela efetivação de um hospital de campanha. Opções como o Sesc Pousada e o Expominas já teriam sido estudadas pela Prefeitura.
Almas considera ainda que o Estado de Minas Gerais precisa dizer qual papel que Juiz de Fora deverá assumir durante a crise pandêmica.
“Precisamos saber se a gestão do Município será direcionada a seus mil habitantes. Se for, teremos uma necessidade própria de leitos. Se for para toda microrregião, são um milhão de habitantes e outras necessidades. Se tivermos responsabilidade sobre o Centro-Sul do Estado, são mais de dois milhões de habitantes.”
Para o caso de uma atuação de abrangência regional, Almas defende que o planejamento englobe leitos de UTIs de municípios próximos como Cataguases, Muriaé e Barbacena, por exemplo. “O prefeito de Juiz de Fora não tem autoridade para determinar esta gestão a outros municípios. Isto é uma prerrogativa do estado. Mas nossa equipe está trabalhando com todos os cenários possíveis e buscando respostas para todos estes cenários.”
Almas considerou, no entanto, que é necessária a colaboração dos demais entes federados no combate à pandemia em Juiz de Fora e região.
“Há respostas que têm que ser dada pelos governos estadual e federal, que dizem respeito a liberação de recursos e insumos. As esferas estadual e municipal têm conversado. Buscamos estar preparados para qualquer cenário.”
Sobre a busca por soluções no que diz respeito à disponibilidade leitos, Almas defende que o Município tem feito seu dever de casa. “O nosso HPS já tem 60 leitos à disposição para pacientes com Covid-19. Já orientamos a suspensão das cirurgias eletivas a nível dos SUS. Os hospitais privados seguiram as mesmas diretrizes. Isto significa a disponibilização de leitos.”
Neste sentido, o prefeito considera ainda que as medidas restritivas adotadas pela Prefeitura por meio de decreto também contribuem para uma maior disponibilidade de leitos de terapia intensiva.
“Quando estamos pedindo que pessoas não saiam de suas casas, estamos diminuindo o número de pessoas circulando na cidade de carros e motos. Assim estamos diminuindo o número de acidentes que é a principal motivo de ocupação de UTIS no Brasil.”
Ainda de acordo com Almas, a busca por parcerias para ajudar no enfrentamento à pandemia do coronavírus tem sido uma constante por parte da Prefeitura. “A Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) tem contribuído muito para cidade com técnicos, professores e doutores, que têm nos ajudado a preparar soluções.”
Hospital de campanha
Apesar de o prefeito não descartar a possibilidade da efetivação de um hospital de campanha, Almas entende que é preciso fazer uma boa avaliação sobre qual uso seria dado a tal equipamento. Antes, afirma que a Prefeitura traça um diagnóstico dos leitos disponíveis na cidade nas redes pública e privada. “Temos que ter o entendimento dos nossos equipamentos já construídos e que já estão ou não ocupados.” Desta forma, o prefeito sinaliza que hospitais de campanha ou outras estruturas temporárias possam ser utilizadas como espaços para hospitalizações sanitárias.
“Temos várias situações. Hoje, eu posso ser sadio. Posso também ser portador assintomático. Posso ser portador sintomático com sintomas brandos. Em todos estes casos, a recomendação e a melhor coisa a ser feita é ficar em casa. Só deve procurar as unidades de saúde aqueles com sintomas graves. Mas podemos ter que recorrer à hospitalização sanitária e buscar locais para as situações em que precisaremos isolar pessoas sintomáticas em que o ambiente de suas casas não permitir este isolamento”, afirma o prefeito. Para tal situação, a Prefeitura já manteve conversa por ajuda da iniciativa privada, inclusive com o setor hoteleiro.
Em esforço para tentar evitar tal cenário, o prefeito fez recomendações recorrentes para que as pessoas se mantenham em isolamento social.
“Se as pessoas não ficarem em casa, podemos ter uma explosão em 15 dias. Se muitos forem contaminados de uma vez, vai faltar leitos de enfermaria”.
Segundo o prefeito, o Município tem articulado junto ao Governo do Estado a ampliação de leitos que possam disponibilizar respiradores mecânicos.
Decreto em vigor
O prefeito também comentou a mobilização de alguns setores que defendem o abrandamento das medidas restritivas decretadas no município para minimizar ao máximo a circulação de pessoas em Juiz de Fora, mas descartou mudanças nas regras de imediato. “Até que algum fato novo aconteça, o decreto está em vigor.”
Almas garantiu ainda que as restrições garantem a prestações de serviços essenciais aos cidadãos durante a crise pandêmica. “Todas aquelas e atividades e serviços essenciais, da padaria ao supermercado até a oficina mecânica vão estar em funcionamento”, disse.
“Agora não é hora de abrir lojas para vender roupas e sapatos. Vamos continuar como decreto. A doença é dinâmica. Se dados novos mostrarem que a dose de remédio está amarga demais, podemos rever”
O prefeito diz também que compreende a preocupação de vários setores com os aspectos econômicos e como ele pode ser afetado pelas medidas mitigatórias adotadas para combater o coronavírus, mas reforça que sua preocupação maior no momento é com a vida e com a saúde da população.
“Entendo a preocupação do setor econômico. Mas este momento é de uma guerra contra uma doença. Quem tem que falar alto é a saúde”, considerou, acrescentando que os economistas apontarão os caminhos a ser seguidos após a pandemia. Sobre ações para minimizar danos econômicos do setor produtivo ou mesmo a perda de empregos, Almas ressaltou que tais medidas cabem à União.
“O Governo federal que é quem pode ajudar as empresas. Nosso compromisso é com a vida das pessoas. Em Juiz de Fora, a Prefeitura está tomando a medida de diminuir o número de pacientes graves. Há 37 anos fiz um juramento hipocrático: vou sempre lutar pela vida”, disse o prefeito, que é médico de formação.
“Gastem o necessário”
O prefeito revelou que o Município avalia a possibilidade de ajudar os cidadãos mais desassistidos que ficaram sem renda após as medidas restritivas tomadas em meio à pandemia com uma possível remissão ou extensão do prazo de pagamento de tributos municipais – como o IPTU, por exemplo. “Por estarmos na vigência de lei eleitoral, há entraves jurídicos. Tudo que for possível para ajudar o cidadão, nós faremos.”
Por outro lado, Almas lembrou que uma possível crise econômica que deve se seguir à pandemia irá reduzir ainda mais a capacidade de arrecadação da Prefeitura e exigir uma cota de sacrifício de todos. Neste ponto da entrevista, o prefeito, que é servidor de carreira do Município, recomendou prudência aos servidores municipais.
“Se preparem para uma situação difícil. Ao receberem os seus salários, gastem o necessário. Não sabemos o tamanho da crise econômica que virá pela frente. Crise econômica significa queda de arrecadação. Nós não fabricamos dinheiro.”
Processo eleitoral depois
Por fim, o prefeito que ainda não admitiu publicamente se tentará ou não a reeleição para o cargo nas eleições de outubro, afirmou que este não é o momento adequado para se discutir o processo sucessório. Da mesma maneira, Almas não quis comentar a movimentação de alguns setores políticos que já saem em defesa do adiamento das eleições municipais de outubro, o que poderia resultar em uma prorrogação de seu mandato, que, inicialmente, se encerra no dia 31 de dezembro.
“Isto cabe ao congresso nacional. Esta discussão se estabelece em Brasília. O momento agora é de enfrentamento da crise. Não cabe esta discussão agora. O que me cabe é enfrentar o momento. Hoje tais questões são inoportunas. Não é a melhor conduta a se fazer. Sei dos prazos e que eles ainda estão em vigência, mas olho com muita desconfiança de que o calendário eleitoral será cumprido
Antes da coletiva, o prefeito Antônio Almas fez uma autoavaliação dos trabalhos da Prefeitura durante a crise de saúde pública provocada pelo coronavírus. “Estou aqui para passar todas as informações para vocês não só como prefeito, mas também como médico.” Assim, salientou que, hoje, a maioria dos países do mundo convivem com os problemas causados pela pandemia.
“No mundo inteiro, a preocupação tem sido com o colapso do sistema de saúde. O que está em risco é a capacidade de respostas deste sistema”, destacou, de forma a defender que as ações mitigatórias adotadas na cidade têm por objetivo abrandar a curva de contaminação. “Temos que trabalhar para que a nossa curva não tenha o mesmo formato que foi observado em outros países e que façamos a distribuição destes casos ao longo do tempo.”
Almas disse ainda que a Prefeitura segue atenta e não descarta novas decisões ou mesmo a revisão de medidas já tomadas. “Esta é uma doença dinâmica. A cada dia um cenário novo se coloca e temos que tomar as decisões diariamente. Não somos alarmistas, mas não podemos ser irresponsáveis com o processo que virá.”