Polícia conclui inquérito e indicia companheira por morte de coronel do Exército
Mulher já está em uma unidade prisional; polícia solicitou a transformação da prisão temporária em preventiva

A Polícia Civil concluiu, nesta segunda-feira (13), o inquérito sobre a morte de coronel reformado do Exército e médico Sebastião Mauro Venturi de Pina, 58 anos. A esposa da vítima, 42, apontada como possível mandante e coautora do assassinato do militar, com quem era casada há 15 anos, foi indiciada por homicídio duplamente qualificado, por motivo fútil e por dificultar a defesa da vítima. A informação foi divulgada pelo delegado que preside o inquérito e titular da Delegacia Especializada de Homicídios, Rodrigo Rolli, durante entrevista coletiva à imprensa. Além disso, foi solicitada a transformação da prisão temporária da suspeita em preventiva, para que ela aguarde o julgamento detida. Desde 17 de dezembro a mulher está acautelada na Penitenciária José Edson Cavalieri (Pjec), em virtude de mandado de prisão solicitado pela polícia e expedido pela Justiça.
O casal tinha dois filhos e morava na região central. O militar foi encontrado morto na direção de um carro, com dois tiros do lado direito da cabeça e do pescoço, na manhã do dia 6 de dezembro de 2019, no km 773 da BR-040, no trevo de acesso à AMG-3085, na altura da Barreira do Triunfo, Zona Norte de Juiz de Fora.
Já o homem de 71 anos, preso por suspeita de ser o executor do coronel, morreu no Ceresp, onde estava acautelado desde o último dia 17. O óbito de José Paulo Pinto Vieira aconteceu na véspera do Natal, quando o idoso tomava banho. Conforme as investigações, ele é ex-sogro da mulher, pai do primeiro marido dela e morador da cidade de Santos Dumont. Apesar de os levantamentos iniciais realizados no dia apontarem para morte por causas naturais, a Polícia Civil aguarda o laudo de necropsia para avaliar a necessidade ou não de abertura de inquérito policial e apurar as causas da morte.
Ainda de acordo com o delegado Rodrigo Rolli, o homem teria confessado o crime, alegando legítima defesa. Entretanto, a justificativa seria incompatível com o laudo de necropsia e as informações obtidas pelos investigadores. Em virtude da morte do suspeito, somente a companheira do coronel foi indiciada. Conforme as apurações, a motivação do homicídio estaria ligada a vantagens financeiras que a mulher teria com a morte do marido, como seguro de vida de mais de R$ 450 mil, pensão militar e imóveis, além de suposto interesse dela em se relacionar com outra pessoa. Já o aposentado seria beneficiado com uma quantia em dinheiro e teria aceitado participar porque estaria passando por dificuldades após cair em um golpe.
Inquérito de mais de 400 páginas
Por meio da quebra de sigilo telefônico, a polícia conseguiu cruzar informações e saber quais foram as últimas vezes em que vítima e suspeitos de executar e mandar matar tiveram contato. Todas as ligações e imagens das câmeras de segurança do terminal rodoviário em que vítima e executor estiveram juntos integram o relatório de 410 páginas produzido pela equipe da delegacia de Homicídios e entregue à Justiça.
“O serviço de inteligência nos mostrou todos os relatórios das ligações telefônicas de forma inequívoca que a mulher planejou o crime. Fizemos uma triangulação entre telefone da vítima e dos dois investigados, tanto em dias anteriores, quanto nos dias posteriores, além da data do crime. Só há uma ligação do executor para o coronel no dia que antecedeu sua morte, por volta de 15h. A ligação ocorreu por cerca de dois minutos. Todos os contatos passaram obrigatoriamente pela mandante. Ela quem manteve contato com o suspeito pela manhã e, especificamente às 17h53, uma conversa de quatro minutos no dia da morte de seu esposo. Às 18h36, ela fala (via telefone) que o autor estaria na rodoviária e precisaria de uma carona até a cidade de Santos Dumont, ou seja, quem fez toda a mediação foi a mandante. Isso nos dá a certeza da responsabilidade dela em planejar toda a ação delituosa”, garantiu Rodrigo Rolli.
O delegado pontuou ainda controvérsias nos depoimentos da suspeita, que inicialmente havia mentido, alegando não saber que o marido estaria na rodoviária, dizendo apenas que ele teria saído para comprar remédios e não retornou. Posterior a isso, conforme Rolli, ela chegou a dizer ter conhecimento que o companheiro estaria no terminal esperando o ex-sogro para ser levado até a cidade vizinha, mas, por algum momento, chegou a negar as ligações com o suspeito de executar o coronel. “Ela narrou que a vítima era uma pessoa calma, que não tinha arma de fogo. Inclusive, alega que ele tinha conhecimento que ela teria um caso extraconjugal e que nunca teve ciúmes. Num segundo depoimento, ela começa a soltar mais informações. Ou seja, tinha conhecimento de tudo e vinha escondendo os fatos da polícia. Depois ela começa a se preocupar com o tramitar das investigações, vendo que já estava fechando o cerco contra ela”, disse.
A mulher não confirmou sua participação no homicídio do próprio companheiro. Já o suspeito teria confessado o crime à polícia, justificando legítima defesa. No entanto, tal alegação seria incompatível com o laudo de necropsia, bem como as informações obtidas pelos investigadores. “No interrogatório ele disse que o coronel puxou a arma de fogo para matá-lo e ele conseguiu retirar a arma e acabou por executá-lo, levantando ainda a tese de ciúmes por estar desconfiado de um relacionamento entre os dois. A vítima, entretanto, não possuía arma, como já falado pela esposa, e não teria ciúmes. Aliado às ligações existentes, nós acabamos por indiciá-la e acrescentamos ao inquérito, que tem 410 páginas”, finalizou o delegado.