Peça no Teatro Paschoal conta vida de Paschoal Carlos Magno
José Luiz Ribeiro volta ao palco com o Grupo Divulgação na peça “Semente da paixão”, que integra a programação do festival Pólen e tem apresentação única nesta quinta (14)
Depois de tantos anos ouvindo seu nome citado aqui e acolá, hoje, quando se fala “Paschoal Caros Magno”, sabemos, a maioria de nós localizá-lo, entendê-lo, reconhecê-lo como o teatro há tanto prometido para a cidade. Mas de fato, quantos e quantas de nós sabemos quem foi o homem que batiza as belas instalações da casa, de palco italiano e muitas fileiras de cadeiras? A partir desta quinta, poderemos conhecer mais a história do teatrólogo, ator, poeta e diplomata, na peça “Semente da paixão”, estreia do Grupo Divulgação. Onde? No Paschoal. “Na verdade a peça é sobre o pai dele, Nicola, que veio para o Brasil aos 7 anos, sob tutela de um cunhado, que veio a morrer de febre amarela. O menino ficou nas ruas à mercê de sua própria sorte e quando agradeceu em italiano, “Grazie”, por uma moeda que recebeu, um italiano lhe deu abrigo e ensinou o ofício de engraxate, além de umas poucas palavras”, conta José Luiz Ribeiro, que assina o texto e a direção do espetáculo que estreia nesta quinta (14) e marca também seu retorno aos palcos depois de um hiato de seis anos. “Estou voltando, com tudo, nesta experiência enlouquecida”, brinca.
José Luiz conta que a peça vai remontando os traços de Nicola, que aprendeu a ser alfaiate e retorna à Itália, onde conhece Filomena, que viria a ser mãe de Paschoal, e volta ao Brasil. “Depois a peça vai até o momento em que Paschoal conhece o teatro universitário na Europa e se encanta, e daí surgem seus tantos feitos aqui no Brasil”, conta José Luiz, que teve a oportunidade de participar com ele na “Barca da Cultura”, um projeto que percorreu o país de um extremo a outro. “Ele era um homem de ideias. Reclamava sempre que as autoridades gostavam do teatro para cortar fita, inaugurar e nunca mais aparecer – e não estava de tudo errado (risos). Eu costumo dizer que ele espelhou para o teatro o que Villa-Lobos espelhou para a música, já que Villa-Lobos lutou para que o ministro Capanema pusesse corais em todas as escolas. Foi isso que Paschoal fez com teatro”, avalia José Luiz, que cita, entre os feitos de Paschoal, a Casa do Estudante, de acolhimento a discentes sem condições de se manterem e onde foi fundada a UNE; o Teatro do Estudante do Brasil, dedicado a montagens de grandes autores nacionais e estrangeiros; e o Teatro Duse, voltado à formação de profissionais e do teatro comprometido com a arte mais do que com o lucro. “Ele fez projetos demais, é um nome importantíssimo, foi caçado pela ditadura e nunca deixou de trabalhar, foi um grande criador e incentivador do teatro brasileiro, e as pessoas precisam saber disso.”
Patrimônio imaterial de Juiz de Fora
No dia da apresentação do espetáculo, o prefeito Antônio Almas vai assinar, no próprio teatro, o ato que transforma o Grupo Divulgação em patrimônio imaterial de Juiz de Fora. “Para nós, é muito importante, somos um grupo de teatro da cidade, longevo, de 53 anos. Receber esse reconhecimento por iniciativa do poder púbico é uma grande homenagem a um trabalho que a vida inteira foi feito na base do voluntariado, então neste momento estamos muito felizes”, diz ele. “Principalmente porque o trabalho que fizemos na vida toda no Forum da Cultura tem sido questionado, como se nós explorássemos o espaço sem contribuir para nada, o Divulgação sempre cuidou do Forum e vice-versa”, diz o dramaturgo.
A montagem terá nada menos que 70 personagens em cena, interpretados por 16 atores e atrizes. “São três décadas de história, então aos poucos os meninos vão mudando de roupa para dar vida a novos personagens. E isso enlouquecidamente, porque no Forum a gente tem um palco de cinco metros de profundidade e no Paschoal são 11, é uma coisa desesperadora a correria! E no fim das contas, sem o suporte de pesquisa que temos no Forum, estamos fazendo algo muito novo, sem muito trabalho de antecedência, é como tomar injeção sem passar o algodãozinho com álcool antes (risos)”, brinca ele, que planeja que os trabalhos comecem cedo no dia da estreia. “Às 6h, o carreto já vai levar tudo que é figurino, que são muitos, porque além da nossa peça, há pequenos trechinhos de peças como Hamlet, Romeu e Julieta, uma alegoria muito louca. Será um espetáculo único! Mas o teatro é feito de loucura, estamos felizes, estamos aí e estamos na pista”. A apresentação integra o Pólen – Movimento de Intercâmbio Cultural, que está acontecendo até 17 de novembro, com uma programação extensa, gratuita e diversificada.
“Sementes da paixão”
Com Grupo Divulgação. E registro do Divulgação como Bem Imaterial de Juiz de Fora. Nesta quinta (14), às 19h, no Teatro Paschoal Carlos Magno (Rua Gilberto de Alencar – Centro – atrás da Igreja São Sebastião)