Comportamento pré-prova influencia no desempenho dos candidatos no Enem
Especialistas alertam para atitudes e alimentos que podem prejudicar a concentração
Rever conteúdos para responder as questões da prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), apesar de ser fator indispensável, não deve ser a única preocupação dos candidatos. Estar atento aos hábitos de sono, à alimentação e ao comportamento também são fatores importantes para aqueles que querem garantir um bom rendimento durante o exame. A uma semana da prova que pode garantir o ingresso ao ensino superior, a Tribuna ouviu especialistas que dão dicas e também advertem sobre a preparação nesta reta final.
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“É preciso que o candidato esteja em alerta para os detalhes. Muitas vezes, ele estudou direito, se dedicou, mas a preparação comportamental e física para a prova é deixada de lado. Isso pode leva um ano inteiro de dedicação por água abaixo”, observa a psicopedagoga Clara Duarte. Com o intuito de compreender melhor o comportamento dos candidatos – principalmente dos adolescentes e jovens que estão prestando o vestibular pela primeira vez – para aprimorar seu método de trabalho, Clara atuou algumas vezes como fiscal em provas do Enem e do Programa de Ingresso Seletivo Misto (Pism) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).
“Eu tinha muita vontade de trabalhar como fiscal no Pism e no Enem, para ver, na prática, o que dá errado, já que muitos candidatos fazem simulados e estudam o ano todo. O que pude observar é que parte do que a gente recomenda nos colégios (em relação ao comportamento) não é levado em consideração por muitos alunos. Eles se atrapalham, e isso, somado ao nervosismo e à ansiedade, faz com que parte desses candidatos não tenha bom desempenho, o que é muito ruim, porque muitos se preparam em relação a conteúdos o ano todo, estudam muito e, por detalhes aparentemente bobos, mas que fazem diferença, podem ter um desempenho ruim”.
Por esse motivo, a psicopedagoga sugere que o candidato deve se precaver durante esta semana e, principalmente, na véspera do dia de aplicação da prova. “Durante esta semana eu aconselho que o aluno reveja conteúdos e estude sim, mas com horários bem definidos. Não é a hora de sair da rotina e perder o foco. Ele precisa estar atento e concentrado no que irá fazer, principalmente na véspera. É importante que ele não durma tarde, não coma alimentos pesados e tente manter a calma”.
Ela trabalha há 15 anos com o público escolar e também faz atendimentos em consultório, e percebe que a ansiedade, o estresse e o nervosismo são questões que aparecem com frequência entre as principais queixas dos estudantes. De acordo com Clara, esses cuidados com a rotina, preliminares à prova, contribuem para que o aluno fique mais calmo e atento. A profissional aconselha ainda que os candidatos, em seus ambientes de estudo, coloquem uma música ambiente calma para que relaxem. Essa associação faz com que as pessoas possam encarar o conteúdo de maneira tranquila. “O ideal é aproveitar esse momento que antecede a prova em locais calmos, confortáveis. Aproveitar para rever conteúdos que possam ter alguma associação visual, para que possam ficar na memória recente.”
Atenção ao local de prova e cuidado com alimentação
Em razão da tensão que o momento provoca, a psicopedagoga Clara Duarte frisa a importância de o candidato atentar para o local onde fará a prova. Ela aconselha a checar previamente o endereço e chegar com antecedência suficiente para que os procedimentos de verificação e segurança sejam feitos com calma. “O que eu observei nas aplicações das provas é que candidatos, principalmente adolescentes, chegam com antecedência. Mas no local, eles encontram colegas e ficam batendo papo, porque acham que estão com tempo e que já estão dentro do local da prova. Na realidade, muitos fazem isso e deixam de checar o bloco, o prédio e a sala correta, e deixam para fazer isso faltando dez minutos para o início. Com isso, se formam filas nas salas, porque até guardar os pertences, lacrar, assinar, checar documento, demora. E nisso, o aluno já fica ansioso e desestabilizado”. Portanto, o ideal, segundo a especialista, é que os alunos cheguem ao local e chequem detalhes como bloco e sala corretos.
Além disso, ela pontua detalhes como a maneira que a pessoa se senta na carteira. “Parece um detalhe bobo, mas existem candidatos que sentam largados na carteira, semideitados. É preciso manter a postura, a coluna ereta. Eles irão passar bastante tempo sentados, e é preciso que o sangue circule de forma adequada e chegue ao cérebro, que está sendo exigido”. “Atenção ao cartão-resposta é obrigatório”, lembra Clara, que já viu muitos alunos errarem na marcação das respostas no cartão.
Observação em relação ao tempo no dia da prova também faz diferença. Por esse motivo, a psicopedagoga recomenda que a pessoa cheque a previsão meteorológica, mas seja precavida. “Aqui em Juiz de Fora temos o lema de que faz as quatros estações em um único dia. Por isso, é importante que a pessoa observe se onde ela foi alocada para realizar a prova é uma região mais fria ou mais quente, se pode chover. É preciso se prevenir em relação a isso, porque sentir muito frio ou muito calor gera desconforto e atrapalha a atenção”.
Nutricionista orienta sobre o que comer
A alimentação influencia na atenção e no funcionamento do cérebro, confirma a nutricionista Roberta Marques. Ela explica que quando uma pessoa tem uma alimentação equilibrada e está bem nutrida, seu rendimento e disposição melhoram. Do contrário, o organismo fica cansado e a pessoa tem dificuldade em se concentrar. “Durante a semana, a pessoa tem que se preocupar em sempre se manter hidratado, evitar o excesso de açúcar. Muitas pessoas têm a falsa ideia de que o açúcar as deixam ligadas para estudar. Na verdade, isso acontece em um primeiro momento, mas após esse período, o açúcar traz um cansaço, é como se tivesse um efeito rebote. Isso atrapalha o rendimento. Então, durante essa semana, o candidato deve se condicionar a uma boa rotina de alimentação; é uma questão de comportamento”, diz.
A nutricionista também recomenda que se evite a ingestão de fast food, carnes vermelhas e comidas gordurosas. “Nas refeições, deve-se procurar comer mais carnes brancas – peixe é ótimo e ajuda muito no desenvolvimento neurológico e na concentração, e saladas, de forma geral, porque quanto mais nutrido você está, mais seu corpo irá responder bem”. No dia da prova, ela alerta para os cuidados especiais com o que comer. A recomendação é que a pessoa não pule uma refeição, como o café da manhã, por exemplo, pois “durante a prova, o candidato ficará com muita fome, o que vai atrapalhar a concentração”, diz. Para não ficar de estômago vazio durante toda a tarde, o ideal é que a pessoa leve lanches leves e práticos.
“Os salgadinhos, por exemplo, não são indicados, porque não são nada saudáveis, fazem barulho e são ricos em sódio. O sal dá muita sede, e aí será necessário beber água além do recomendado, fazendo com que a pessoa vá ao banheiro mais vezes, perdendo mais tempo. Os lanches indicados para levar no dia são castanhas, nozes, amendoim. O candidato pode fazer um mix dessas oleaginosas, que são benéficas para o cérebro e para o desempenho neurológico. Já o chocolate pode ajudar em relação à ansiedade, mas o ideal é que seja amargo, porque é o cacau que tem o benefício de liberação de serotonina, que traz bem-estar e pode levar a um estado de relaxamento maior. Mas é um quantidade pequena, algo em torno de 20 a 30 gramas”. Em caso da fome apertar, Roberta sugere um sanduíche leve, “de preferência com pão integral. O sanduíche vai dar uma saciedade maior e é fonte de energia para o cérebro”.
A exigência em relação aos lanches que serão consumidos durante a prova é que estejam em embalagens fechadas. As garrafas de água devem ser transparentes e sem rótulos. Não é permitido que se entre comendo na sala de aplicação do exame.
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