Aberta a temporada de música antiga em Juiz de Fora
29ª edição do Festival de Música Colonial começa neste domingo, 22, com Orquestra Sesiminas, seguida de demais concertos que priorizam incluir em seus repertórios compositores brasileiros, do barroco ao contemporâneo
A música clássica, de estudo, presente nas academias e conservatórios ocupa um lugar muito específico e de menos acesso ao público em geral, especialmente para quem não estuda, pesquisa ou não tem um interesse genuíno em ouvir música sacra, barroca, canto coral e óperas, gêneros que durante eras da história foram formando as bases para a música que é feita hoje. É evidente, por exemplo, que desde os anos 1960, os Beatles e os Beach Boys tiveram uma aproximação com repertórios clássicos a fim de explorar a atmosfera orquestrada em suas canções pop, que eram inseridas em sessões de overdub após as gravações. São músicos que foram à procura dos sons, em sua concretude, e, por isso, chegaram longe demais.
Paul McCartney chegou a compor para orquestras e solistas e lançou diversos discos em paralelo a sua discografia. Em “Thrillington” (1977), assinada por seu pseudônimo Percy “Thrills”, Paul fez novos arranjos instrumentais, explorando alguns solos, para músicas de sua carreira pós-Beatle.
Também houve o lançamento em homenagem aos 150 anos de “The Royal Liverpool Philharmonic”, trabalho de composição com colaboração de Carl Davis. O “Working Classical” (1999) é como exercícios de orquestramento das canções de sua carreira. Não é à toa que o encerramento da 22ª edição do Festival de Música Colonial e Música Antiga de Juiz de Fora foi com a Orquestra Ouro Preto trazendo um repertório completo de Beatles – em um ano em que o Festival era capaz de mobilizar e mudar notoriamente a paisagem da cidade, com músicos atravessando as ruas com cases nas costas e filas para assistir aos concertos. Além de quartetos de metais, violonistas e outras orquestras que exploraram essa aproximação entre a música colonial e antiga, de concerto, e a música popular dos séculos XX e XXI.
Desde a criação do bacharelado em Música da UFJF, em 2009, houve um fortalecimento da valorização e conservação dos estudos de música erudita. Além disso, existem projetos de extensão que fazem com que estes sons se tornem mais acessíveis e menos restritos à academia. Afinal, o deleite pela música não vem apenas por quem compreende teoria, mas principalmente para quem deixa o ouvido tão aberto quanto o coração. É sobretudo permitir-se sentir. Juiz de Fora, neste sentido, tem um dos maiores festivais, inclusive registrado como bem imaterial de Juiz de Fora desde 2009. O Festival de Música Colonial Brasileira e Música Antiga, que no próximo ano completa 30 edições, começa neste domingo, 22, com o concerto de abertura da Orquestra de Câmara Sesiminas, criada em 1986.
“Nós trazemos quatro músicas de estilos muito diferentes: do clássico ao contemporâneo, passando pelo barroco e o romantismo. É um programa pensado para atingir tanto músicos quanto um público mais leigo”, relata Felipe Magalhães em release enviado pela assessoria do Festival. Mozart, peças do barroco e uma serenata do compositor tcheco Josef Suk, bastante inusitada em concertos, fazem parte do programa da Sesiminas, que também inclui “Desafio III”, do brasileiro Marlos Nobre, com a solista de violino Laura von Atzingen.
Homenagem
A 29ª edição do festival vai homenagear José de Nebra, compositor dramático da Península Ibérica da primeira metade do século XVIII, que completa 250 anos de morte neste ano. Nascido na Catalunha, Espanha, está nas bases fundamentais da música barroca. Na segunda-feira, 23, às 20h, na Igreja do Rosário, Mário Trilha apresenta um repertório para cravo. O francês cravista, organista e compositor François Couperin (1668-1733) será homenageado, além de dois brasileiros contemporâneos: Edino Krieger (1928) e Ronaldo Miranda (1948). Krieger foi compositor residente na Staatliche Hochschule fur Musik, Karlsruhe (Alemanha), onde compôs sua única obra para cravo solo, “Momentos para cravo”, que renascerá nas mãos de Mário, juntamente com “Variações Asórovarc”, de Miranda. O título faz referência sutil com as variações criadas a partir da música folclórica brasileira, “O cravo brigou com a rosa”, que aparece no final da obra (asórovarc = cravorósa).
Metais e choro durante a semana
Na quarta-feira, 25 de julho, o Quinteto BH Brass apresenta a versatilidade do naipe metais de um grupo formado por cinco membros da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais: dois trompetistas, Érico Fonseca e Daniel Leal, uma trompa, por Gustavo Trindade, um trombone de Mark Mulley, e uma tuba de Rafael Mendes. O formato camerístico é pouco comum no Brasil, onde a projeção na cena internacional de música de câmara ainda é pequena. “Estamos desejosos em enfatizar o quão eclético são os instrumentos da família dos metais. Executamos obras renascentistas, barrocas e de muitos outros períodos da música de concerto ocidental, além de diversas vertentes estilísticas do jazz, da música brasileira e do mundo”, afirma o trompetista Érico Fonseca em release. No programa, constam os músicos brasileiros Gilberto Gagliardi, Tom Jobim, Luiz Gonzaga e Ari Barroso.
O choro, primeiro gênero urbano do Brasil, será apresentada na quinta-feira, 26, às 20h, no Teatro Pró-Música. O Trio de Choro, formado pelo flautista Nilton Moreira, professor na Faculdade de Música da UFJF, pelo trompetista Pedro Mota e por Marcos Flávio no trombone, perpassa por Pixinguinha, Jacob do Bandolim, Abel Ferreira, evidenciando a identidade musical de cada um com seu instrumento. Um concerto aberto a improvisos e contrapontos, muito explorados pelos músicos responsáveis pela criação de grupos de pesquisa em choro nas universidades que atuam: Pedro Mota na UFSJ e Marcos Flávio, na UFMG.
Tradicionalmente, pelo lugar por onde passam, convidam músicos da região a fim de incorporar e “encorpar” o ritmo das apresentações, principalmente por meio da conexão com violão e elementos percussivos. Para o Festival em Juiz de Fora, Márcio Gomes irá acompanhá-los com pandeiro, Wellington Duarte, vai utilizar um violão de 7 cordas, Marcio Hulk, cavaquinho, e Armando Junior, violão.
Não somente concertos noturnos e vespertinos gratuitos formam a agenda do festival, promovido pela Pró-Reitoria de Cultura e Centro Cultural Pró-Música/UFJF. Além das apresentações, um objetivo muito claro é a formação, por isso, como de costume, acontecerão as oficinas e workshops ministrados por músicos conceituados.
Programação Festival de Música Antiga
Dia 22
Abertura com Orquestra de Câmara Sesiminas, às 20h, no Cine-Theatro Central
Dia 23
Cravo e Traverso, com Mário Trilha e Márcio Páscoa, às 20h, na Igreja do Rosário
Dia 24
Quarteto Francisco Mignone, com participação especial de Gustavo Trindade, às 20h, no Teatro Pró-Música
Dia 25
Quinteto BH Brass, às 20h, no Teatro Pró-Música
Dia 26
Trio de Choro com Nilton Moreira, Pedro Mota e Marcos Flávio, às 20h, no Teatro Pró-Música
Dia 27
Canções de Lorenzo Fernandez, com Veruschka Mainhard, Marcus Medeiros e Quinteto de Cordas, às 20h, no Teatro Pró-Música
Dia 28
Violino e Piano, com Paulo Bosisio e Valéria Gazire, às 20h
Teatro Pró-Música
Dia 29
Encerramento, com Ópera “Vendado es amor, no es ciego” (José de Nebra), às 20h, no Cine Theatro Central
* Todos os concertos serão precedidos de palestras ministradas pelo Prof. Rodolfo Valverde (UFJF), com início às 19h, nos mesmos locais das apresentações
*Os convites, em geral, serão distribuídos gratuitamente no Centro Cultural Pró-Música, no dia da apresentação, das 8h30 às 17h30