Pentecostes: pelo que ainda falta fazer
Amanhã, 50 dias após a Páscoa do Senhor, a Igreja celebra a Solenidade de Pentecostes, quando se encerra o tempo pascal e é retomado o tempo comum. Não se celebra por saudosa memória, mera nostalgia ou cumprimento de calendário, celebra-se por que precisamos do espírito do Pentecostes! Como diz Frei Bento Domingues, “celebra-se a cada ano para que nenhuma geração desista de um mundo onde não haja indigentes, mas irmãos”. De fato, apesar “das apregoadas virtudes da modernidade e da laicidade, a fraternidade universal foi ficando pelo caminho e o pensamento que se dizia liberto do obscurantismo da religião não construiu uma realidade para o bem do ser humano, isto é, de todos os seres humanos, posto que a grande maioria não passa de simples meio e instrumento de uma minoria privilegiada. Assim, a festa de Pentecostes não celebra o que já foi, mas o que falta fazer!”
Em sua homilia da liturgia do Pentecostes do ano passado, o Papa Francisco destacou duas novidades: a primeira é que o Espírito faz dos discípulos um povo novo O Pontífice assim descreveu a ação do Espírito: “primeiro, pousa sobre cada um e, depois, põe a todos em comunicação. A cada um dá um dom e reúne a todos na unidade. Por outras palavras, o mesmo Espírito cria a diversidade e a unidade e, assim, molda um povo novo, diversificado e unido: a Igreja! (…) E desta forma temos a unidade verdadeira, a unidade segundo Deus, que não é uniformidade, mas unidade na diferença,” advertindo assim contra a tentação da “diversidade sem a unidade” e da “unidade sem diversidade”.
A outra novidade é que o Espírito cria nos discípulos um coração novo. Segundo Papa Francisco, “o Espírito é o primeiro dom do Ressuscitado, tendo sido dado, antes de mais nada, para perdoar os pecados”, (…) nesse sentido, ele “nos impele a recusar outros caminhos: os caminhos apressados de quem julga, os caminhos sem saída de quem fecha todas as portas, os caminhos de sentido único de quem critica os outros. Ao contrário, o Espírito exorta-nos a percorrer o caminho com duplo sentido do perdão recebido e do perdão dado, da misericórdia divina que se faz amor ao próximo.”
A atualidade do Pentecostes reside, portanto, no fato de que, ainda hoje, há um tipo de vida que é morte, feita de disputas e concorrências, de inveja e de egoísmo. Mas há um tipo mais elevado de vida feito de doação, gratuidade, acolhida, comunhão… Essa é a vida que se desvela na trajetória da Igreja, a vida do Espírito. A Igreja, comunidade fundada na comunhão realizada pelo Espírito, não propaga a exclusão, ao contrário, distribui o perdão que vem de Deus. (…) Mas onde e enquanto a justiça ainda não tiver sido instaurada, “a Igreja deve continuar lutando até edificar um mundo justo de paz e fraternidade universais.” (Vida Pastoral, nº 321).
Uma Igreja em marcha deve ouvir o apelo de Paulo em sua carta aos Gálatas, repetido no início e no fim, como um programa de vida: “caminhai no Espírito”! (Gal. 5, 16.25)
Este espaço é livre para a circulação de ideias e a Tribuna respeita a pluralidade de opiniões. Os artigos para essa seção serão recebidos por e-mail ([email protected]) e devem ter, no máximo, 35 linhas (de 70 caracteres) com identificação do autor e telefone de contato. O envio da foto é facultativo e pode ser feito pelo mesmo endereço de e-mail.