É preciso democratizar as conquistas
Ser escolhida para falar em nome das homenageadas com o Troféu Mulher Cidadã 2018 não foi tarefa fácil. Afinal, as escolhidas são conhecidas, principalmente, por não permitir que falem por elas. Por falarem o que é preciso, quando é preciso e com a coragem de dizer o que nem sempre é o que todos gostariam de ouvir. Para se fazer o que precisa ser feito é preciso coragem para enfrentar oposição, para remar contra a maré e, principalmente, é preciso escolher o respeito em detrimento da veneração.
Por isso mesmo essa homenagem tem um gosto especial. Saber que conseguimos desempenhar as tarefas que nos propusemos e deixar um rastro de afeto pelo caminho, que nos permitiu ser lembradas e homenageadas, é motivo de celebração. Em um mundo no qual a força é confundida com agressividade, a determinação com a irracionalidade e que a bravura virou sinônimo de fúria, é fundamental premiar a racionalidade, a amizade e o afeto.
O que vimos nessa homenagem é que a construção de uma sociedade mais justa e igualitária pode, e deve, vir pela saúde, pela educação, pelas artes, pelos direitos humanos, pela representatividade política, pelo esporte, pela justiça… pela democratização da comunicação.
O melhor troféu que recebemos é saber que vivemos entre pessoas, ao contrário do que assistimos principalmente na terra sem lei das redes sociais, que resolveram premiar e aplaudir as conquistas, a integridade, o coletivo e a realização. Celebrar tudo que foi feito e tudo aquilo que ninguém nunca saberá que fizemos. O telefonema fora do horário, a vaquinha para comprar o que falta, a ligação para os amigos pedindo ajuda. Atitudes que nos lembram de que somos gente lidando com gente e que esse deve ser nosso compromisso maior. Que este troféu seja uma celebração às mulheres que, no lugar de lamentar pelo que poderia ter sido, trabalham diariamente para a construção da cidade, e do mundo, no qual mereceremos viver! Uma celebração às muitas Marielles, Beneditas, Marias, Joanas, Lenitas que calçaram o caminho para que pudéssemos chegar até aqui.
E que a revolução venha de salto alto ou no pé descalço, nas teses da academia ou no som dos tambores, no riso ou nas lágrimas amargas que descem pela garganta, para lembrar que somos muitas, somos várias e que, enquanto não for justo para todas, não deve ser o suficiente para nenhuma de nós!