20 anos de risos para curar os males do mundo
Agulhas, estetoscópios e seringas são substituídos por narizes de palhaço, roupas coloridas e rostos pintados. O medicamento, respeitável público, é só o amor (e precisa de algum mais!?). Há 20 anos, comemorados no próximo dia 24, os Médicos do Barulho de Juiz de Fora levam alegria, bom humor e muito carinho para os hospitais da cidade. E o que pode parecer só uma travessura de palhaços, é coisa séria, eles garantem: são pílulas em forma de gargalhadas. Até agora, já foram 600 mil pessoas visitadas, em uma corrente do bem que só aumenta. O projeto que começou com apenas duas pessoas, hoje conta com 146 voluntários, entre atores, palhaços, recreadores e profissionais de outras áreas. O maior sonho da ONG agora é ter uma sede própria, para conseguir expandir o projeto, que é pioneiro na cidade.
Fundador do grupo, Amaury Mendes – ou Doutor Fuzil, como é mais conhecido- conta que a ideia surgiu em 1996, quando ele ainda era funcionário público da UFJF. “Já tinha 10 anos que eu trabalhava como palhaço fazendo animações em festas. Então, meu coordenador me chamou para mostrar um projeto de São Paulo, o Doutores do Amor. Nunca tirei aquilo da cabeça e vi ali uma oportunidade de levar alegria para outros locais. Então, resolvi ir atrás para conhecer mais”, disse.
Após algumas viagens a São Paulo, Fuzil não teve dúvidas: queria também poder levar momentos de felicidade a pessoas que passavam por momentos de sofrimento. “Sempre vi o trabalho de palhaço como minha vida, tinha certeza de que era isso que eu ia fazer. Tinha um colega que trabalhava comigo nas festas e ele foi meu primeiro parceiro, o doutor Saratudo”, conta.
Acostumados a trabalhar em locais onde sempre se estava comemorando alguma coisa, e em meio a muitas dúvidas de como seriam recebidos e como levariam felicidade para os pacientes, a dupla fez o primeiro “atendimento” na Santa Casa de Misericórdia, unidade que até hoje é beneficiada pelo projeto. “Não posso dizer que o início foi fácil, a gente estava perdido. Era um ambiente muito diferente do que estávamos acostumados. A verdade é que fomos aprendendo fazendo, este é um projeto que não veio pronto, é um amadurecimento dia-a-dia. Um trabalho de muita dedicação”,disse.
“Os nossos problemas ficam da porta para fora”
Para conseguirem cumprir a missão “terapêutica” que se propõem, os Médicos do Barulho precisam estar preparados para enfrentar situações extremas, como a perda de alguns pacientes e o sofrimento que outros estão passando. Na corda bamba, eles driblam estes obstáculos com muita maestria. “Ninguém está no hospital passeando, muitos estão ali entre a vida e a morte. Nós estamos lá para levar positividade. Então, quando entramos nos hospitais, deixamos nossos problemas na porta, e só os pegamos quando saímos. O engraçado é que quando saímos para “pegá-los”, eles parecem bem menores do que quando os deixamos. Vemos que nossos problemas não são nada perto daqueles que vemos nas visitas”, diz o palhaço.
De forma lúdica e usando linguagem teatral, os voluntários contagiam crianças, adultos e funcionários nas unidades médicas que visitam semanalmente a Santa Casa de Misericórdia , o Hospital Universitário da UFJF e o Instituto Oncológico. A Tribuna acompanhou a visita do Dr. Fuzil ao setor de pediatria da Santa Casa. Ao chegar na recepção, as brincadeiras já começam, com os funcionários e com quem mais chegava. Ainda quando se preparava para as “consultas”, Fuzil já despertava sorrisos e a curiosidade de quem estava no hospital. “Aprendemos a perceber como está cada paciente. Para alguns, só ver um palhaço todo colorido e sorridente já melhora seu dia. E quando arrancamos sorrisos de quem está com uma dor intensa, em um sofrimento grande, é que se vê a dimensão do que fazemos, só quem vivencia pode entender o poder de uma gargalhada”,disse o palhaço.
Um dos pacientes atendidos, Dyego Farpes havia acabado de sair do centro cirúrgico para a retirada de um cisto do braço. Mesmo ainda sob efeito da anestesia, o garoto mudou o rostinho assim que começaram as brincadeiras. Sua mãe Roberta Fartes adorou a visita. “Com certeza muda o dia né? Deixa a gente mais alegre.” Depois de um tombo de bicicleta e muitos curativos, Ingryd Souza foi correndo para o corredor quando viu o palhaço. Ela brincou de bolinha de sabão com ele e adorou a visita diferente no hospital. Quem também se encantou foi o pequeno Henry, de 3 anos. ” Doses de humor e felicidade são capazes de transformar e humanizar ambientes frios e impessoais, como são os dos hospitais, e proporcionar melhor resposta aos tratamentos médicos”, avalia Doutor Fuzil.
Você também pode ajudar
Segundo o palhaço, o sonho agora é ter uma sede própria, para conseguir levar para frente mais projetos sociais e atender mais pessoas. ” Passamos a ter um novo olhar sobre a vida. A gente acha que está ajudando, mas, no final, somos nós que recebemos”, finalizou. Os interessados em participar dos Médicos do Barulhos devem entrar em contato pelo WhatsApp (32) 99158-2341 ou pelos canais oficias do grupo, pelo Facebook, Instagram ou Twitter. Já está sendo formado um grupo de pessoas que passa a integrar o projeto em 2017. Os hospitais e clínicas que querem a presença da trupe, também podem entrar em contato pelos mesmos canais.
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