Arremesso certeiro
Entre os milhares de juiz-foranos que circulam todos os dias pelas ruas do Centro, Guilherme Silva passa despercebido. Poucos ali imaginam que o atleta, com 15 dos 29 anos de vida dedicados ao handebol, está ajudando a escrever o capítulo mais empolgante da história do esporte na cidade. Integrante da equipe da ADJF nos dois anos do projeto que lançou Juiz de Fora na Liga Nacional, principal competição da modalidade no país, o armador esquerdo é o reflexo da caminhada da própria equipe: superou dificuldades em 2014 para crescer – e brilhar – em 2015. Autor de mais de 50 gols no torneio, figurou entre os principais artilheiros do país durante toda a primeira fase. Ao lado dos companheiros, juiz-foranos ou não, levou o time às quartas de final pela primeira vez. Uma campanha que enche de orgulho e motiva para voos ainda mais altos em 2016.
“Para mim, que comecei com os antigos como o Paulo Augusto (treinador de um dos núcleos da ADJF em Juiz de Fora) e o Cláudio (Dias, coordenador do handebol da ADJF), estar representando a cidade em alto nível, pegando a herança que eles deixaram, é muito satisfatório. Também fui para fora da cidade, mas voltei para esse projeto grandioso, e ainda conseguimos classificação para a fase final da Liga, algo que todos os esportistas querem. Foi gratificante demais”, afirma Guilherme Silva.
Além de goleador da ADJF, o atleta é treinador de um dos quatro núcleos de handebol que a entidade promove em escolas públicas da cidade. Entre os quase 500 jovens envolvidos, Guilherme orienta 50 deles no Núcleo Norte, na Escola Estadual Clorindo Burnier, no Barbosa Lage, e usa o sucesso da equipe pelas quadras do Brasil para empolgar os alunos.
“O meu exemplo de vida, como batalhei para chegar onde cheguei, contribui para motivar os alunos a praticarem o esporte. Sendo atleta, sei o que nossa equipe pode atingir. Para este ano, se a equipe continuar como está, nossa expectativa é jogar uma semifinal.”
A meta, que poderia ser considerada ousada há dois anos, já é vista como realidade palpável também para o presidente da ADJF, Guilherme Facio. “Com certeza agora queremos ficar entre os quatro. (Em 2015) Atingimos o que pretendíamos (quartas de final), e quase conquistamos o que não esperávamos (semifinal). Ficamos em quarto lugar no nosso grupo por causa de um ponto. Nossa chave foi realmente muito mais forte. Acho que estamos no caminho certo. Vamos devagar, mas sempre fazendo progressos.”
Dirigente exalta desempenho da equipe local
Coordenador do projeto de handebol da ADJF, Cláudio Dias é também presidente da Federação Mineira e sabe bem o que representa o feito alcançado para uma equipe de Minas Gerais. O dirigente exalta o desempenho em quadra, mas aponta a estrutura montada para o trabalho no dia a dia como fator fundamental no crescimento do grupo. “Em 2014, a equipe era tão boa quanto a de 2015, mas não tínhamos onde treinar. Isso refletiu na quadra. Com o convênio com o Tupynambás, temos um ginásio exclusivo. A parceria com o Independência Trade Hotel é um diferencial incomparável na moradia dos atletas. Não tem ninguém no país com essa qualidade”, diz Cláudio Dias.
Para o dirigente, o desafio de 2016 será driblar a crise para continuar crescendo. “O que não temos ainda é recurso financeiro para pagar altos salários. Juiz de Fora gastou R$ 120 mil na Liga Nacional de 2015. Se conseguirmos chegar a R$ 250 mil, vamos ficar entre os quatro primeiros com certeza. Estou tentando parceiros para isso”, afirma Cláudio Dias, que deverá perder os quase R$ 100 mil investidos pela MRS Logística, patrocinador máster da ADJF, que não poderá seguir com a parceria nessa temporada. Por solicitação do Governo federal, será destinado aos Jogos Olímpicos toda a verba da Lei de Incentivo ao Esporte, na qual a empresa doa para projetos esportivos parte do valor pago no imposto de renda.
Porém, com ou sem dificuldade financeira, o objetivo é manter um dos alicerces do projeto, que é a utilização do talento juiz-forano no elenco. “Manteremos a porcentagem de 45% de atletas de Juiz de Fora. Pelo nível de qualidade, poderíamos ter cerca de 70% da equipe com jogadores da cidade. Mas, pela necessidade de trabalharem, alguns não têm essa possibilidade. Temos titulares juiz-foranos. Maringá (PR) e Taubaté (SP) não têm ninguém de suas cidades. Isso é gratificante. Não fazemos um trabalho só de contratar e jogar. Com a Liga, a procura nos núcleos aumentou muito, e são eles que destacam atletas para a equipe de competição”, comemora Cláudio Dias, que busca verba para a equipe juvenil disputar o Campeonato Brasileiro.
‘Pediram para jogar aqui’
Com décadas dedicadas ao handebol de Juiz de Fora, o técnico da ADJF, Carlos Dias, passou por muitas dificuldades até colher os principais frutos. Ainda buscando espaço entre as principais equipes do Brasil, o treinador comemora o lugar ao sol que está sendo consolidado à base de muito suor. “Demos um pequeno passo. Está muito melhor do que em 2014, mas ainda estamos distantes de conquistar o respeito do pessoal de fora. Precisamos de continuidade por três, quatro, cinco anos. Mas já nos olham diferente, com certeza. As condições que oferecemos aqui estão melhores e mais confiáveis que em muitos lugares. E o principal: tudo combinado está sendo feito.”
O crescimento da equipe e as boas condições oferecidas aos atletas têm criado uma reputação positiva no meio do handebol brasileiro. Uma propaganda boca a boca entre jogadores profissionais está atraindo atletas de nível internacional. “Em dezembro, fui procurado por sete jogadores de alto nível e jovens. Três da Metodista/São Bernardo-SP que foram para a Seleção Brasileira pediram para jogar aqui”, diz Carlos Dias.
Os atletas da tradicional equipe paulista citados são um goleiro, um pivô e um ponta esquerda. Além deles, a ADJF se aproxima de contratar outro goleiro e um armador direito da seleção de Cuba. Para manter Marcos Vinícius, Léo Dutra, Jonas e Welton, alguns dos principais destaques da temporada, a equipe espera ampliar a parceria com o Clube Português, de Recife, passando também a enviar atletas de Juiz de Fora para a equipe pernambucana.
Em 2016, a ADJF quer representar Juiz de Fora não só na Liga Nacional, mas também pretende disputar a Copa Brasil e o Campeonato Brasileiro. Caso se confirme, será a primeira vez que a equipe disputará as três principais competições nacionais em uma mesma temporada. Garantia de calendário cheio para os profissionais. “Em 2015, nosso primeiro jogo na Liga foi em outubro. Como contratar um atleta em março, pagando salário e não ter competição para disputar? Em 2016, a intenção é ter o grupo montado até o final de março. Atletas de ponta querem vir e queremos montar um grupo ainda mais forte”, encerra Cláudio Dias.