O médico e a saúde da nossa educação
Não se pode cair no risco da generalização na hora de criticar. É comum reportagens na TV mostrarem os problemas na formação dos futuros médicos em faculdades particulares. As críticas são feitas no âmbito do programa “Mais médicos”, mas é preciso ter ressalvas. As faculdades recém-inauguradas têm problemas – algumas previstas para abrirem as portas deveriam ser repensadas -, só que a questão principal a ser enfrentada é a qualidade da educação na formação de futuros médicos.
A ideia de abrir cursos de medicina no interior como estratégia para fixar esses médicos onde não há, ou há poucos, é ilusória. Para se formar um médico com qualidade, devemos oferecer ao estudante estrutura e bons serviços para praticar. Defendo a ênfase da formação nos serviços do SUS, mas não podemos ser ingênuos quanto à qualidade – muito discutível – de números de serviços dessa rede. Principalmente em pequenos centros urbanos. No interior do país, nem se fala, o quadro é uma temeridade. Serviços sucateados, sem resolutividade e de baixa qualidade. Como formar, então, um médico de qualidade nesses serviços? Se até hoje os serviços não receberam os devidos investimentos para promover atenção à saúde da população dignamente, como será isso a partir de agora?
A realidade não é ficção, e não podemos iludir a população. O médico naturalmente irá procurar melhores serviços para exercer a sua profissão de forma decente e promissora. Ele não vai se fixar em um lugar só porque estudou ali se, depois, os serviços disponíveis não atenderem à sua perspectiva de carreira profissional. Com certeza, ele correrá para centros urbanos de maior porte e lá irá ficar.
A qualidade da educação é o diagnóstico e o remédio, ao mesmo tempo. A cura dos problemas do país passa pela sala de aula, da alfabetização à faculdade, e também pela sala de casa, com os pais de olho nos bons exemplos a serem seguidos pelos filhos. Se as lições de ética não começam cedo, como reclamar da corrupção do vizinho?
Em Petrópolis-RJ, temos acadêmicos de medicina estagiando com orientação em cenários próprios da prática médica, com unidades vinculadas ao SUS e próximas ao campus. Os avanços na pesquisa também são acompanhados de perto na instituição. Nosso trabalho não é exceção, há outros bons exemplos pelo país. Por isso, a regra não pode ser a crítica que generaliza, colocando todas as faculdades particulares no mesmo nível crítico de um paciente terminal.
A saúde do ensino, particular e público, é de interesse de todos. Por isso, é bem-vinda a orientação dos ministérios da Saúde e da Educação de acompanhar mais de perto a qualidade do que se aprende nas faculdades de medicina. Da nossa parte, como médicos e professores, continuaremos nos esforçando para transmitir conhecimentos e boas ações.
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