Prevenção e resiliência aos desastres

“É preciso se ter cultura de segurança (inverso do risco), a qual é incipiente no país.”


Por Geraldo César Rocha, geólogo e professor da UFJF

19/05/2024 às 06h00

A catástrofe ambiental ora em curso no Rio Grande do Sul escancara a urgência de ações de prevenção e resiliência no país.

Historicamente, o Brasil tem aplicado remediação frente aos desastres, em detrimento de políticas públicas de segurança e prevenção ambiental. É preciso se ter cultura de segurança (inverso do risco), a qual é incipiente no país.
Todo risco pode ser previsto e mapeado: não é preciso acontecer um desastre para sabermos de antemão o que pode ocorrer caso ele se efetive. Exemplos de avaliações de risco podem ser citadas aqui: as previsões dos escorregamentos na região serrana do Rio de Janeiro em 2011; os alertas prévios do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) referentes às elevadas precipitações e consequentes inundações atuais no Rio Grande do Sul; e mesmo os mapeamentos de risco a escorregamentos realizados por esse autor para Juiz de Fora.

Mas por que nada foi feito para pelo menos amenizar as consequências de todas essas catástrofes? Dentre as nefastas atitudes governamentais, está a de que “prevenção é custo, e não investimento”. O problema é que, caso um evento ocorra, o custo de recuperação será muito maior.

Aqui podemos inserir a questão da resiliência, a qual está acoplada à prevenção. Definimos resiliência como a capacidade de um sistema se recuperar frente a um evento desestabilizador. Assim, uma obra (ou política pública) não precisa somente aumentar a segurança para que um determinado evento não ocorra; ela vai precisar também ser efetiva e gerar resiliência caso o evento venha a ocorrer. Aqui visualizamos o hercúleo trabalho que temos pela frente no Brasil, pois: 1. O país constrói suas cidades sem planejamento adequado, com um vergonhoso sistema de saneamento, além de propiciar ocupações do solo em áreas vulneráveis e uma crescente e inadequada flexibilização da legislação ambiental. Se conseguirmos resolver essas questões, podemos passar para: 2. As mudanças climáticas impõem um novo normal, onde as aglomerações urbanas deverão estar preparadas (resilientes) para eventos extremos; isso significa respeitar as avaliações de risco existentes, visando reurbanizar locais de alto risco a enchentes e escorregamentos, promover educação ambiental e treinamento para as comunidades e integrar ações entre os níveis federal, estadual e municipal visando estabelecer programas de apoio às vítimas com assistência financeira (reconstrução e infraestrutura) e psicológica.

Será que vamos conseguir?

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