Cuidados aos idosos: para onde vamos?


Por JOSÉ ANÍSIO PITICO DA SILVA, ASSISTENTE SOCIAL E GERONTÓLOGO

16/12/2015 às 07h00

A atenção política brasileira direcionada para as pessoas idosas é pífia. Não temos cultura pública de educação, solidariedade e valorização à população idosa no Brasil. Culturalmente, o cuidado dispensado aos idosos, notadamente os dependentes – que não conseguem, por limitações de saúde, gerir o seu dia a dia, incapazes de, por si só, desenvolver sua autonomia e independência, comprometendo as suas atividades de vida diária, como vestir-se/alimentar-se/locomover-se -, fica por conta das famílias, com os seus cuidadores de idosos informais. Um grande e contemporâneo desafio está posto à nação brasileira com os seus municípios: quem vai cuidar dos idosos dependentes? Se a sociedade ainda não enxerga com olhos de respeito os idosos, que, apesar da idade, na sua grande maioria, estão saudáveis, podemos antever que o cenário de intervenção com os idosos, que estão num quadro de restrição de várias ordens, é composto por indiferença social, despreparo, somados à inexistência de profissionais qualificados competentemente para a intervenção gerontogeriátrica. Cuidar de pessoas idosas exige um pouco mais do que atender pacientes da terceira idade num salão de beleza (nada contra).

O cuidado aos idosos, conforme as disposições preliminares do Estatuto do Idoso – Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003, artigo 3º -, indica que “é obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária”. O Estatuto do Idoso já completou 12 anos de vigência em todo o território nacional. O que mudou na vida dos idosos que vivem em Juiz de Fora? Efetivamente, pouco, muito pouco. Aí começam outros desafios. As famílias, em sua grande maioria, estão em falta para fazer frente ao acesso diário e contínuo de remédios para as complicações crônico-degenerativas (e outras) que seus idosos apresentam – é caro cuidar de uma pessoa idosa em casa -, não só financeiramente mas, sobretudo, emocionalmente: o estresse que gera em todo o ambiente doméstico é muito desgastante.

Por exercício diário na área, percebo que, geralmente, apesar de vários integrantes, com filhos e filhas e outros parentes na família, somente uma mulher, que pode ser a filha, a nora ou neta, é quem cuida para valer de seu familiar idoso. Os outros integrantes do lar participam com a ausência, para não carregarem culpa nenhuma na relação. Pelo lado da sociedade, ela continua indiferente. A velhice é invisível aos olhos dos contemporâneos, apesar de ser ela tão moderna nos dias de hoje, como diria o poeta e músico Arnaldo Antunes: “não há nada mais moderno do que envelhecer”. A participação do Estado brasileiro apresenta pouquíssimo registro de intervenção pública na área do envelhecimento de sua população. Não é o nosso forte. Não apresentamos robustez neste campo da vida social e pública. Para onde vamos? Eis a questão. Estamos envelhecendo a passos largos e rápidos. Juiz de Fora tem hoje mais de 80 mil pessoas com idade de 60 anos e mais. Volto à pergunta inicial: quem vai cuidar dos idosos que estão vivendo a dor da velhice no silêncio de seus quartos, com famílias que precisam de apoio? Como estão as pessoas idosas que vivem na Zona Rural da cidade? O envelhecimento diz respeito a toda a sociedade. É uma questão pública, portanto, diz respeito a todos nós. Finalizo esta pequena reflexão com as santas palavras de Sua Santidade, o Papa Francisco: “onde não há honra para os idosos, não há futuro para os jovens”.

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