A crise agora está em nós
Ante o tema, talvez eu devesse escrever um relato sobre os diversos fatos políticos vivenciados por nós brasileiros nestes últimos dois anos. Mas não. São eles objetivamente por nós conhecidos. Sou um jovem, e, portanto, preferi adotar uma descrição subjetiva acerca desta malfadada realidade que a impossibilidade de optar pela escolha de “onde nascer” me impôs.
A bandeira de muitos é a de que os jovens são a esperança para nosso Brasil. Seríamos o fôlego necessário a oxigenar os pulmões de um país cada vez mais arrasado pela corrupção e por sua consequente impunidade. Os jogos de poder manipulam o cenário e nos colocam à mercê da troca de favores consubstanciados por interesses estritamente pessoais, desprovidos de aspectos republicanos.
Ocorre que inexiste interesse na inserção desta força jovem na marcha política. Se hoje alguém me perguntasse se possuo algum tipo de expectativa para o Brasil, diria que não. Cansei. Em tênue idade, estou cansado de me ver atado, sem poder de reação, pois sou pequeno demais. Mesmo que em aglomeração, não temos coesão, tampouco coerência em nossas reivindicações.
Somos meros coadjuvantes dentro de uma ótica democrática e republicana. Parece irônico isso, eis que certo estava de que estávamos inseridos num sistema político racional e bem distribuído. A força está conosco, mas não guardamos a dimensão disso.
A Constituição Federal em vigor traz no parágrafo único de seu artigo inaugural que “todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente”. Isto é, o mandato é a substância para que os eleitos ajam em nosso nome em concretude ao que temos como vontade coletiva. O viés do que vem a ser “interesse público” sempre é muito claro, porém, na prática, aquele enunciado constitucional não se aplica.
As instituições correspondem a uma ação entre amigos: toma lá, dá cá. São picadeiros com duzentos milhões de fantoches e marionetes. Estamos “sitiados”. O Brasil foi distribuído em lotes, poucos lotes.
Esta empiria me leva ao sentimento desprovido de boas expectativas. Hoje, carrego comigo a sensação de que “se o Brasil nada faz por mim, nada farei por ele”, e este é, sem dúvida, o maior problema. Quero apenas olhar por mim e por meus familiares. A realidade tem me feito pensar assim. Creio que muitos, sejam jovens, sejam de média idade, sejam idosos, apresentam este sintoma.
Perdemos progressivamente nossa ideologia, e o anseio de ver um Brasil melhor nos invade na razão idêntica que as lamas invadiram Mariana e região. As boas intenções transformam-se em individualismo, visto que direta ou indiretamente somos levados a isso. A mera percepção de que a República está a serviço dos gatunos, e a observância de que isto não muda, esvazia qualquer possibilidade de injetar ânimo de tempos melhores.
Alguns poucos entusiastas dizem que estamos a amadurecer a democracia, eis que demasiadamente recente, entretanto, na minha visão, estamos a apodrecê-la. O amadurecimento está intimamente ligado ao processo de cicatrização, todavia, ao que é perceptível há décadas, estamos com a ferida cada vez mais aberta.
O país de bandeira “Ordem e progresso” está a perder sua maior riqueza: seu povo e a esperança que nele habita.
A maior instituição brasileira – “o seu povo” – está em crise por razões que nos foram impostas.
Que os Poderes nos tragam uma ideologia para viver, pois, do contrário, a ruína vingará em definitivo!
As opiniões e o posicionamento do jornal estão registrados no Editorial. A Tribuna respeita a pluralidade de opiniões dos seus leitores. Esse espaço é para a livre circulação das ideias.