‘House of Cards’ e o cenário político
Gustavo Pereira, estudante de jornalismo
Atualmente vivemos em um contexto político e econômico conturbado, já que a cada dia surge um fato novo que envolve mais pessoas em um macrossistema de corrupção no alto escalão do país. Essa ebulição de delações, como as da Odebrecht e mais recentemente dos irmãos da JBS, Joesley e Wesley Batista, apenas traz à tona que vivemos em um local onde o que prevalece são os jogos de poder e principalmente o dinheiro.
A série “House of Cards”, criada pelo serviço de streaming Netflix, retrata bem a realidade política norte-americana, pois, através do protagonista Francis Underwood, é possível perceber o que uma pessoa é capaz de fazer para subir na vida, principalmente política. Mas, assim como tratado na série, o sistema político brasileiro possui as mesmas figuras. O que muda são apenas os personagens, já que, assim como na série, o que notamos são políticos que não legislam em prol do povo, mas sim de acordo com o que lhe é imposto por seu partido.
Assim como em “House of Cards”, o que vemos são pessoas que se utilizam de seus cargos políticos para fazerem acordos com empresários, jogos de interesses com jornalistas e até mesmo para agirem de forma errada, como através do recebimento de propina. No Brasil atual, é possível perceber que existe um grande guarda-chuva que abarca grande parte da classe política que prefere se corromper e agir de acordo com o que é imposto do que representar o povo, que é a função primária de um político.
As semelhanças entre o cenário político brasileiro atual e o da série da Netflix são ainda mais intensificadas à medida que em ambos podemos ver uma grande ligação entre a mídia e os fatos políticos, já que, com a espetacularização do caso geral, nota-se que ocorre um fenômeno de escolha sobre o que será notícia, e com isso é perceptível que, mesmo que várias figuras importantes do cenário político estejam com seus cargos sob ameaça, parece acontecer uma seleção de algumas peças, que acabam servindo como prato principal para o povo, no sentido de ver que a justiça vem sendo feita.
Por outro lado, os poderosos parecem ganhar tempo e sobrevida em seus cargos, uma vez que, mesmo em risco, continuam negando as acusações e, assim, prosseguem desempenhando seus cargos. Assim como em “House of Cards”, onde Peter Russo é escolhido por Francis Underwood para ser um dos seus pilares no congresso norte-americano e faz dele uma peça de xadrez, até que chega a hora de ele ser descartado por não servir mais, no Brasil, parece acontecer um fenômeno semelhante, evidenciado pelas delações, que, mesmo que possam não representar uma verdade absoluta, revelam diversas negociações políticas que ultrapassam os limites políticos e esbarram nos interesses pessoais.
Com isso, a impressão é de que vem sendo realizada uma limpa na classe política e um combate à corrupção no Brasil, que vão desde vereadores até os mais altos cargos, como a prisão do ex-prefeito do Rio de Janeiro Eduardo Paes e o afastamento de Eduardo Cunha, que era até então o presidente da Câmara.
Se por um lado Underwood busca a todo tempo manipular o Congresso para conseguir poder e aos poucos ir ganhando prestígio, no Brasil atual, as campanhas voltadas para o povo e a promessa de que o maior compromisso é com a população parecem ser parte de um grande teatro político, já que o que ocorre de fato nos bastidores do poder são pressões internas para que sejam aprovadas medidas provisórias e reformas e como forma de agradecimento pela aprovação desses projetos. O político sempre é beneficiado.
E, por outro lado, o povo se vê à mercê da classe política, que legisla segundo os seus interesses e não para representação da população, o que gera um descontrole na economia do país, e, mais do que isso, uma insegurança acerca do futuro político do Brasil.
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