Cirurgia faz Lula repensar

“Se governar com competência, firmeza, deixa de ser subordinado aos interesses dos que usam a política para satisfazer projetos pessoais.”


Por Paulo César de Oliveira, jornalista e diretor-geral da revista Viver Brasil

03/10/2023 às 07h00

Os amigos do presidente Lula – o Brasil inteiro, na verdade – torcem para que nestes dias em que vai ficar no Palácio da Alvorada, em convalescença das cirurgias, dos quadris e da pálpebra, o presidente faça uma mea-culpa de tudo que vem acontecendo com o seu governo, que vive numa bateção de cabeça sem fim.

Lula continua muito raivoso, buscando vingança contra os que considera responsáveis por tudo que passou, o que vem desestruturando sua administração. Lula se elegeu sem ter uma maioria no Congresso, sendo obrigado a negociar para ter uma certa tranquilidade e, nesta tarefa, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, vem dando uma inestimável colaboração para tentar aplacar os ânimos do Centrão, que quer abocanhar tudo.

O presidente, em seus dois primeiros mandatos, demonstrou toda sua genialidade política, conseguindo compor uma base de apoio, que não foi eleita com ele, conseguindo até eleger Dilma. Mas os tempos eram outros. O nível político não era tão baixo, e a radicalização da direita e dos aproveitadores não tinha chegado ao ponto que chegou. Ainda por cima, nesse terceiro mandato, Lula, talvez influenciado pela primeira-dama Janja, vem contrariando o Lula que todos conheciam e que agia com mais prudência e autossuficiência.

Na sua convalescença espera-se que reveja seus atos e que comece a governar. Que priorize o projeto Brasil – afinal, são tantos os problemas internos – esquecendo, ou postergando, o sonho de se transformar numa grande liderança mundial. Que entenda ter limitações pessoais – todos nós temos – e que precisa ter uma equipe competente, comprometida com um programa real de governo.

Se governar com competência, firmeza, deixa de ser subordinado aos interesses dos que usam a política para satisfazer projetos pessoais. Lula e sua turma precisam compreender que a mudança de postura é urgente. Que o governo não pode continuar refém de radicais políticos por conveniência, que fingem posicionamentos políticos para a obtenção de vantagens pessoais, que se transformam em votos nas urnas.

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