A epifania de Jesus
A Festa da Epifania, que celebramos amanhã, é uma festa tão importante no calendário litúrgico que as igrejas do Oriente concentram nela as celebrações que, no Ocidente, fazemos no Natal. Era celebrada em 6 de janeiro, mas a sagrada liturgia a transferiu para o domingo ocorrido entre 2 e 8 de janeiro. É uma festa muito querida do nosso povo, que a celebra com as folias de reis. Nelas, os foliões vão às casas de famílias venerar as imagens de Jesus Menino nos presépios.
No Evangelho segundo Mateus (2, 1-12), os magos avistaram uma estrela que os guiou até Belém, vindos do Oriente, para adorar Jesus. É de um simbolismo tão grande quanto a convocação feita pelos anjos aos pastores logo após o nascimento do menino. Os primeiros eram os mais excluídos de Israel. O anúncio a eles deixa claro para quem Jesus veio prioritariamente: aos pobres e excluídos.
Ao chamar os magos, “vindos do Oriente”, vem clara outra mensagem. Ao Leste e a Noroeste de Belém, fica o Mar Mediterrâneo. No Sudeste e no Sul, desertos inóspitos. No Oeste, o Rio Jordão e o Mar Morto. Dessa forma, a maneira usual de se chegar a Belém para estrangeiros era entrar pelo Oriente, mais a Nordeste. Vir do Oriente nessa época era o caminho de não judeus, o caminho do resto do mundo. Uma importante leitura dessa passagem nos diz que Jesus nasceu para todo o mundo.
Para os grupos mais ortodoxos de judeus, à época, apenas eles constituíam o “povo eleito”, excluindo da aliança e consequentemente da salvação o resto do mundo. Até judeus da diáspora eram vistos com maus olhos por grupos mais ortodoxos. Quando o Evangelista dá protagonismo a estrangeiros no evento salvífico, fica clara uma outra característica da encarnação: a nova aliança com Deus é para todo o mundo.
Esse relato de Mateus, que amanhã celebramos, é uma proclamação solene de algo que atinge a todos. Afirma que o amor de Deus se debruçou sobre todos nós. Vem afirmar, de forma solene, celebrativa, o que encontramos depois em vários episódios evangélicos: o reconhecimento de Deus em Jesus pelos samaritanos em Siquém, perto do Poço de Jacó (Jo 4, 39-42). Na mesma linha, encontramos o ato de fé do centurião romano (“Senhor, eu não sou digno…” Mt 8, 3-10). A salvação veio para todos nós. Alegres, cantemos com as folias de reis: “Que a semente seja tanta, que as mesas sejam fartas, que as casas sejam santas… Que o perdão seja sagrado… Que o homem seja livre… Que a Justiça sobreviva” (folclore mineiro, adaptado por Ivan Lins). O menino, para nós, nasceu.