Fora da política

Candidatos com discurso apolítico começam a ter visibilidade na opinião pública, já saturada das mazelas praticadas com aval do atual modelo


Por Tribuna

28/11/2017 às 07h30- Atualizada 28/11/2017 às 09h21

A eleição dos prefeitos de São Paulo, João Doria, e de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, foi a senha para apontar que, em 2018, lideranças consideradas outsiders, isto é, fora do universo da política, teriam espaço nos estados e, principalmente, na sucessão presidencial. A um ano do pleito, a profecia passa apenas por ensaios, mas já teve a primeira baixa. Embora tenha dito que pretende manter sua militância na busca de um projeto de país, o apresentador Luciano Huck, em artigo na “Folha de S. Paulo”, anunciou que não será candidato. De acordo com pesquisas, ele tem um alto prestígio junto à opinião pública – 63% -, o que não significa, necessariamente, número de votos, mas já é um indício.

As razões de Huck vão desde as suas outras prioridades ao desejo pessoal de continuar atuando na TV, o que faz com grande maestria, mas sua ascensão nos números revela o cansaço com a política tradicional que se explicita não apenas no Brasil mas também, e até, no primeiro mundo. A vitória de Donald Trump no Hemisfério Norte foi emblemática: os americanos também queriam, com todos os riscos, um outsider.

No caso brasileiro, a saída de Huck não encerra a safra, uma vez que outros nomes irão se apresentar, e até mesmo alguns políticos irão para os palanques com um discurso apolítico, ou pelo menos distante da política tradicional. Caberá ao eleitor discernir quem, de fato, está interessado em mudar o país daqueles que agem em nome próprio travestidos de novo.

Fica claro, porém, que a instância política tem que avaliar o que ora está em curso, pois não é de hoje que personagens fora do meio, ou que se apresentam assim, ganham espaço. O caso mais notório foi do ex-presidente Fernando Collor. Embora fosse, à época, governador de Alagoas, sua plataforma para chegar à Presidência foi amplamente contra a política tradicional. Era o caçador de marajás, revoltado com os altos salários pagos no serviço público e contra as mordomias nos governos.

Os casos recentes de Doria e Kalil têm certa semelhança com os fatos de 1989, pois ambos também se apresentaram como alguém fora do meio disposto a mudar as estruturas. Menos de um ano nas prefeituras, descobriram que o jogo é outro, mas, ainda assim, mostram que a política tradicional está ficando para trás.

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