Brasil em chamas
É necessário punir com rigor os responsáveis pelas queimadas, mas é hora, também, de se avaliar a readequação das forças de combate às chamas com equipamentos e maior efetivo
É grave a denúncia do secretário nacional de Proteção e Defesa Civil, Wolney Wolff, ao dizer que 99,9% dos incêndios registrados no estado de São Paulo, ao longo do último fim de semana, foram causados por ação humana. Destacou ainda que pelo menos 30 inquéritos já foram abertos junto à Polícia Federal para investigar possíveis incêndios criminosos na região. Na semana passada, a polícia de São Paulo prendeu dois suspeitos. Um deles admitiu ter recebido R$ 300 para provocar um incêndio.
Em confirmando as suspeitas, é fundamental o papel da Justiça em impor duras penas para os autores, a fim de garantir a sua punição e inibir outros que tenham a mesma intenção. Os acontecimentos dos últimos dias apontaram para um cenário preocupante em razão dos prejuízos causados e dos riscos à população. Pelo menos dois brigadistas morreram no trabalho de combate às chamas no interior paulista.
Os focos de incêndio pelo país afora também têm o viés pedagógico de apontar para as carências nas políticas de combate que são precárias no país mesmo se sabendo da sazonalidade das chamas. Com períodos os ciclos de estiagem cada vez mais longos, a tendência é de períodos mais críticos, que vão exigir a reformulação de processos e atualização dos equipamentos das corporações.
O enfrentamento se deu pela abnegação dos profissionais, mas constatou-se que as forças e brigadistas carecem, além dos equipamentos, de efetivo. E não é um problema que se acentua apenas nesse período. Não é de hoje que os quadros têm sido desidratados sem que haja uma justificativa formal. Tanto bombeiros quanto polícias Civil e Militar estão com carência de pessoal mesmo diante do aumento das ocorrências. Os concursos são esporádicos e insuficientes para cobrir as necessidades.
Até a próxima sexta-feira (30) estão abertas as inscrições para os interessados em participar do concurso para Bombeiro Militar de Minas Gerais. São oferecidas 329 vagas, distribuídas entre várias categorias: 291 para formação de soldados, 12 para formação de soldados especialistas, 21 para oficiais e 5 para oficiais na área da saúde. A remuneração para as posições varia de R$ 5.097,11 a R$ 11.037,15.
No entanto, as futuras contratações não chegam nem perto do efetivo ideal. A Lei prevê um efetivo e 7.999 militares, mas o CB conta, hoje, com 5.370 bombeiros, numa defasagem de quase três mil profissionais. Isto posto, quando ocorrem queimadas em série pelo estado afora, não há meios de atender a todas as chamadas.
Tal problema não se esgota em Minas Gerais. Há estados em situação mais crítica, o que aponta para a necessidade de uma discussão mais profunda sobre o tema. O país tem que se adequar a esses novos tempos e isso só será possível com investimentos.
Às imagens de São Paulo devem se somar o que ora ocorre na Amazônia, região que, de novo, enfrenta um preocupante ciclo de secas com aumento nos casos de incêndio, muitos deles, como apontou o secretário nacional de Proteção Ambiental, provocados pelo ser humano.
Para estes casos, a punição é um dado real, mas é fundamental ir atrás também dos mandantes, isto é, das partes interessadas, ora pelo viés econômico, ora pelo viés ideológico, em produzir tais cenários que, em muitas regiões, beiraram a tragédias.